Categoria: Música

BANDA LEELA – “O DIA EM QUE A TERRA PAROU”

Eu já escrevi sobre essa música do Raul, mas acho que vale a pena voltar a falar dela. O texto é do crítico musical do G1, o Mauro Ferreira:

A banda Leela reaviva em single o sonho de 1977 em que Raul Seixas previu a paralisação do mundo, tal como ela aconteceria neste ano de 2020 por conta da pandemia do covid-19.

Naquele ano de 1977, Raul Seixas (1945 – 1989) estreou na gravadora WEA – então recém-instalada no Brasil – com o álbum O dia em que a terra parou. O título do disco reproduziu o nome do filme norte-americano The day the earth stood still, longa-metragem de ficção científica estreado em 1951 nos Estados Unidos.

O maior sucesso deste álbum em que o cantor e compositor baiano abriu parceria com Cláudio Roberto – substituto de Paulo Coelho no posto de principal parceiro de Raul e coautor de todas as dez músicas do disco autoral – foi a canção Maluco beleza, cujo título se tornaria alcunha de Raul.

Contudo, a música-título O dia em que a terra parou também sobressaiu no repertório do álbum e ganhou novo relevo neste ano de 2020 por conta da letra premonitória, escrita há 43 anos com versos que contam sonho então irreal sobre a paralisação do mundo. Foi esse rock O dia em que a terra parou que a banda Leela regravou em single lançado na sexta-feira, 29 de maio.

Curiosamente, a gravação foi feita às vésperas do início da quarentena na cidade de São Paulo (SP), onde reside a banda de origem carioca. Em 17 de março, Bianca Jhordão (voz), Rodrigo O’Reilly Brandão (guitarra), Guilherme Dourado (baixo) e Fabiano Paz (bateria) estavam em estúdio quando, alertados sobre a necessidade iminente do isolamento social em São Paulo, tiveram a boa ideia de tocar o rock O dia em que a terra parou para entrar no clima da cidade naquele momento.

Embora inicie e termine em tempo de delicadeza, a abordagem da música O dia em que a terra parou pela Leela tem pegada roqueira que evoca a gravação original de Raul, mas com sutilezas próprias da banda, como a simulação de batida marcial pelo baterista Fabiano Paz durante os versos “O comandante não saiu para o quartel / Pois sabia que o soldado também não ‘tava lá”.

O vídeo abaixo, em que a banda Leela interpreta “O dia em que a terra parou”, tem a participação da Vivi Seixas – a morena tatuada, que finge cantar – filha do Raul. Além da Vivi (Vivian), ele deixou outras duas filhas – Simone e Scarlet – que vivem nos Estados Unidos desde crianças.

As duas são fruto dos relacionamentos amorosos de Raul com duas americanas. Já a Vivi, a mais nova, é fruto do relacionamento de Raul com a brasileira Angela Affonso Costa, a Kika Seixas, com quem ele juntou as escovas de dentes de 1980 a 1985. Quando Raul morreu, em 1989, Vivi tinha oito anos.

Aviso: o vídeo tem 05:27 minutos, mas a música só vai até os 04:40.

ZÉLIA DUNCAN APRESENTA ALDIR BLANC A REGINA DUARTE

Estou um tanto ocupado hoje, de modo que vou me dispensar de escrever sobre alguma música. Limitar-me-ei a postar o vídeo abaixo – que tem tudo a ver com música – onde a Zélia Duncan apresenta Aldir Blanc à ex-secretária nacional de Cultura, Regina Duarte.

Como se sabe, Regina – quando ainda era secretária – não emitiu um pio a respeito da morte de personagens importantes da nossa cultura, como Moraes Moreira, Rubem Fonseca e Aldir Blanc. Cobrada, ela disse, sobre Aldir Blanc, que não o conhecia. Por conta disso, passou a ser chamada, por alguns, de Regina Demarte.

