Categoria: Música

GUILHERME ARANTES – “MEU MUNDO E NADA MAIS”

Nascido em 28 de julho de 1953, o pianista, compositor e cantor Guilherme Arantes está completando 65 anos de idade neste sábado. Ele começou sua carreira, profissionalmente, em 1973, como tecladista e vocalista do grupo Moto Contínuo. Em 1975, Guilherme deixa o grupo e parte para a carreira solo, gravando seu primeiro disco em 1976.

De lá para cá, colecionou sucessos, cantados por ele mesmo ou por artistas como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Roberto Carlos, Gal Costa e Elis Regina, com quem ele manteve um rápido namoro. Nos anos 80, Guilherme Arantes colocou 12 músicas em primeiro lugar nas paradas de sucesso e bateu recorde de arrecadação de direitos autorais, superando artistas do primeiro time, como Chico Buarque e Gilberto Gil.

Em toda sua carreira, Guilherme Arantes já teve 27 músicas de sua autoria incluídas em trilhas sonoras de novelas. Em 1969, enquanto Neil Armstrong se preparava para deixar suas pegadas na Lua, Guilherme – àquela altura com apenas 16 anos – fazia “Meu Mundo e Nada Mais“, música que só foi gravada em 1976 para a trilha sonora de “Anjo Mau”.

Depois de aparecer na novela, a música não parou de tocar, catapultando Guilherme rumo ao sucesso. O próprio artista conta que, de início, as rádios só tocavam “Meu Mundo e Nada Mais” de madrugada, mas, depois de alguns dias, “viralizou” e tocava em todos os horários, em todas as emissoras.

Na novela, a música tocou 530 vezes, segundo contagem de Guilherme, que acompanhava a telelágrimas ao lado da avó, Iracema. “Foi um massacre”, avalia o compositor. No vídeo abaixo, uma das versões “ao vivo” mais recentes de “Meu Mundo e Nada Mais”:

CINCO ANOS SEM DOMINGUINHOS

Hoje, 23 de julho, faz cinco anos que o sanfoneiro, compositor e cantor Dominguinhos (José Domingos de Moraes), faleceu, vítima de um câncer no pulmão e de complicações cardiovasculares.

Ele nasceu em Garanhuns(PE), terra de outro brasileiro ilustre (e injustiçado!) em 1941, mesmo ano em que o doutor Euphly Jalles fincou suas botas por aqui, decidido a fundar esta cidade nem tão abençoada e tampouco bonita por natureza, mas de uma gente acolhedora.

Filho de um afinador de fole, Dominguinhos começou a tocar cedo, formando com dois irmãos um trio que se apresentava em feiras da cidade natal e em portas de hotéis, em troca de algum dinheiro. Em 1948, quando tinha apenas sete anos, Dominguinhos e irmãos tocaram na porta de um hotel onde estava hospedado Luiz Gonzaga, o rei do baião.

Lua ficou impressionado com o talento dos meninos e deu a eles seu endereço no Rio de Janeiro. Em 1954, com treze anos, Dominguinhos subiu em um pau-de-arara (assim como o outro brasileiro ilustre) e, depois de doze dias de viagem, chegou ao Rio de Janeiro.

No Rio, Luiz Gonzaga apadrinhou o moleque e o presenteou com uma sanfona. Por sugestão de um amigo, ele – que era conhecido na terra natal como Neném do Acordeon – passou a ser o Dominguinhos. Anos depois, casou-se com Anastácia, com quem compôs mais de 200 músicas (212, segundo meu amigo Luiz Carlos Seixas, o Bochecha).

Uma dessas 212 canções atende pelo nome de “Só Quero Um Xodó”. Essa música nasceu enquanto Dominguinhos e Anastácia caminhavam por uma rua de São Paulo. Ele começou a assoviar uma melodia que lhe veio à cabeça e, ao chegar em casa só estava faltando a letra, que a Anastácia escreveu em poucos minutos.

Em 1973, recém chegado de seu exílio londrino, Gilberto Gil ouviu “Só Quero Um Xodó” (que tinha sido gravada pela forrozeira Marinês) e gostou. Gil gravou a música em ritmo mais lento e a lançou em um compacto simples que tinha, no lado B, a música “Meio de Campo”, feita em homenagem ao jogador Afonsinho, do Botafogo.

Nascido em Marília e revelado pelo XV de Jaú, Afonsinho – que se formou em Medicina – fez sucesso no Botafogo, chegando a ser o capitão da equipe. Inteligente mas um tanto rebelde numa época em que rebeldias não eram bem vistas, ele acabou sendo “encostado” no Botafogo por – pasmem! – se negar a cortar a barba.

