Categoria: Música

FAFÁ DE BELÉM E FAGNER – “LUAR DO SERTÃO”

Catulo da Paixão Cearense foi um compositor e poeta tão importante que até mereceu virar nome de rua em Dirce Reis, uma homenagem, provavelmente, de algum vereador chegado a uma boemia. E mereceu também, uma “autobiografia”, recentemente lançada.

Apesar do nome (sim, Catulo da Paixão Cearense era o nome de batismo dele), Catulo nasceu foi em São Luís do Maranhão, em 1863, e viveu a maior parte de sua vida em uma casa de madeira, no Rio de Janeiro, onde morreu em 1943, pobre como convém a um boêmio. É bem verdade que, dos 10 aos 17 anos, ele morou no Ceará.

Se não tivesse feito mais nada – e ele fez muita coisa, como a imortal “Ontem ao Luar”, repaginada em 2000 pela Marisa Monte  – Catulo já mereceria ser lembrado para sempre por “Luar do Sertão”, uma de suas músicas mais regravada e considerada um hino sertanejo (do homem sertanejo, não da música sertaneja, bem entendido).

Não se sabe o ano em que “Luar do Sertão” foi composta. O que se sabe é que a primeira gravação é de 1914. Sabe-se, também, que a autoria da melodia é polêmica. Catulo morreu dizendo que ele fez música e letra, mas o violonista João Pernambuco jurava que a melodia era de sua autoria. E muita gente que conhecia os dois, incluindo Heitor Villa Lobos, dizia que a melodia era, realmente, de João Pernambuco.

Falemos, porém, da extensa letra que, com certeza, foi escrita por Catulo. Originalmente, “Luar do Sertão” possui doze estrofes, mas nunca ninguém ousou grava-la por inteiro. Na maioria das gravações, os artistas preferem cantar apenas as três ou quatro estrofes mais conhecidas.

Milton Nascimento, numa das mais belas interpretações de “Luar do Sertão”, canta apenas duas estrofes. Roberta Miranda, também em bela interpretação, canta quatro, incluindo uma estrofe menos conhecida – a 6ª – e uma das mais inspiradas:

Mas como é lindo ver depois,
Por entre o mato,
Deslizar, calmo o regato,
Transparente como um véu,
No leito azul das suas águas, murmurando,
Ir, por sua vez roubando,
As estrelas lá do céu !!!

No Youtube, é possível encontrar belas interpretações de “Luar do Sertão”, ao vivo, como as de Elba Ramalho e Jair Rodrigues. No vídeo abaixo, a interpretação de Fafá de Belém e Fagner, com quatro estrofes:

 

GAL COSTA, GILBERTO GIL E NANDO REIS – “PÉROLA NEGRA”

Luiz Melodia, o Negro Gato, não quis saber de esperar pelo cometa Nibiru e, em agosto deste ano, resolveu deixar este mundo cruel antes do choque fatal que, segundo algumas religiões, estava marcado para setembro (felizmente, o cometa parece ter tomado outro rumo).

Nascido em um berço do samba – o Estácio -, com nome e jeito de sambista, Melodia não era sambista. Ele fazia um gênero de música diferente, que continha influências do blues, do rock, do soul e do samba-canção. Isso tudo misturado gerou composições como “Pérola Negra“, uma canção de amor diferente, confessional, rude e instigante.

Composta em 1969, quando Melodia tinha apenas 18 anos, “Pérola Negra” recebeu, originalmente, o nome de “My Black“. Dois anos depois, por sugestão do poeta Waly Salomão, que apresentou Melodia a Gal Costa, a música passou a chamar-se “Pérola Negra”, sendo lançada pela cantora baiana em 1972, mesmo ano em que Maria Bethânia lançou “Estácio, Holly Estácio“.

Em agosto, quando Luiz Melodia morreu, Gal Costa fazia uma turnê por São Paulo, com o show “Trinca de Ases“, ao lado de Gilberto Gil e do ex-titã Nando Reis. Os três resolveram, então, homenagear Melodia com a inclusão de “Pérola Negra” no roteiro do show. É isso que mostra o vídeo abaixo: 

LYSIA CONDÉ – “FLOR AMOROSA”

O meu amigo Tinhoso sugeriu o vídeo em que o Fagner ostenta um óculos pra lá de fashion e canta duas músicas do falecido cantor/compositor/ator Antonio Marcos. O diabo é que o vídeo tem mais de dez minutos. Se o amigo leitor estiver com tempo, vale a pena conferir aqui.