A ex-viúva Porcina, que teria aberto mão de um salário de R$ 50 mil na Globo para assumir a Secretaria, foi humilhada pelo Bozo e, após um razoável período de namoro e noivado, foi obrigada a encerrar seu breve casamento com o psicopata que habita o Palácio.

Depois de desempenhar o pior papel de sua respeitável carreira, La Duarte ganhou, como compensação, um inexistente cargo – um presente, segundo ela – na falida Cinemateca, em São Paulo.

Vejam o vídeo da Zélia Duncan:

CLARICE FALCÃO MOSTRA COMO RESOLVER O PROBLEMA DA FALTA DE SEXO NA QUARENTENA

Deixemos o Bozzo e o coronavírus um pouco de lado. A notícia mais “importante” desta quarta-feira é do UOL:

Clarice Falcão tem a solução para quem está subindo as paredes na quarentena. Ao ser questionada, no Twitter, sobre “como as pessoas vão sair para dar na quarentena”, a cantora e atriz respondeu com uma bem-humorada foto de si mesma segurando um vibrador.

Um seguidor logo descobriu o preço do brinquedinho de luxo, em uma loja virtual: R$ 1.699. “Amiga, que negócio caro, haja streaming”, comentou.

Clarice concordou e, de quebra, revelou o nome do brinquedo. “Galera, sei que a Soraya é muito linda mas comprei há muitos anos e até para mim ela está fora do orçamento hoje em dia”. Em seguida, sugeriu uma loja virtual de acessórios eróticos, “com vibradores em várias faixas de preço”.

Uma seguidora postou uma foto do namorado de Clarice, o apresentador do Multishow Guilherme Guedes, e comentou: “A pessoa que dá para esse homem não pode aceitar um vibrador meia boca. Não”. Clarice respondeu: “Assino embaixo”.

No vídeo abaixo, a Clarice deixou o brinquedinho de lado para, em dueto com o cantor e compositor Alexandre Kassin, cantar “Coisinha Estúpida” um velho sucesso da Jovem Guarda. Gravada em 1967 pelos cantantes Leno e Lilian, essa música é uma versão de “Something Stupid”, que fez sucesso mundial nas vozes de Frank Sinatra e sua filha Nancy Sinatra.

Detalhe curioso: Leno e Lilian – que não formavam um casal – fizeram muito sucesso nos tempos da Jovem Guarda, mas, ao que parece, a separação da dupla não foi muito amigável. Em 1995, ao regravar outro sucesso da dupla – “Devolva-me” – para um projeto comemorativo aos 30 anos da Jovem Guarda, Lilian preferiu cantar com Ed Wilson.

Outro detalhe: assim como a Clarice, a Lilian parece não ter problemas com sexo. Em 2018, ao completar 70 anos, ela – que é casada com um senhor 12 anos mais novo – declarou, em uma entrevista, que “tenho uma vida sexual bacana”.  

Mais um detalhe: na regravação de Clarice Falcão e Kassin, os teclados ficaram por conta de Diogo Strausz, filho de Leno. Vamos ao vídeo:

 

NANA CAYMMI – “RESPOSTA AO TEMPO”

Duas das mais belas canções escritas pelo compositor Aldir Blanc, que faleceu há alguns dias, vítima da covid-19, são dois boleros, um ritmo que nasceu em Cuba e se espalhou pela América Latina nos anos 1940: “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá”, composta em parceria com João Bosco, e “Resposta ao Tempo”, que ele fez com o maestro Cristóvão Bastos.

No caso de “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá”, Aldir contou em entrevista que recebeu a melodia enviada por João Bosco e não estava conseguindo escrever uma letra para ela. Até que, numa noite, voltando de táxi para casa, com umas cajibrinas na cabeça, bateu a inspiração.

Aldir ficou apavorado, pois não tinha nem caneta, nem papel. Assim que chegou em casa, ele pegou um gravador e foi dizendo o que tinha na cabeça. Em poucos minutos a letra estava pronta. Elis Regina, ao gravar a canção, resolveu incluir, ao final da música, um trecho do famoso bolero “La Puerta”.

