Categoria: Música

CAETANO, MORENO, ZECA E TOM VELOSO – “FORÇA ESTRANHA”

Sobre a música do vídeo – “Força Estranha”, de 1978 – uma das canções que Caetano Veloso compôs especialmente para Roberto Carlos, eu já postei algo aqui, de modo que não há muito que acrescentar.

Falarei sobre os filhos de Caetano Veloso – Moreno, Zeca e Tom – que cantam com o pai no show “Ofertório”. Moreno, nascido em 1972, é do casamento de Caetano com Andrea Gadelha, a Dedé, que durou quase 16 anos, de 1967 e 1983. Eles tiveram outra filha, Júlia, que nasceu prematura e faleceu alguns dias depois do parto, em 1979.

Já Zeca e Tom são filhos do segundo casamento, com Paula Lavigne, de quem Caetano se separou em 2004, mas voltou a namorar depois de alguns anos. Zeca é de 1992. Fiel da Igreja Universal, ele andava afastado da música e resistiu um pouco à ideia de participar de um show com o pai e os irmãos. Zeca não se considerava preparado.

Tom nasceu a 25 de janeiro de 1997, no dia de aniversário de Tom Jobim, e por isso não houve grandes dúvidas quanto ao seu nome. Em pequeno, Tom era apaixonado por futebol e não se interessava muito por música. Aos 7 anos, acompanhou o pai numa excursão pela Europa e foi aí que começou a gostar de música. Segundo Caetano, Tom é o melhor violonista da família.

Confiram a musicalidade da família Veloso cantando “Força Estranha”:

RAY CONIFF – “AQUARELA DO BRASIL”

Vejo no blog do Mauro Ferreira, jornalista e crítico musical, que “Aquarela do Brasil”, do mal-humorado Ary Barroso, é a música brasileira mais gravada de todos os tempos, com nada menos que 399 gravações ao longo de seus 81 anos.

A canção ufanista do mineiro Ary já foi interpretada por cantores de praticamente todas as partes do mundo. Frank Sinatra, por exemplo, gravou uma versão em inglês, em 1957, de “Aquarela do Brasil”, que foi a primeira música brasileira com mais de um milhão de execuções nas rádios americanas.

Diz a lenda que “Aquarela do Brasil” foi composta numa noite em que Ary Barroso ficou impedido de sair de casa, devido a uma forte tempestade. Naquela mesma noite chuvosa, ele compôs “Três Lágrimas”, outro de seus grandes sucessos.  

Lançada em 1939 pelo cantor Francisco Alves – o preferido de Ary – “Aquarela do Brasil” não fez sucesso logo de cara. O sucesso, na verdade, só veio depois que ela foi incluída em um filme dos estúdios Disney, em 1942.

A informação de que “Aquarela do Brasil” já tem 399 gravações é do ECAD, que divulgou, dia desses, a relação das 10 músicas mais gravadas. Ary Barroso não é, porém, o maioral, apesar de ter composto a primeira colocada da relação.

O maioral é Tom Jobim, que tem seis músicas na relação das dez mais gravadas: “Garota de Ipanema” (376 gravações), “Eu Sei Que Vou Te Amar” (257), “Wave” (238), “Corcovado” (228), “Chega de Saudade” (228) e “Desafinado” (216).

Completam a lista, “Carinhoso”, de Pixinguinha e Braguinha, a segunda colocada com 389 gravações, “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, com 304, e “Manhã de Carnaval”, de Luiz Bonfá e Antônio Maria, com 276.

Entre os intérpretes brasileiros de “Aquarela do Brasil” estão João Gilberto, Tom Jobim, Caetano Veloso, Tim Maia, Gal Costa, Erasmo Carlos, Adriana Calcanhoto, Daniela Mercury, João Bosco, Toquinho, Ney Matogrosso, Eduardo Dusek, Emílio Santiago e até o pagodeiro Alexandre Pires.

A gravação mais emblemática, porém, é a de Elis Regina. Gravada durante a ditadura militar, a música ganhou da Pimentinha uma interpretação meio que sombria, acompanhada por um coral que reproduzia os cantos dos povos indígenas. Se fosse nos tempos atuais, em que até livros de Machado de Assis estão sendo censurados, certamente que Elis daria uma interpretação ainda mais sombria ao clássico de Ary Barroso. 

