“POEMA ERÓTICO” – CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

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Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu
desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança
incontestável pelo que me fizeste ontem.

A noite era quente e calma e eu estava em minha cama,
quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo
sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo
minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e
mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos lugares. Eu
adormeci.

Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em
vão. Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do
que entre nós ocorreu durante a noite.

Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te
esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e
força. Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só
descansarei quando vir sair o sangue quente do teu corpo.

Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito Filho da Puta!

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