Já em “Resposta ao Tempo”, Aldir teve um parceiro anônimo. Ele contou que estava em um bar, quando um bêbado se aproximou e cantarolou uma música que começava dizendo “batidas no rego da bunda, é a …….”. Pronto! Aldir escreveu ali mesmo a letra de “Resposta ao Tempo”, começando com “batidas na porta da frente, é o tempo…”

Nana Caymmi, que gravou a música em 1998, disse, em certa ocasião, que “Resposta ao Tempo” não despertou, de início, muita a atenção. “Aí vem a Glória Perez e coloca essa mesma música que ninguém deu bola, que ninguém ouviu, mas ela coloca na novela num determinado personagem e a música vira sucesso, vira uma unanimidade”, destacou Nana.

A novela a que ela se refere é, na verdade, uma minissérie – “Hilda Furacão” – que a Globo exibiu entre maio e julho de 1998. E o personagem era a própria Hilda, uma jovem da alta sociedade de Belo Horizonte, que abandonou o noivo no altar e virou prostituta.

Hilda Furacão, a verdadeira, morreu em 2014, em Buenos Aires. Ela deixou a prostituição ao final dos anos 1950, quando se casou com o jogador de futebol Paulo Valentim, à época no Atlético Mineiro. Paulo encerrou a carreira no Boca Juniors, onde era ídolo, e resolveu continuar morando em Buenos Aires.

“Resposta ao Tempo” é, seguramente, o maior sucesso popular de Nana Caymmi e  uma das músicas mais pedidas no programa que apresento aos domingos na Regional FM, o Brasil & Cia.

MÃE DE CAZUZA HONRA A MEMÓRIA DO CANTOR E PROÍBE BOLSONARISTAS DE USAREM MÚSICA DELE

A Fundação Cazuza fez justiça à memória do cantor e compositor ao proibir que a música “Brasil” seja executada em atos da direita bolsonarista.

Cazuza não escondia de ninguém que tinha desprezo pela direita, conforme deixou claro em entrevista à apresentadora Marília Gabriela (aqui), em 1988.

Prezados Senhores,

Foi com grande pesar que tomamos conhecimento através de artigo no jornal Folha de São Paulo, do dia 03/05/2020 com o título “Bolsonaro Volta a apoiar ato contra o STF e Congresso e diz que Forças Armadas estão ao ‘lado do povo’”, que a música “BRASIL” foi uma das usadas na manifestação.

“Brasil” é uma música de grande importância na democracia brasileira e ser usada junto a gritos de ordem e cartazes que pedem o fim da democracia é inaceitável.

Com base nas prerrogativas dadas pelo artigo 29 da Lei de Direitos do Autor (Lei 9610/98), a Viva Cazuza desde logo torna pública a proibição da execução de qualquer obra ou intepretação de Cazuza em qualquer evento e/ou manifestação dessa natureza, ficando qualquer um que desrespeite esta proibição sujeito à aplicação das sanções civis e penais cabíveis em virtude de violação de direitos autorais.

Apoiamos a democracia e não atitudes violentas. Seguimos as orientações da OMS que recomenda que a população fique em casa, em isolamento, pensando no bem de todos, sendo solidários e trabalhando para diminuição do sofrimento e privação dos mais vulneráveis.
Atenciosamente,

Lucinha Araújo(Cazuza), George Israel e Nilo Romero

Se vivo fosse, Cazuza também repudiaria o uso de sua música por esses imbecis. E talvez dedicasse a essa gente careta o “Blues da Piedade”.

 

VÍTIMA DA COVID-19, SERESTEIRO CARLOS JOSÉ FALECE AOS 85 ANOS

A mulher de Carlos José, dona Vera, também foi infectada pela Covid e está internada. O texto é do crítico musical Mauro Ferreira, do G1:

Em 1957, o mundo perdeu um advogado e ganhou um cantor quando o paulistano Carlos José Ramos dos Santos (22 de setembro de 1934 – 9 de maio de 2020) foi eleito uma das revelações musicais daquele ano após aparição em programa de TV apresentado por Flávio Cavalcanti (1923 – 1987).