Entre uma música e outra, Fagner conta como Antonio Marcos o ajudou no começo de sua carreira e fala da canção que fizeram em parceria (a segunda do vídeo, “Coração Americano“). O vídeo foi gravado durante evento de 2005,  organizado por Aretha Marcos para lembrar que, se estivesse vivo, o seu pai estaria completando, naquele ano, 60 primaveras. Antonio Marcos morreu  aos 46 anos, em 1992, vítima do alcoolismo.  

Aretha é uma das filhas de Antonio Marcos com a cantora Vanusa, a primeira das quatro esposas que ele teve. Uma das outras foi a atriz Débora Duarte, com quem Antonio Marcos contracenou em uma novela. Do casamento dos dois, nasceu a Paloma Duarte, também atriz. Além das quatro esposas, ele morou também com uma enteada do Roberto Carlos, com quem terminou seus dias.

Como cantor, o seu maior sucesso foi “O Homem de Nazaré”, mas é com a canção “Como Vai Você” – uma parceria com o irmão Mário Marcos – que ele é lembrado até hoje, como compositor. Uma das últimas regravações de “Como Vai Você” é da baiana Daniela Mercury. A veia poética, Antônio Marcos herdou da mãe, Eunice Barbosa, que publicou livros de poesia e teve músicas gravadas por Roberto Carlos. Dois dos maiores sucessos de Jessé – “Voa Liberdade” e “Solidão de Amigos” – foram escritos por dona Eunice.

Falemos agora de “Flor Amorosa”, música do flautista Joaquim Callado – provavelmente um parente distante do nosso ex-prefeito – composta em 1880 e gravada pela primeira vez em 1902. O detalhe é que a letra de “Flor Amorosa”, de autoria de Catulo da Paixão Cearense, foi escrita somente uns 25 anos depois. A primeira gravação de letra e música é de 1929.

Outro dado curioso é que “Flor Amorosa” – considerada a primeira composição de música popular urbana que fugia dos ritmos importados da Europa – foi a última música composta por Callado, que morreu em 1880, com apenas 31 anos. Ele foi o pioneiro na implantação e fixação do Choro como gênero musical genuinamente brasileiro e, por isso mesmo, é conhecido como o “Pai dos Chorões”.

No vídeo abaixo, uma graciosa interpretação de “Flor Amorosa”, com a cantora mineira Lysia Condé.

ZIZI POSSI E EDU LOBO – “PRÁ DIZER ADEUS”

“Prá Dizer Adeus” é, sem dúvida, uma das obras primas da MPB. Tom Jobim – que considerava Edu Lobo um de seus filhos musicais – a incluiu em uma lista das “dez músicas imperdíveis”. Tanto que o próprio Tom a regravou em 1981.

Composta por Edu (melodia) e Torquato Neto (letra), “Pra Dizer Adeus” foi lançada em 1966 por Maria Bethânia, num bolachão em que ela cantava também “Andança” (junto com Edu), e que eu quase furei de tanto botar para rodar no meu velho Grundig.

O escritor piauiense Torquato Neto, o autor da letra, foi um dos fundadores do movimento Tropicália. Amigo de Caetano, Gil, Bethânia, Nara Leão e outros grandes nomes da cultura brasileira, ele se destacava pela irreverência e rebeldia.

De tão rebelde que era, resolveu dizer adeus a esse mundo cruel um dia após completar 28 anos, em 1972. Depois de voltar de uma festa, trancou-se no banheiro e abriu o gás. Foi encontrado na manhã seguinte pela empregada da família.

Antes de abrir o gás, ele escreveu um bilhete, sem muitas vírgulas. Ei-lo:

“FICO. Não consigo acompanhar a marcha do progresso de minha mulher ou sou uma grande múmia que só pensa em múmias mesmo vivas e lindas feito a minha mulher na sua louca disparada para o progresso. Tenho saudades como os cariocas do tempo em que eu me sentia e achava que era um guia de cegos. Depois começaram a ver, e, enquanto me contorcia de dores, o cacho de banana caía. De modo Q FICO sossegado por aqui mesmo enquanto dure. Ana é uma SANTA de véu e grinalda com um palhaço empacotado ao lado. Não acredito em amor de múmias, e é por isso que eu FICO e vou ficando por causa deste amor. Pra mim chega! Vocês aí, peço o favor de não sacudirem demais o Thiago. Ele pode acordar”.

Thiago era o filho, àquela altura com dois anos de idade. Voltemos, porém, a “Pra Dizer Adeus”. Além de Bethânia e Tom Jobim, muitos outros artistas a gravaram, entre eles Elis Regina, Nana Caymmi (duas vezes) e Roberta Sá. Bethânia voltou a gravá-la em 2014 e, mais recentemente, foi a vez de Zizi Possi fazer sua releitura, com participação do Edu.