No vídeo abaixo, a interpretação é da orquestra do maestro Ray Coniff. Acho que vou agradar dois amigos – o dentista Dario Mazzi e o comerciante Benedito Romildo Peresi – que são fãs do maestro. Por sinal, o Peresi tem uma filha, a professora Tamara, com o mesmo nome da filha do Ray Coniff, mas ele me disse que foi apenas uma agradável coincidência.

Eis o vídeo:

PAUL MCCARTNEY E STEVIE WONDER – “EBONY AND IVORY”

Na segunda-feira passada, 27, postei aqui no blog um vídeo com o compositor Tunai – que falecera no dia anterior – cantando “Frisson“, sua canção mais famosa, feita em parceria com o letrista Sérgio Natureza. Como foi dito naquele post, Natureza foi o parceiro mais frequente de Tunai.

Mas, ele teve outros parceiros, como Fernando Brant, Márcio Borges, Abel Silva e Milton Nascimento. Com este último, ele compôs, por exemplo, “Certas Canções”, lançada em 1987. Nela, o autor diz que, muitas vezes, se identifica tanto com algumas canções que até se pergunta “como não fui eu que fiz?“.

Uma dessas canções que Milton gostaria de ter feito é, certamente, “Ebony and Ivory”, de Paul McCartney e Stevie Wonder. Há quem diga que foi essa música – uma ode contra o racismo – que inspirou Milton a escrever os versos de “Certas Canções”.

O racismo, por sinal, é um tema muito presente na MPB. Em “Preconceito”, os autores (Marino Pinto e Wilson Batista) narram a desventura de um pretinho apaixonado por uma mulher que o considera “moreno demais”. Ele ainda argumenta que “o coração não tem cor”, mas, aparentemente, não conseguiu amolecer o coração da moça.

Melhor sorte teve outro pretinho em “O Neguinho e a Senhorita”, dos compositores Noel Rosa de Oliveira e Abelardo Silva, lançada em 1965. Nesse caso, o preconceito não era da Senhorita, mas da mãe dela, que, na canção, era chamada de Madame. Um trecho da música diz que “a madame tem preconceito de cor, mas não pode evitar esse amor…”.

Isso mesmo! Apesar da oposição da Madame, a Senhorita subiu o morro e foi morar com o Neguinho, que era compositor. E o que é mais interessante: a música foi inspirada em um caso real. O Neguinho era um tal Nonato, compositor do Salgueiro. Já a preconceituosa Madame era uma portuguesa de nome Maria Mariana.

O racismo é tema, também, de músicas sertanejas, como “Olhos de Luar“, da dupla Chrystian e Ralf, onde um fazendeiro malvado mata a própria filha que, depois de uma jornada de sexo em meio a um canavial, ficou grávida de um negro, empregado da fazenda, por quem ela tinha se apaixonado. “O fruto desse amor não pode ver a luz do dia”, amaldiçoou o fazendeiro racista.

Na música de Paul McCartney e Stevie Wonder, os compositores usam a imagem do teclado de um piano para mostrar que pretos e brancos podem conviver em harmonia. No vídeo, “Ebony and Ivory”, ou ébano e marfim, materiais usados para fazer as teclas do piano.

CANTOR E COMPOSITOR TUNAI FOI CREMADO HOJE NO RIO DE JANEIRO. CINZAS SERÃO LEVADAS PARA MINAS GERAIS

O cantor e compositor José Antonio de Freitas Mucci, conhecido na esfera musical pelo epíteto de Tunai, teve seu corpo cremado hoje, no Rio de Janeiro. As cinzas serão levadas para a cidade mineira de Ponte Nova, onde ele nasceu em 13 de novembro de 1950.

Tunai foi encontrado pela mulher dele ontem, por volta das seis horas da manhã, morto num sofá de sua casa. Ele não estava doente e morreu, provavelmente, dormindo, vítima de uma parada cardíaca.

Tunai era o irmão mais novo do também cantor e compositor João Bosco, mas pouca gente sabia disso porque ele nunca se utilizou do nome do irmão famoso para abrir portas. Curiosamente, a maioria das manchetes de ontem diziam: “Morreu Tunai, irmão de João Bosco”.

Poderiam dizer: “Morreu Tunai, compositor de Frisson”, sua canção mais famosa, composta em parceria com o letrista Sérgio Natureza. Por sinal, Natureza – seu principal parceiro – lhe foi apresentado por João Bosco, em 1977. Além de “Frisson”, Tunai deixa de herança pelo menos outras 60 canções gravadas.