Iniciada ainda em 1957 com a edição de disco de 78 rotações por minuto com gravações de duas músicas então recentes, Foi a noite (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1956) e Ouça (Maysa, 1957), a carreira do cantor Carlos José decolou ao longo dos anos 1960, década em que a voz do intérprete passou a ser associada às serestas.

Essa conexão permaneceu fortalecida ao longo dos anos, inclusive pela predileção do cantor pelo samba-canção. Tanto que, ao morrer na cidade do Rio de Janeiro (RJ) na manhã deste sábado, 9 de maio, em decorrência de infecção pelo covid-19, Carlos José fica identificado como cantor seresteiro na história da música popular do Brasil.

A morte do cantor, aos 85 anos, foi confirmada ao colunista do G1 pela assessoria do hospital carioca São Francisco na Providência de Deus, onde Carlos José estava internado há uma semana, com problemas respiratórios decorrentes da infecção pelo coronavírus.

Também compositor, Carlos José tem origem paulistana, mas, com cinco anos de idade, veio morar na cidade do Rio de Janeiro (RJ), onde se radicou desde então. Após o período áureo dos anos 1960 e 1970, Carlos José se manteve em cena com menor visibilidade.

Em 2014, ano em que completou 80 anos, o cantor voltou ao disco com a gravação de álbum, Musa das canções, feito com o irmão violonista Luiz Claudio Ramos – conhecido pelo trabalho como arranjador e diretor musical de discos e shows de Chico Buarque – e editado em abril de 2015.

Chico Buarque, aliás, participou deste derradeiro disco de Carlos José, fazendo dueto com o cantor no samba-canção Odete (Herivelto Martins e Valdemar de Abreu, o Dunga, 1944).

Aos 85 anos, Carlos José sai de cena como uma voz identificada com o romantismo exacerbado de tempos idos.

Não existem muitos vídeos do Carlos José disponíveis no Youtube. No vídeo abaixo, ele canta “Guarânia da Saudade”, um de seus maiores sucessos, e fala sobre o autor da canção, Luiz Vieira, que faleceu em janeiro deste ano. 

“GRIPEZINHA” MATA ALDIR BLANC, UM DOS MAIORES LETRISTAS DA MPB

Nascido no Estácio, Aldir Blanc, viveu dos três aos onze anos em Vila Isabel, onde nasceu e viveu Noel Rosa. Em entrevista recente, Aldir disse que aprendeu muita coisa ouvindo Noel e confessou que chorava toda vez que ouvia “Último Desejo”.

Mas, Vila Isabel e a música não foram os únicos elos entre os dois compositores. Ambos nasceram de partos complicados. Noel nasceu a fórceps, o que lhe deixou marcas no rosto. Já Aldir, filho único, carregou a culpa da depressão pós-parto adquirida por sua mãe, tão difícil foi sua vinda ao mundo. 

E mais: foi num 04 de maio, dia em que Aldir partiu para o outro lado do mistério, que Noel deu seu último suspiro, há exatos 83 anos, em 1937. Noel tinha apenas 26 anos e foi vítima de uma tuberculose. Aldir, aos 73 anos, foi vítima de uma “gripezinha”.

No texto abaixo, do G1, está dito que Aldir abandonou o curso de medicina em 1973, para se dedicar à música. Na verdade, ele concluiu a medicina, especializando-se em psiquiatria. Trabalhou em um hospital e chegou a abrir um consultório, mas, em 1974, depois da morte de duas filhas gêmeas, desistiu da medicina.

Por sinal, Aldir fez o curso de medicina na mesma universidade federal do Rio de Janeiro em que se formou o médico jalesense José Favaron. Aldir estava dois ou três anos à frente de Favaron e se formou primeiro, em 1970. Hoje, a universidade é conhecida como Unirio. 