É o vídeo em que Zizi e Edu cantam juntos, no show “Cantos e Contos”, que pode ser visto abaixo:

ROBERTA CAMPOS – “CASINHA BRANCA”

Minha ex-colega de jornal A Tribuna, a Janete Fabiana – agora uma competente farmacêutica – é uma das pessoas que, de vez em quando, pede para ouvir a música “Casinha Branca“, no programa que apresento aos domingos, o Brasil & Cia, lá na Regional FM.

O detalhe é que ela faz questão de ouvir a versão do Gílson, que é a original, de 1976. Pessoalmente, prefiro a regravação da Maria Bethânia, do CD “Maricotinha ao Vivo“, de 2002. A interpretação da Maria Creuza, de 1991, também é bonita. Mas, a Janete prefere o Gílson.

Gílson Vieira da Silva, pode-se dizer, é um daqueles cantores de apenas um sucesso, feito o falecido piauiense João Só e sua “Menina da Ladeira“. Tanto que ficou conhecido como Gílson Casinha. Como compositor, porém, ele fez outras músicas interessantes. Duas delas foram gravadas pelo Emílio Santiago: “Lesões Corporais” e “Verdade Chinesa“.

É provável que a Janete vá continuar preferindo ouvir “Casinha Branca” com o Gílson, mas – moça aberta a novidades que ela é – aposto que vai gostar da releitura da mineira Roberta Campos, que pode ser ouvida no vídeo abaixo:

 

LUIZA POSSI – “SOMETHING”

O beatle George Harrison compôs “Something” em 1969, inspirado em sua então esposa, a modelo inglesa Pattie Boyd. O casamento não durou muito, mas a música…. Bem, a música é simplesmente a segunda mais regravada dos Beatles, perdendo apenas para “Yesterday“. 

Frank Sinatra – um dos que a regravaram – dizia que “Something” foi a mais bela canção de amor que ele cantou. Ela não foi, porém, a única música de sucesso inspirada em Pattie Boyd. Ela inspirou também o Eric Clapton a fazer “Layla“, canção que fala de um homem que se apaixonou perdidamente por uma mulher que o ama, mas não está disponível.

Quando ouviu “Layla” pela primeira vez, Pattie sabia que a mulher da música era ela. O problema: Eric Clapton e George Harrison eram amicíssimos. E Eric vivia, à época, com a irmã mais nova de Pattie, a Paula. Isso não impediu, no entanto, que, algum tempo depois, Eric e Pattie juntassem as escovas de dentes.

No Brasil, temos algumas regravações interessantes de “Something“. Gilberto Gil e Milton Nascimento, por exemplo, estão entre os que gravaram a música de George, em bonito dueto. A gravação ao vivo de Paula Toller e os Britos também merece destaque.

E uma das últimas regravações de “Something” é a da ex-gordinha Luiza Possi, agora com 12 quilos a menos e em ótima forma, como se pode ver no antes e depois que ela publicou no Instagram. No vídeo abaixo, ela canta “Something“:

 

FAGNER E ZÉ RAMALHO – “JURA SECRETA / REVELAÇÃO”

De vez em quando, um ou outro comentarista me chama de parcial (e sou mesmo!) e antidemocrático. O vídeo abaixo é a prova definitiva de que, apesar de parcial, sou moço democrático: ele mostra dois coxinhas juramentados – o cearense Fagner e o paraibano Zé Ramalho – cantando um medley com “Jura Secreta” e “Revelação“, dois sucessos do primeiro.

“Revelação” (Clodô e Clésio) é de 1979. E “Jura Secreta“, composta em 1977, foi a primeira parceria de dois grandes compositores – Abel Silva e Sueli Costa – que, apesar de vizinhos em Ipanema, nunca tinham feito uma música juntos. A letra, de Abel Silva, nasceu primeiro.

A gravação original não é de Fagner, mas de Simone. Por sinal, foi uma gravação complicada, pois a Simone não gostou dos dois primeiros arranjos feitos para a música. A cantora baiana já estava quase desistindo de gravar “Jura Secreta“, mas, graças a uma intervenção de Gonzaguinha, resolveu fazer uma terceira tentativa, dessa vez acompanhada apenas pelo piano de Gilson Peranzetta.

Resultado: “Jura Secreta” acabou sendo o grande sucesso do álbum “Face a Face“, o que surpreendeu até os compositores. A leitura dos versos contraditórios de “Jura Secreta”, que afirmam negações e negam afirmações, seria até recomendada por psiquiatras para ajudar seus pacientes no processo de autoconhecimento.