Ele – como muitos outros compositores – foi projetado por Elis Regina, que incluiu a música “As Aparências Enganam” no disco “Essa Mulher”, gravado em 1979. Dizem os historiadores da MPB, que o repertório do disco já estava fechado quando Elis tomou conhecimento da composição de Tunai e Sérgio Natureza.

A Pimentinha ficou tão entusiasmada com a composição que resolveu tirar uma das músicas do disco, para incluir “As Aparências Enganam”. A música retirada foi “Velho Arvoredo” (Hélio Delmiro/Paulo César Pinheiro), incluída cinco anos depois em um disco póstumo de Elis – “Luz das Estrelas”, de 1984 – lançado quando ela já tinha partido para outro plano.

Fafá de Belém, a bem da verdade, foi a primeira a gravar Tunai e Sérgio Natureza. Em 1978, antes, portanto, da Elis, ela gravou “Se Eu Disser”, no disco “Banho de Cheiro” (esse aí do lado), mas a música passou despercebida. O grande sucesso do disco de Fafá foi “Dentro de Mim Mora Um Anjo”.

Fafá à parte, foi depois de Elis que Tunai ficou conhecido como compositor, sendo gravado por gente do primeiro time da MPB: Gal Costa, Simone, Nana Caymmi, Elba Ramalho, Joanna, Sandra de Sá, Ivete Sangalo, Zizi Possi, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Fagner, Emílio Santiago, Belchior, Roupa Nova, etc.”

No vídeo abaixo, Tunai canta “Frisson”. Lançada em 1984, em um disco do próprio compositor, a música invadiu as FMs e o coração do público. Em 1994, foi regravada por Ivete Sangalo, ainda na Banda Eva. “Frisson” já ganhou outras releituras, entre elas a de Elba Ramalho, que eu postei aqui no blog em 2011.

Em um dos versos de “Eternamente”, gravada por Gal Costa há 37 anos, Tunai e Sérgio Natureza dizem que “só mesmo o tempo vai poder provar a eternidade das canções”. Tunai se foi, mas algumas de suas músicas permanecerão vivas por muito tempo.

ROBERTA CAMPOS E VÍTOR KLEY – “FIQUE NA MINHA VIDA”

A cantora e compositora mineira Roberta Campos esteve em Jales na sexta-feira, 24, em visita à Rádio Nativa FM. Ela aparece na foto acima, ao lado da locutora Priscila – filha do meu amigo e ex-colega de BB, Celso Antônio dos Santos e da Vânia Ferreira – que comanda uma das atrações diárias da emissora, das 08:00 às 11:00 horas.

Mas, o que a Roberta Campos veio fazer em Jales? Na verdade, ela fez um tour pela região para divulgar seu mais recente trabalho, o single com a música “Fique na Minha Vida”, uma canção romântica composta por ela e lançada no final de 2019.

A música foi gravada em dueto com o cantor e compositor gaúcho Vítor Kley, que vem sendo requisitado para participações em discos alheios, desde que ganhou o público jovem com a canção autoral “O Sol”. Segundo Roberta, a sua vontade de convidar Vítor surgiu por achar que suas vozes combinariam bem.

A carreira de Roberta Campos decolou em 2010, quando ela lançou o álbum “Varrendo a Lua”, que teve nada menos que três músicas incluídas em trilhas sonoras de novelas. A mais conhecida delas, “De Janeiro a Janeiro”, em dueto com Nando Reis, integrou a trilha de duas telelágrimas, uma na Record e outra na Globo.

Em 2015, Roberta lançou o CD “Todo Caminho é Sorte”, que foi indicado ao Grammy Latino na categoria de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira. Entre canções inéditas, o disco tinha também uma regravação de “Casinha Branca” (aqui). Ela não ganhou o Grammy, mas…

Mas, em 2016, Roberta foi premiada com a escolha de uma das músicas do álbum – “Minha Felicidade” – como tema de abertura de “Sol Nascente”, novela da faixa das 18:00 horas, da Globo, o que aumentou, e muito, a visibilidade da cantora.

No vídeo abaixo, o novo trabalho. Confira você mesmo(a) se as vozes de Roberta e Vítor combinaram bem:

AS GALVÃO – “GUARÂNIA DA LUA NOVA”

É tarde, eu já vou indo, preciso ir embora… (Menino de Braçanã). E ele foi embora mesmo! Luiz Vieira, autor de clássicos da MPB, faleceu na quinta-feira, 16, aos 91 anos.