Claro que essa foi apenas a desculpa oficial. Na verdade, Afonsinho era um jogador politizado, que participava de movimentos estudantis e, por isso, incomodava o governo Médici, chegando a ser monitorado pela ditadura. 

Impedido de trabalhar, Afonsinho foi à Justiça e se tornou o primeiro jogador brasileiro a ganhar o direito ao passe-livre, daí a homenagem de Gil. Dono de seu próprio passe, ele foi para o Vasco e depois para o Santos – de Pelé, Edu e Alcindo – onde podia jogar barbudo e cabeludo. 

Deixemos, porém, Afonsinho de lado e voltemos ao Dominguinhos. No vídeo abaixo, Gil o convida para, juntos, cantarem “Só Quero Um Xodó”.

MARIA BETHÂNIA – “COMEÇARIA TUDO OUTRA VEZ”

Segundo levantamento do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), a música “Começaria Tudo Outra Vez” é uma das cinco canções mais executadas do compositor Gonzaguinha (Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior). As outras são “O que é, O que é“, “Lindo Lago do Amor“, “Mamão Com Mel” e “Maravida“.

Como se pode ver, clássicos como “Explode Coração” e “Sangrando” não estão na lista das cinco mais tocadas de Gonzaguinha, o que soa estranho, mas o Ecad é mesmo assim, meio estranho. De todo modo, “Começaria Tudo Outra Vez”, em suas várias interpretações, é uma das mais tocadas.

Uma dessas interpretações, a mais relevante talvez, está completando 40 anos. É a de Maria Bethânia, que foi gravada no disco “Pássaro da Manhã“. Antes, “Começaria Tudo Outra Vez” só tinha sido gravada pelo próprio autor, em 1977.

“Começaria Tudo Outra Vez” é um marco na carreira de Gonzaguinha, porque foi a primeira música da fase, digamos assim, mais romântica do compositor. Antes dela, Gonzaguinha era mais conhecido como autor de canções de protesto. Não por acaso, ele foi – ao lado de Chico Buarque e Taiguara – um dos compositores mais perseguidos pela censura da ditadura militar.   

Com o início da abertura, na segunda metade dos anos 70, Gonzaguinha abriu sua obra para outros segmentos, com canções ao mesmo tempo sofridas e agressivas, que focalizavam conflitos amorosos quase sempre irremediáveis, mas, algumas vezes amenizados pela possibilidade de um esperançoso recomeço. É o caso de “Começaria Tudo Outra Vez“.

É o caso, também, de “Explode Coração“, outra canção de Gonzaguinha, considerado o maior sucesso de Maria Bethânia. A música integra o LP “Álibi“, que, gravado por Bethânia um ano depois de “Começaria Tudo Outra Vez“, foi o segundo disco de uma cantora brasileira a ultrapassar a marca de um milhão de cópias vendidas. O primeiro foi “Claridade“, de Clara Nunes.

Escolhi o vídeo abaixo por ser um dos mais recentes. Nele, Bethânia canta um medley com “Começaria Tudo Outra Vez” e “Travessia“. E se tiverem tempo, ouçam também uma releitura de Cauby Peixoto (aqui), outro intérprete relevante da obra de Gonzaguinha.

DIOGO NOGUEIRA – “ESPELHO”

O jornalista e crítico musical Mauro Ferreira, do blog “Notas Musicais”, conta que o próximo disco do sambista Diogo Nogueira poderá contar com músicas inéditas compostas a partir de uma curiosa parceria com o pai dele, João Nogueira.

As músicas estariam sendo sopradas do além por João (ele morreu em 2000) ao filho, por meio de sonhos, conforme revelou o próprio Diogo na semana passada, em entrevista televisiva. Certamente que, para aqueles que, como eu, não acreditam na sobrevivência da alma após a morte do corpo e também não creem na comunicação entre pessoas vivas e mortas, tudo isso não passa de balela.

Existem, porém, outros exemplos conhecidos. O Mauro Ferreira citou o caso de “Yesterday”, a música mais tocada no planeta, que, segundo Paul McCartney, lhe veio em um sonho. Da mesma forma, deve-se a um sonho sonhado pelo guitarrista Keith Richards o famoso riff de “Satisfaction”, uma das músicas mais conhecidas do grupo Rolling Stones.