Na mesma época, a universidade tinha entre seus alunos o então jogador de futebol Afonsinho (Botafogo e Santos) e o atual governador de Goiás, Ronaldo Caiado (ortopedista). Afonsinho foi o primeiro jogador profissional a conseguir o passe-livre na Justiça. A música “Meio Campo”, de Gilberto Gil, foi inspirada nele. 

Mas, vamos à notícia do G1:

O compositor e escritor Aldir Blanc, de 73 anos, morreu de Covid-19, na madrugada desta segunda-feira (4), no Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio.

Blanc é autor de vasta obra musical e literária, como “O Bêbado e a Equilibrista”, feita com João Bosco e eternizada na voz de Elis Regina.

No dia 10 de abril, o compositor deu entrada na CER do Leblon com infecção urinária e pneumonia, que evoluíram para um quadro de infecção generalizada.

Cinco dias depois, a partir de uma campanha de amigos e artistas para conseguir um leito na rede pública de saúde do Rio, Blanc foi transferido para o Hospital Pedro Ernesto.

Na unidade, chegou a apresentar sinais de melhoras, mas como seu estado era muito grave, foi mantido sedado o tempo inteiro.

Aldir Blanc deixa composições que marcaram a vida e a história dos brasileiros. O menino nascido no Estácio, Centro do Rio, era um observador das ruas, poeta da vida e da cidade. Captava a alma do subúrbio.

Virou também cronista e em suas histórias revelava paixões, como o bairro de Vila Isabel, onde passou a infância, o time Vasco da Gama, e o carnaval.

Blanc batizou também um dos mais tradicionais blocos do Rio, o “Simpatia é Quase Amor”, que desfila há anos em Ipanema, na Zona Sul.

Aldir Blanc Mendes nasceu no Rio de Janeiro, no dia 2 setembro de 1946. Em 1966, ingressou na Faculdade de Medicina, especializando-se em psiquiatria. Em 1973, abandonou o curso para dedicar-se exclusivamente à música, tornando-se um dos mais importantes compositores de Música Popular Brasileira (MPB).

Obs.: Aldir começou a compor em 1966, mesmo ano em que iniciou o curso de medicina, mas o primeiro sucesso – “Amigo é Pra Essas Coisas”, em parceria com Sílvio da Silva Júnior – foi composto em 1968 e gravado pelo MPB4 em 1969.

No vídeo, o MPB4, já sem o Ruy Faria, mas ainda com o falecido Magro, interpreta “Amigo é Pra Essas Coisas”:

LUIZA POSSI – “CIELITO LINDO”

Eu não sou de ver novelas, mas procuro sempre me informar sobre as trilhas sonoras das nossas telelágrimas, pois elas, na maioria das vezes, trazem novidades interessantes.

A trilha da novela “Salve-se quem puder” – folhetim que a Globo exibiu até março e interrompeu provisoriamente, por conta do coronavírus – traz como novidades duas músicas que não são nada novas.

A primeira é o samba “Beija-me”, que já tem 77 anos, e a segunda é “Cielito Lindo”, uma canção rancheira de 132 anos. A novidade – ou, digamos assim, o frescor – não está, evidentemente, nas canções, que já são bem velhinhas, mas nas interpretações das cantoras Ludmilla e Luiza Possi.

Coube a Ludmilla interpretar “Beija-me”, música dos compositores Roberto Martins e Mário Rossi, gravada originalmente por Cyro Monteiro em 1943, mas que muita gente, por desconhecimento, atribui a Zeca Pagodinho. A ligação de “Beija-me” ao nome de Zeca deve-se exatamente a outra novela – “O Profeta”, de 2006 – de cuja trilha sonora o samba cantado por ele foi um dos destaques.