O texto é do jornalista e crítico musical Mauro Ferreira, no G1:

É natural associar o cantor e compositor pernambucano Luiz Rattes Vieira Filho (12 de outubro de 1928 – 16 de janeiro de 2020) à toada Menino de Braçanã – composta com Arnaldo Passos e lançada em 1953 – e sobretudo ao Prelúdio para ninar gente grande, canção que se tornou popularmente conhecida como Menino passarinho desde que foi lançada em disco em 1962 com repercussão nacional.

A associação está correta. Pautadas por ternura lírica que toca o coração sentimental do brasileiro, essas duas músicas identificam Luiz Vieira no imaginário nacional ao lado de Na asa do vento (parceria com João do Vale apresentada em 1956) e de Paz do meu amor, composição lançada em 1963 com subtítulo, Prelúdio nº 2, alusivo ao grande sucesso do compositor no ano anterior.

Contudo, Luiz Vieira construiu obra extensa no Rio de Janeiro (RJ), cidade para onde migrou ainda na infância, egresso de Caruaru (PE). Foi em hospital do Rio que o artista saiu de cena na manhã de quinta-feira, 16 de janeiro, aos 91 anos, em decorrência de problemas respiratórios.

Em que pesem as cerca de 300 músicas perpetuadas em discos por time de intérpretes que foi de A (de Alaíde Costa) a Z (de Zizi Possi), o compositor teria morrido completamente esquecido se não fosse a iniciativa do produtor Thiago Marques Luiz de orquestrar em 2018 um show coletivo para festejar os 90 anos do artista e entregar a Vieira as flores em vida.

Voz que ecoou primeiramente nos cabarés cariocas da década de 1940, Luiz Vieira se fez ouvir em seguida na era do rádio, inclusive nos bastidores das emissoras. A carreira de radialista foi desenvolvida paralelamente à trajetória como cantor e compositor, cujo auge aconteceu na primeira metade da década de 1960 por conta do sucesso de Prelúdio para ninar gente grande.

Tanto que a saída de cena do artista está sendo lamentada nas redes sociais com frases líricas como “Voa, menino passarinho”. Lirismo que faz sentido porque é pela “ternura tão antiga” e tão eterna da maior parte da sua obra que Luiz Vieira fica na história da música popular do Brasil.

O vídeo abaixo é do show coletivo – Luiz Vieira 90 Anos – citado pelo Mauro Ferreira. Nele, As Galvão – que, segundo especialistas, é a mais antiga dupla sertaneja em atividade – interpretam “Guarânia da Lua Nova”, uma das músicas mais conhecidas do compositor pernambucano.

As Galvão (do sucesso “Beijinho Doce”) iniciaram carreira em 1947 e eram conhecidas como Irmãs Galvão. A alteração no nome ocorreu em 2002, por influência da numerologia.  

NEY MATOGROSSO – “O QUE É QUE A BAIANA TEM”

Recém-chegado ao Rio de Janeiro, o baiano Dorival Caymmi percorria as rádios cariocas, no segundo semestre de 1938, para mostrar suas músicas, em busca do sucesso. E o sucesso chegou até antes do esperado.

Naquele mesmo ano, um americano radicado no Brasil preparava um filme musical chamado “Banana da Terra”, que mostraria alguns artistas brasileiros. Um deles era a Carmem Miranda, que cantaria duas músicas de Ary Barroso: “Na Baixa do Sapateiro” e “Boneca de Piche”.

Ocorre que, depois de tudo acertado e com filme já em andamento, Ary Barroso cismou que tinha vendido muito barato os direitos autorais de suas músicas e passou a exigir o dobro do que havia sido combinado.

O produtor americano não gostou das exigências de Barroso e determinou que fossem providenciadas outras duas músicas para Carmem cantar. Foi aí que entrou em cena o quase desconhecido Dorival Caymmi.

Uma pessoa ligada ao filme ouviu Dorival cantando “O Que é Que a Baiana Tem” na rádio Tupi e sugeriu a canção como substituta de “Na Baixa do Sapateiro”. Com o lançamento do filme, o sucesso da música de Caymmi, cantada por Carmem Miranda, foi imediato.