Se quisesse, Mauro poderia ter citado, também, o caso de “Avohai”, a música com a qual Zé Ramalho lembra o seu avô José Alves Ramalho. O termo “Avohai” nasceu de um sonho e significa avô e pai, homenageando o avô que criou Zé Ramalho depois da morte prematura do pai.

Segundo Zé Ramalho, no dia seguinte ao sonho a música lhe teria chegado pronta, soprada por entidades extraterrestres. Uma segunda versão diz, no entanto, que “Avohai” teria sido composta durante uma experiência alucinógena do Zé Ramalho com chá de cogumelo.

Mauro poderia ter citado, ainda, o principal parceiro de João Nogueira, o compositor Paulo César Pinheiro, um dos maiores do Brasil (em quantidade e qualidade), com mais de 2.000 músicas compostas e mais de 1.000 gravadas. A primeira – “Viagem”, em parceria com João de Aquino – foi composta quando ele tinha apenas 14 anos. 

Em uma entrevista, há alguns anos, Paulinho contou que algumas de suas canções lhe chegaram prontas. E no livro “História das Minhas Canções”, ele comenta que “Acontecem coisas estranhas comigo desde quando comecei a compor, ainda menino. Vejo pessoas, vultos, sombras. Escuto passos, palavras, cantos. (…)”.

Metafísica e crenças religiosas à parte, Diogo Nogueira canta, no vídeo abaixo, “Espelho”, uma canção, diríamos, premonitória. Apesar de ter sido lançada por João Nogueira em 1977, quatro anos antes de Diogo nascer, “Espelho”  parece ter sido escrita pelo filho, que – como diz um trecho da música – sonhou ser um “craque da pelota”. Diogo chegou a ser profissional, mas teve que abandonar a carreira por conta de uma contusão.

Em tempo: no vídeo, Diogo Nogueira é acompanhado por Paulo César Pinheiro e Teresa Cristina e pelos grupos Samba de Fato, Sururu na Roda e Casuarina.

CHEGA A SÃO PAULO MUSICAL SOBRE ZECA PAGODINHO. FILHO DE JALESENSE É UM DOS MÚSICOS DO ESPETÁCULO

Notícia publicada pelo UOL, nesta quarta-feira, 11, está destacando a chegada a São Paulo – depois de temporada de sucesso no Rio de Janeiro – do musical “Zeca Pagodinho – Uma História de Amor ao Samba”, que conta de forma irreverente a vida e obra de Jessé Gomes da Silva Filho, que todo mundo conhece como Zeca Pagodinho.

O detalhe é que entre os músicos da peça está o violonista Glauber Seixas (o primeiro à esquerda, na foto acima), filho do jalesense Luiz Carlos Seixas – radicado há anos em Ourinhos – e neto de um dos primeiros farmacêuticos de Jales, Bernardino Mendes Seixas.

Glauber – que é compositor e atua também na direção musical da gravação de CDs – vive no Rio de Janeiro desde 2007 e já atuou em shows com Maria Bethânia, Diogo Nogueira, Maurício Carrilho, Cristóvão Bastos, Gilberto Gil (ao lado) e outros. Paulo César Pinheiro, um dos maiores compositores do país, o considera um dos melhores violonistas da nova geração.

Ao jornal Biz, de Ourinhos, Glauber declarou que “participar de um musical é sempre um desafio. Ele ressaltou, também, que a participação no musical proporcionou conhecimento de detalhes da vida de Zeca. “Ele foi feirante, garçom, anotador de jogo do bicho…”, afirmou Glauber. De seu lado, Zeca diz que “eu já vi a peça três vezes e sempre me emociono”.

A estreia da peça, em São Paulo, está marcada para o próximo sábado, no Teatro Procópio Ferreira. O musical vai além de uma simples biografia. Ele retrata a vida de Zeca em dois atos, onde o artista é interpretado por dois atores diferentes.

No primeiro ato, Zeca é apresentado como um sujeito simples, de Xerém, apaixonado por samba. No segundo, ele encontra a fama, mas sem se esquecer de suas origens.

A notícia do UOL, completa, pode ser lida aqui.

“CHEGA DE SAUDADE”, MARCO INICIAL DA BOSSA NOVA, COMPLETA 60 ANOS

Ontem, 09 de julho, foi feriado no estado de São Paulo, mas, reparando bem, deveria ser feriado no Brasil inteiro. Afinal, foi num 09 de julho – e não de abril, o mês cruel – que Vinícius de Moraes finou-se, aos 66 anos de idade, deixando um legado imorredouro à poesia e à música.