Eis o vídeo com os dois coxinhas:

MARINA DE LA RIVA – “SAUDADE DA BAHIA”

Tenho um amigo que é fã da Marina De La Riva – e não é apenas pela bonita voz – mas ele que se aquiete, pois a moça é casada e já tem um filho de 21 anos. Nascida no Rio de Janeiro, Marina é filha de pai cubano e mãe brasileira de Araguari(MG).

Em 1959, em plena Revolução Cubana, os avós paternos e o pai de Marina se mandaram de Cuba, levando apenas as escovas de dentes e a roupa do corpo, e aportaram em Miami. As coisas, porém, não deram muito certo para eles nos States e a família De La Riva resolveu vir para o Brasil, onde chegou em 1964, quando vivíamos a nossa “Revolução”.

Falemos, porém, de Marina. Ela se apaixonou por música ouvindo os discos de MPB da mãe (Maysa entre eles) e os bolachões cubanos do pai. Em 2007, depois de algum tempo cantando em bares e restaurantes, ela lançou seu primeiro CD – com participação de Chico Buarque – que foi muito bem recebido pela crítica e razoavelmente bem vendido.

De lá para cá, já gravou outros três CD’s e um DVD, todos bem avaliados. O último deles, gravado em 2014, é todo dedicado ao repertório de Dorival Caymmi, uma homenagem ao centenário do compositor baiano. Uma das músicas do CD “Rainha do Mar”, é um clássico de Caymmi: “Saudade da Bahia”, composta em 1947, que a Marina interpreta no vídeo abaixo.

Em tempo: é claro que ela gravou também “Marina”, outro clássico de Caymmi.

NEY MATOGROSSO – “POEMA”

cazuza-e-ney-matogrossoGravada em 1999, no CD “Olhos de Farol”, a música “Poema” é uma das mais belas canções do repertório de Ney Matogrosso. A música fez sucesso no rádio, mas, como nossas emissoras não costumam dizer o nome dos autores, pouca gente sabe que a letra de “Poema” é de Cazuza.

Conta a lenda que ele compôs “Poema” quando tinha 17 anos e a entregou como um presente para a avó materna, por quem era apaixonado. Quando Cazuza morreu, sua mãe, Lucinha Araújo, começou a juntar todas as coisas que pertenciam ao filho para montar um acervo. Ela então pediu o poema com que seu filho tinha presenteado a avó, mas a coroa, alegando que se tratava de um presente, se recusou a entrega-lo.

Anos depois, quando a avó de Cazuza faleceu, Lucinha recebeu uma caixinha onde estava o poema. Ela gostou muito dos versos e resolveu entrega-los ao parceiro do filho, Frejat, para que ele colocasse uma melodia. Frejat passou uma noite em claro, mas conseguiu transformar o poema em música. E foi Frejat quem sugeriu que a canção fosse entregue a Ney Matogrosso, para que ele a gravasse.

No vídeo abaixo, Ney canta “Poema”:

OSWALDO MONTENEGRO E JOSÉ ALEXANDRE – “BANDOLINS”

Daqui a pouco, às 10:00 horas, estarei lá na Regional FM, onde apresento – até as 14:00 – o “Brasil & Cia“. Nos 22 anos do programa, a música mais solicitada do Oswaldo Montenegro é, sem dúvida, “A Lista“. E a segunda mais pedida, é “Bandolins“.

“Bandolins“, por sinal, foi o marco zero da carreira de sucesso do Oswaldo Montenegro. Lançada em 1980, a música foi um presente de aniversário que o compositor ofereceu a uma amiga bailarina, com a intenção de reanimá-la, pois a moça estava inconformada porque o namorado dela tinha viajado para a França e ela, menor de idade, foi impedida de acompanhá-lo.

Pra dizer a verdade, Montenegro também estava um pouco desanimado. Antes de “Bandolins“, ele já tinha lançado um LP que foi um completo fracasso e sua gravadora não estava disposta a lançar um segundo LP. Foi então que Oswaldo Montenegro, sem muita esperança, inscreveu “Bandolins” em um festival da TV Tupi. A música obteve o 3º lugar e catapultou a carreira do cantor/compositor.

Um dado curioso é que, embora as rádios citem apenas Montenegro quando tocam “Bandolins“, a música sempre foi cantada em dupla com o amigo José Alexandre, inclusive no festival. No vídeo abaixo, os dois amigos interpretam “Bandolins“:

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