Segundo Caymmi, a música causou tamanho burburinho na imprensa que as edições de domingo dos jornais entraram na onda de debater o que seria o tal “balangandã”, citado no trecho “quem não tem balangandãs não vai ao Bonfim”.

Em entrevista de 1943, Dorival contou que “O Que é Que a Baiana Tem” foi inspirada “naquelas mulheres que se vestiam ao rigor da moda e saíam à rua para saracotear nos dias de festa”.

No vídeo, quem canta “O Que é Que a Baiana Tem” é o Ney Matogrosso:

ELIS REGINA – “O MESTRE-SALA DOS MARES”

Composto em 1975, por João Bosco e Aldir Blanc, o samba “O Mestre-Sala dos Mares” – imortalizado na voz da nossa “little pepper”, Elis Regina – homenageia um personagem que a história oficial tentou soterrar nos porões da memória nacional.

O homenageado é o almirante negro João Cândido, líder da chamada “Revolta da Chibata”, ocorrida em 1910. Filho de escravos, João nasceu em Encruzilhada, no Rio Grande do Sul, e, aos 15 anos, ingressou na Escola de Aprendizes Marinheiros de Porto Alegre.

A “Revolta da Chibata”, um movimento contra os maus tratos sofridos pelos marujos que trabalhavam em navios de guerra brasileiros, constantemente submetidos a castigos corporais, eclodiu no dia 22 de dezembro de 2010.

Mais de 2.300 homens – negros, na grande maioria – tomaram o comando dos navios e apontaram seus canhões para o Palácio do Catete, à época a sede do governo brasileiro. Além do fim das chibatadas, os revoltosos reivindicavam melhorias no soldo e diminuição da carga horária.

Com aquela quantidade de canhões apontados para sua residência oficial, o então presidente Hermes da Fonseca tratou de fechar um acordo que incluía uma anistia aos amotinados. Os marujos, confiantes de que o acordo seria cumprido, devolveram os navios aos seus comandantes, mas…

Mas, três dias depois, veio a traição: a anistia foi cancelada e muitos deles foram presos. Alguns teriam sido mortos e jogados ao mar. João Cândido e outros 17 líderes do movimento foram encarcerados na Ilha das Cobras, onde 16 deles morreram na noite de Natal, sufocados pela evaporação de uma mistura de cal e água.

Apenas João Cândido e outro marujo sobreviveram. Em depoimento, ele disse que os gritos de seus companheiros, naquela noite de Natal, jamais lhe saíram da cabeça. O capitão Marques da Rocha, o responsável pela prisão, foi absolvido. Melhor que isso: ele foi promovido e recebido em um jantar oferecido pelo presidente Hermes da Fonseca.

Em 1911, João Cândido foi internado como louco, no Hospital dos Alienados, e, em 1912, foi expulso da Marinha. Viveu uma vida pobre, porém digna, e, em 1969, já com 89 anos, faleceu vítima de câncer. Seu velório, ocorrido em pleno regime militar, foi vigiado por viaturas.

Seis anos depois de sua morte, João Cândido foi lembrado pelo samba de João Bosco e Aldir Blanc. E como ainda vivíamos o regime militar, a música foi censurada. Aldir teve que alterar alguns versos, mas, mesmo assim, a homenagem ao “Mestre-Sala dos Mares” permaneceu.

RUBEL – “ONTEM AO LUAR”

Estava pensando em postar um vídeo com o Arnaldo Antunes cantando “Velha Infância” com duas “patrícias” – a Carminho e a Manuela Azevedo – mas estou vendo o compridíssimo “O Irlandês” na Netflix e pretendo ver “Ben Hur” ainda hoje. De modo que, ao invés de gastar meu latim com Antunes & Cia, vou me limitar a reproduzir um texto do GGN, do Luís Nassif, sobre Catulo da Paixão Cearense e “Ontem ao Luar”:   

A melodia de “Ontem ao Luar” foi composta originalmente pelo flautista Pedro Alcântara(1866- ), em 1907. Inicialmente era uma polca e se chamava “Choro e Poesia”. Mais tarde(1913) recebeu a letra (à revelia do autor) de Catulo da Paixão Cearense(1863- 1946) e passou a se chamar “Ontem ao Luar”. A primeira gravação de “Ontem ao Luar”, em 1918, é de Vicente Celestino.