Legado que traz, entre outras coisas, “Chega de Saudade“, o marco zero da bossa nova, que nesta terça-feira, 10, está completando 60 anos de sua gravação mais significativa. A sexagenária canção de Tom e Vinícius, composta em 1956, foi gravada pela primeira vez por Elizeth Cardoso, no disco “Canção do Amor Demais”.

Com arranjos de Tom Jobim, o disco de Elizeth apresentou ao mundo a batida diferente do violão de João Gilberto, que, afora “Chega de Saudade”, acompanhou  “A Divina” em outras cinco canções.

A versão definitiva da música de Tom e Vinícius foi gravada, porém, pelo próprio João Gilberto em 10 de julho de 1958, dois meses após a gravação de Elizeth e poucos dias depois que Pelé, Garrincha e Didi – ao contrário de Neymar e Cia – encantaram o mundo, conquistando nossa primeira Copa.

A batida de João também encantou o mundo e elevou a nossa música ao mesmo nível em que Pelé e Garrincha puseram nosso futebol. A versão de João encantou também Gilberto Gil, àquela altura com 16 anos. Gil revelou hoje, no Twitter, que ao ouvir “Chega de Saudade” pela primeira vez em uma rádio de Salvador, ficou tão profundamente impressionado que, naquele momento, decidiu aprender a tocar violão.

“Chega de saudade” ficou tão marcada pela interpretação de João Gilberto, que até mesmo o Ministério da Cultura do incompetente e ilegítimo governo Temer deu sua mancada na manhã desta terça-feira, numa publicação no Twitter. Segundo O Globo, “a mensagem (ao lado), num desses erros efêmeros típicos das redes sociais, chegou a ficar pouco mais de meia hora no ar até ser corrigida”.

Com mais de 80 anos, João Gilberto, que é mais ouvido nos EUA que no Brasil, vive recluso e foi interditado judicialmente pela filha – a cantora Bebel Gilberto – por problemas de saúde e complicações financeiras.

A reclusão não é, no entanto, novidade na vida dele. Antes de gravar “Chega de Saudade”, ele viveu cerca de dois anos com parentes em uma pequena cidade de Minas Gerais, mas, durante quase todo o tempo, permaneceu trancado em seu quarto, inventando os acordes do que seria a bossa nova.

No vídeo abaixo, Gal Costa canta “Chega de Saudade“:

MARIA BETHÂNIA – “FERA FERIDA”

Antigamente, tinha lá no Brasil & Cia – o programa que apresento aos domingos na Regional FM – um ouvinte que, pelo menos duas vezes por mês, pedia para ouvir a música “Amiga”, com o Roberto Carlos e a Maria Bethânia.

Quando lançou seu LP de 1982 – esse aí do lado – o Roberto Carlos imaginava que “Amiga”, uma música um tanto comprida (5 minutos e 20 segundos) seria o carro-chefe do disco, ou seja, aquela que tocaria nas rádios e puxaria as vendas. Não foi!

O público e as emissoras de rádio preferiram “Fera Ferida”, música que também tem mais de 5 minutos, mas com uma letra bem melhor. Para os críticos, “Fera Ferida” era a melhor composição do disco e uma das melhores da obra de Roberto e Erasmo Carlos.

Há quem diga que a participação de Roberto na letra foi muito maior que a do Erasmo. É que a música trata do rompimento traumático de um caso de amor e foi composta justamente em uma época em que o primeiro casamento do Rei, com Nice – Cleonice Rossi Braga (1940-1990) – tinha se desfeito.

Em 1987, “Fera Ferida” foi regravada por Caetano Veloso e, em 1993, foi a vez de Maria Bethânia regravá-la no CD “As Canções Que Você Fez Prá Mim”, totalmente dedicado às canções de Roberto e Erasmo. A versão de Bethânia foi tema de abertura de uma telenovela global, com o mesmo nome da música.

No vídeo abaixo, Maria Bethânia interpreta “Fera Ferida”, no show “Maricotinha”:

 

DIANA KRALL – “GAROTA DE IPANEMA”

Casada com o cantor britânico Elvis Costelo e mãe de gêmeos, a pianista e cantora canadense Diana Krall já esteve no Brasil quatro ou cinco vezes e até já tentou cantar em português (veja aqui). No vídeo lá de baixo, Diana canta “Garota de Ipanema“, que, na versão dela, em inglês, se chama “The Boy From Ipanema“. 

“Garota de Ipanema“, composta em 1962, é uma das músicas brasileiras mais regravadas e tocadas no mundo inteiro e, por incrível que pareça, uma das últimas criações da parceria Tom Jobim – Vinícius de Moraes.