Luiza Possi, de seu lado, interpreta com muita competência a mexicana “Cielito Lindo”, que, aqui no Brasil, virou marchinha de carnaval (“Está Chegando a Hora”). Composta em 1882 por Quirino Mendoza, essa canção se tornou praticamente um hino no México.

A música é tão importante para os mexicanos que, quando um restaurante lançou uma campanha publicitária que jogava com as palavras no verso “Ay, ay, ay, ay, canta y no llores”, transformando-a numa referência a um sorvete, isso acabou visto como um insulto à história e cultura mexicanas.

A campanha publicitária acabou sendo tirada do ar, mas a bem da verdade, aquela não foi a primeira vez que “Cielito Lindo” ganhou uma versão pouco patriótica. Na eleição presidencial chilena de 1920, por exemplo, os apoiadores do candidato Arturo Alessandri Palma adaptaram a letra da música e a utilizaram para fins políticos.

Quando se trata de uma canção que mexe com o patriotismo e unidade do México, nenhuma supera “Cielito Lindo”. Não por acaso, essa música acompanha a seleção mexicana sempre que ela está em campo, em qualquer parte do mundo.

No vídeo, Luiza cantando “Cielito Lindo”, que parece ser uma canção de amor, mas faz referências à história e às fundações da cultura mexicana.

OUVIDA NOS PANELAÇOS CONTRA BOLSONARO, “APESAR DE VOCÊ” COMPLETA 50 ANOS

Pessoalmente, penso que a música que mais se amolda à figura maléfica do Bozo é “Pessoa Nefasta”, do Gilberto Gil (“Tu, pessoa nefasta / Tens a aura da besta / Essa alma bissexta / Essa cara de cão”), mas, vez em quando, no programa que apresento na Regional FM, o Brasil & Cia,  me pedem para tocar “Apesar de Você” e dedicá-la ao ignorante que ocupa a presidência.

Composta há 50 anos, “Apesar de Você” – um protesto de Chico Buarque contra a ditadura militar – vem sendo ouvida durante os panelaços contra o sujeito que tem a aura da besta, a alma bissexta e a cara de cão. O texto é do Vítor Nuzzi, na RBA:

Panelaços e “barulhaços” contra Jair Bolsonaro tornaram-se frequentes nas últimas semanas, mas em algumas janelas o som que se ouviu foi de uma antiga canção, que vai completar 50 anos. Apesar de Você é a única composição que Chico Buarque assume como sendo verdadeiramente “de protesto”. Foi feita após o retorno dele ao Brasil, em março de 1970, depois de 14 meses morando na Itália.

A volta ocorreu na manhã de 20 de março, no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, quando Chico e Marieta Severo desembarcaram com a primeira filha, Silvia, de 11 meses, nos braços. “Volte fazendo barulho”, havia recomendado Vinícius de Moraes a um ainda receoso Chico, que havia deixado o Brasil pouco depois da edição do AI-5, em dezembro de 1968.

Barulho não faltou no Galeão. Estava lá a turma do MPB4, entre outros. A atriz Betty Faria levou uma bandeira do Fluminense – time de Chico–, e o flautista Altamiro Carrilho e seu grupo tocaram A Banda, sucesso de 1966.

Com o AI-5, a vigilância sobre os artistas ficaria ainda maior. Caetano Veloso e Gilberto Gil chegaram a ser presos, e se exilaram na Inglaterra. Geraldo Vandré fugiu e passou mais de quatro anos entre o Chile e a França. Chico não foi preso, “apenas” interrogado. E depois aconselhado a permanecer algum tempo fora do Brasil.

Mesmo voltando, Chico percebe que a situação do país não melhorou em nada. Pelo contrário: o governo Médici representa o auge da repressão. Ao mesmo tempo, há certa “euforia” com o chamado milagre econômico, porque a economia crescia – para a minoria. E logo chegaria a Copa do Mundo, com Pelé, Tostão, Gérson, Rivelino, Jair e companhia encantando e conquistando o tricampeonato mundial.