Curiosidades sobre Catulo: Era autodidata e aprendeu praticamente sozinho a tocar violão, os meandros da matemática, do português e do francês, chegando inclusive a fazer traduções de poetas franceses.

Já conhecido nas rodas de boemia foi convidado para uma festa na casa do Senador Gaspar da Silveira Martins, onde deixou todos impressionados com sua inteligência. A esposa do senador então contratou-o como professor dos filhos. Passou então a morar na residência do senador.

Apesar de muitos pensarem que Catulo é cearense (por causa do sobrenome), ele nasceu em São Luiz do Maranhão. Só aos 12 anos de idade mudou-se para o sertão do Ceará.

No bairro do Engenho de Dentro existe uma rua rebatizada em homenagem a Catulo. A antiga rua Francisco Méier (onde ele morou nos últimos anos de vida) passou a chamar-se Rua Catulo da Paixão Cearense. Em vários outros estados do país encontramos nomes de ruas em homenagem a Catulo.

A música durante vários anos trazia apenas Catulo como compositor. Em 1976, graças aos esforços de uma neta de Pedro de Alcântara, uma decisão judicial restabeleceu o nome de Pedro Alcântara como co-autor da composição.

“Ontem ao Luar” esteve presente nas trilhas das novelas “Nina” ( 1977-1978 / Altemar Dutra), “Senhora” (1975 / Paulo Tapajós), “A Sucessora” ( 1978-1979 / Fafá de Belém).

 

Em tempo: 1) Catulo da Paixão Cearense não morou em Dirce Reis, mas foi homenageado também no nosso vizinho município, onde uma das principais ruas leva o nome do compositor. Eu tentei descobrir qual foi o político dircense que teve a ideia, mas não consegui.

3) Apesar de longo, “O Irlandês” é muito bom, com atuações impagáveis de Robert de Niro e Al Pacino.

2) Como diria o Galvão Bueno, “Ontem ao Luar” também é tetra! Além de integrar a trilha sonora das três telelágrimas citadas pelo Nassif, ela agora está no remake de “Éramos Seis”. Na nova versão, “Ontem ao Luar” é cantada pelo cantor Rubel.

CAETANO VELOSO – “VOCÊ É LINDA”

A música “Você é Linda” foi gravada em 1983, no LP “Uns”, que Caetano Veloso considera um de seus melhores discos. Caetano considera, também, que a capa do disco é uma das mais representativas. Nela, o compositor baiano aparece ao lado de seus dois irmãos, Roberto e Rodrigo.

Além dos dois, Caetano tem cinco irmãs: Mabel, Clara, Irene, Nicinha e, é claro, Maria Bethânia. Esta última teria, por sinal, outro nome, que já tinha sido escolhido por dona Canô, mas, por insistência de Caetano – que, aos quatro anos, já era fã da valsa Maria Bethânia, de Capiba – acabou batizada como Maria Bethânia.

Voltando a “Você é Linda”, no livro “A Canção no Tempo”, Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello contam que essa música é consequência de um episódio ocorrido durante um show de Caetano, em Salvador.

Quando estava cantando “Lua e Estrela”, Caetano notou uma linda loura à beira do palco, fazendo sinais. No verso ‘quem é você, qual o seu nome?’, cantado em sua direção, ela respondeu, para surpresa de Caetano: ‘Cristina’. E no verso seguinte, ‘conta pra mim, diz como eu te encontro’, ela completou ‘Ondina’, justamente o bairro onde ele morava.

Dias depois, Caetano viu a moça do outro lado da rua e a chamou. Ela aproximou-se, mas, envergonhada, se afastou rapidamente sem olhar para trás. No dia seguinte, contudo, Cristina foi ver Caetano que, fascinado pela beleza da moça, compôs “Você é Linda”.

Em entrevista à revista Época, foi o próprio Caetano quem contou para quem fez a música: “Fiz para uma menina chamada Cristina, de quem eu gostei muito intensamente na Bahia, nos anos 80, e que morava defronte à minha casa, do outro lado da rua, em Ondina”.

Cristina Mandarino – que aparece ao lado de Caetano, na foto lá de cima – é o nome completo da musa que inspirou “Você é Linda” e, segundo o site Glamurama, continua sendo uma das baianas mais charmosas de Salvador.

No vídeo, Caetano canta “Você é Linda” no especial de Natal da Globo, de 2011, que teve também a participação de Gilberto Gil e Ivete Sangalo.

 

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