Vinícius fez a letra inspirado por uma garota de quinze anos – Heloísa Eneida Pais Pinto que, depois de casada, ficou conhecida como Helô Pinheiro – que todos os dias passava em frente ao “Bar Veloso”, em direção a Ipanema. Por sinal, ele escreveu duas letras para Helô, mas descartou a primeira, que se chamava “A Menina Que Passa”.  

Segundo Vinícius, ele e Tom ficavam emudecidos enquanto, do posto de observação de ambos – uma mesa do bar, onde enxugavam algumas cervejinhas – apreciavam a linda visão proporcionada pela passagem de Heloísa. 

Ainda que emudecido, Tom – ao musicar o poema de Vinícius – compôs uma de suas mais originais melodias, alegre ao exaltar a beleza da moça, e triste ao lamentar a solidão do poeta.

Vejam o vídeo:

MERCEDES SOSA, CHICO, CAETANO, MILTON E GAL – “VOLVER A LOS 17”

“Volver a Los 17“, canção da compositora chilena Violeta Parra – que se suicidou em 1967, aos 50 anos, por causa de uma desilusão amorosa – foi um hino da esquerda latino americana nos penosos anos de chumbo que praticamente todo o continente conheceu.

A letra deixava claro que a canção tinha o sentido de luta, de encorajamento e de inconformismo. Por isso mesmo, “Volver a Los 17” permaneceu proscrita da programação das rádios chilenas durante a ditadura de Augusto Pinochet, junto com “Gracias a La Vida”, outro clássico de Violeta que, aqui no Brasil, mereceu uma regravação definitiva da Elis Regina.

Artista desde criança, Violeta Parra cantou em todos os cantos do Chile, pesquisando e apresentando a cultura dos povos pobres de seu país, seu modo de ver o mundo, suas tristezas, suas alegrias e seus sonhos. Chegou a dar aulas em universidades chilenas sobre cultura popular e participou ativamente da luta política do povo.

No vídeo abaixo, uma das inúmeras versões de “Volver a Los 17”, com Mercedes Sosa, Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento e Gal Costa. E uma versão mais recente, com Fagner e Ava Rocha, pode ser vista aqui.

TOM JOBIM, CHICO BUARQUE E TELMA COSTA – “EU TE AMO”

Na semana passada, por conta do “Dia dos Namorados” que ocorreria na terça-feira, 12, postei aqui no blog um vídeo de “A Noite do Meu Bem”, que é tida como a nossa música mais romântica.

Nos comentários, o amigo Ademar Amâncio, de Populina, lembrou que o tema do amor-romântico é o mais visitado na música de todo o planeta e, por conta disso, muitas vezes predominam os versos clichês, nos quais a dupla Sullivan & Massadas são expoentes.

O Ademar citou, em contrapartida, uma música – “Eu Te Amo”, parceria do Chico Buarque com o Tom Jobim – que trata do assunto (o amor, ou, no caso, o desamor) com versos nada clichês, muito pelo contrário.

Composta em 1980 para a trilha de um filme, “Eu Te Amo” fala da dor de uma separação com imagens líricas e versos inusitados. Chico começa dizendo à pessoa amada que “ao te conhecer dei pra sonhar, fiz tantos desvarios; rompi com o mundo, queimei meus navios”. Depois de dizer isso, ele pergunta inconformado “me diz pra onde é que ainda posso ir?”.

Gênio, Chico – que estará completando 74 anos na terça-feira, 19 – não escreve nada por acaso. O verso “queimei meus navios”, por exemplo, faz referência à impossibilidade de voltar atrás, baseado na história de Francisco Pizarro, conquistador do Peru, que costumava atear fogo às próprias embarcações para evitar que seus soldados fugissem.

“Eu Te Amo” não está entre as músicas mais populares do Chico, mas é, sem dúvida, uma das mais bonitas. Há alguns anos, o jornal gaúcho Zero Hora pediu a 10 jornalistas e críticos musicais que fizessem suas listas com as dez melhores canções do Chico. “Eu Te Amo”, incluída em seis listas, foi a segunda mais citada. A primeira foi “Construção”, com sete citações

No vídeo abaixo, gravado em 1984, Chico e Telma Costa – acompanhados pelo maestro Tom Jobim – interpretam “Eu Te Amo”. Telma Costa, a moça lá de cima, morreu prematuramente em 1989, dez dias antes de completar 36 anos e cinco anos depois de gravar seu único disco. Ela foi encontrada morta em um quarto de hotel e, segundo o laudo médico, teria sido fulminada por um ataque cardíaco.

 

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