A cabeça do compositor foi montando os versos de sua única canção assumidamente “de protesto”, embora sempre alguém identifique mensagens veladas em outras canções. Já no final do ano, Apesar de Você foi enviada para apreciação da censura, como era obrigatório, e aí veio a surpresa: liberada (veja reprodução). A gravadora soltou um compacto que tinha Desalento do outro lado.

Foi um sucesso. Em pouco tempo, 100 mil cópias foram vendidas. Até que alguém se deu conta: Apesar de Você foi proibida e os discos, recolhidos. Só voltaria a ser gravada, e tocada, em 1978, na onda dos movimentos por anistia e pela volta da democracia.

Segundo Chico, o “você” não se refere especificamente ao ditador de plantão, no caso Médici, mas ao poder, ao chamado “sistema”. Tocada nas janelas, agora com o país sob o governo Bolsonaro, a música parece ter sido feita outro dia.

O vídeo abaixo é do 6º DVD da série “Samba Social Clube”, no qual vários artistas cantam sambas compostos por Chico Buarque de Hollanda. Coube ao ex-vocalista do Exaltasamba, Péricles, interpretar “Apesar de Você”:

 

MORAES MOREIRA – “MENINAS DO BRASIL”

A morte do cantor, compositor e instrumentista Moraes Moreira – que morreu dormindo na madrugada da segunda-feira, 13 – serviu de mote para críticas à secretária nacional de Cultura, Regina Duarte, e ao presidente Jair Bolsonaro, que não se manifestaram sobre o falecimento.

Regina, por sinal, desapareceu depois do “casamento” com o Bozo. Circula na internet um vídeo onde vários artistas perguntam “Regina, cadê você?”. A última vez que ela apareceu foi para apoiar o chefe em sua cruzada contra o isolamento social.

Do Bozo, não se pode esperar grande coisa. Calado sobre Moraes Moreira, ele foi às redes sociais durante a semana para defender o sertanejo Gustavo Lima, que estaria sendo investigado pelo Conar por aparecer bêbado em uma live.

Moraes Moreira – que tem cadeira na Academia Brasileira de Literatura de Cordel – mantinha-se em quarentena por causa da pandemia de coronavírus. Na madrugada de 17 de março, o cantor chegou a ensaiar um cordel sobre o tema, começando assim:

Eu temo o coronavírus
E zelo por minha vida
Mas tenho medo de tiros
Também de bala perdida
A nossa fé é a vacina
O professor que me ensina
É a minha própria lida

O ator Marcos Caruso, por exemplo, se disse triste e indignado pela omissão do governo federal em relação às mortes de Moraes Moreira e dos escritores Rubem Fonseca e Luiz Alfredo Garcia-Rosa, que também se finaram durante a semana.

Outro ator, Lúcio Mauro Filho, também protestou: “Agora que estamos todos em casa, o mínimo que podíamos esperar era uma palavra de pesar, de carinho para com as famílias desses brasileiros ilustres que acabaram de partir. Mas, desse governo não dá para esperar nada de humano”.

A falha de Regina é indesculpável. Já o Bozo…, bem, é provável que ele nunca tenha ouvido falar em Rubem Fonseca e Garcia-Rosa. Livros não são o forte do presidente, que pode ter lido, no máximo, um dos clássicos da Adelaide Carraro. Ou então o best-seller do coronel Ustra.

Já o Moraes Moreira ele deve conhecer, pero no mucho. Afinal, é sabido que o Bozo prefere artistas que cantam coisas de fácil entendimento, tipo Gustavo Lima e Amado Batista. Ele jamais entenderia, por exemplo, “Meninas do Brasil”, cuja letra, de Fausto Nilo, é tema frequente de questões em concursos e vestibulares.

“Meninas do Brasil”, que Moraes canta no vídeo abaixo, integrou a trilha da telelágrima “As Três Marias”, exibida pela Globo em 1980, com Maitê Proença, Glória Pires e Nádia Lippi, as três moçoilas lá de cima.

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