Rita Lee, que morreu na noite da última segunda-feira (8), em casa, teve uma carreira marcada por grandes duetos.
Além de grupos como Mutantes e Tutti-Frutti, a cantora dividiu o palco com outros notáveis da música brasileira, como Elis Regina, Milton Nascimento, Cássia Eller, Titãs, Zélia Duncan, Paula Toller, Fernanda Takay, Pitty, Caetano Veloso, etc.
Em 2008, ela participou do “Especial Roberto Carlos”, da TV Globo, exibido na véspera do Natal daquele ano. A Rainha Rita Lee, acompanhada pelo marido, Roberto Carvalho, e o filho Beto Lee, cantou ao lado do Rei Roberto Carlos.
Juntos, eles encantaram o público com um pot-pourri que teve “Papai Me Empreste o Carro”, “Parei na Contramão”, “Flagra”, “Splish Splash”, “Mania de Você”, “Cama e Mesa”, “Baila Comigo”, “Garota do Roberto” e “É Papo Firme”. Relembre o encontro:
A cantora, compositora e multi-instrumentista Rita Lee nunca foi de se meter muito em política de maneira explicita.
Mesmo assim, ela foi uma das autoras mais censuradas pela ditadura, que considerava suas canções como um atentado à moral da época.
Um de seus versos mais famosos foi cortado e citado explicitamente em um comunicado assinado pela “técnica de censura” Laura Bastos.
O documento afirma:
“A letra musical em questão utiliza a expressão: ‘Me deixa de quatro no ato’, que, no contexto desenvolvido deixa margem para duplo sentido. Sendo assim, opino pela não liberação da mesma. Brasília, 12 de junho de 1980.”
O verso faz parte da canção “Lança Perfume”, de Rita Lee e Roberto de Carvalho. Mais adiante, ela foi liberada e se tornou um dos maiores sucessos, não só de Rita Lee, mas de toda a música popular brasileira.
Cabe aqui, no entanto, uma retificação ao parecer da censora, emprego abjeto que, graças à democracia, foi extinto. O verso “Me deixa de quatro no ato” não tem duplo sentido.
Tem um sentido só mesmo.
“Lança Perfume” foi gravada em 1980, no disco que se chamava simplesmente Rita Lee e tinha outras músicas que fizeram sucesso, como “Caso Sério” e “Baila Comigo”.
O disco acabou ficando conhecido como “Lança Perfume”, por causa do sucesso estrondoso da música, que falava de prazeres proibidos, mas, de certa forma foi uma homenagem ao pai de Rita, Charles Jones.
“A história é a seguinte: quando o Corinthians ganhava, meu pai distribuía lança perfume para a família toda, era uma farra em casa”. Corintiana como o pai, ela ganhou de Casagrande o “gol Rita Lee”, o terceiro na vitória do Corinthians sobre o São Paulo, na decisão do campeonato paulista de 1982.
O Brasil está de luto. Morreu, aos 75 anos, a eterna rainha do rock, Rita Lee, nessa segunda-feira (8/5), em casa, em São Paulo. Ela deixa o marido, Roberto de Carvalho, com quem teve três filhos: João, Antônio e Beto Lee. A informação foi confirmada pela família em uma nota oficial publicada no Instagram.
“Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, cercada de todo o amor de sua família como sempre desejou. O velório será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, na quarta-feira, dia 10, das 10h às 17h. De acordo com a vontade de Rita, seu corpo será cremado. A cerimônia será particular. Nesse momento de profunda tristeza, a família agradece o carinho e o amor de todos”, diz o anúncio.
O título de rainha ela rejeitava, por achar cafona, mas os fãs insistem em usar devido à falta de adjetivo ou de palavra que possa resumir sua potência e lendária contribuição para a música nacional e internacional.
Como um dos pilares da música brasileira, Rita Lee foi uma musicista completa: além de cantora, era compositora, multi-instrumentista, atriz, escritora e ativista; e ainda poliglota — fluente em português, inglês, francês, castelhano e italiano.
Ganhou mais de 20 prêmios ao longo da carreira, incluindo dois Grammys (ao qual foi indicada por sete vezes): em 2001, venceu com o Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa, por 3001; e, em 2022, pelo conjunto da obra, levou o Prêmio Excelência Musical da Academia Latina de Gravação.
Além de vários álbuns com Os Mutantes, banda que a consagrou, Rita Lee lançou 18 álbuns de estúdio solo e em parceria com Roberto, e seis ao vivo. Participou como atriz de novelas famosas como Top Model e Vamp, e em cerca de 10 filmes. Rita também revolucionou a cena feminina na música ao ser uma das poucas mulheres de sua época a tocar guitarra.
Ela é dona de vários sucessos que foram verdadeiras trilhas sonoras por décadas dos brasileiros, como Ovelha Negra, Doce Vampiro, Mania de Você, Amor e Sexo, Erva Venenosa (Poison Ivy), Pagu, O Amor em Pedaços, Agora só falta você, Minha Vida (In my life), Jardins da Babilônia, entre muitos outros hits históricos.
Vários álbuns também foram lançados em seu tributo, como Baby, Baby, de Lulu Santos (em 2017); e o musical Rita Lee Mora ao Lado, estrelado por Mel Lisboa (2014), celebrou sua trajetória.
No vídeo, Rita Lee canta a música – Ovelha Negra – que deixou o pai dela, seo Charles, irritado porque dava a entender que ele a havia expulsado de casa, o que não era verdade. “Eu disse a ele que era uma licença poética e ele deixou barato”, conta Rita em sua autobiografia.
Herivelto Martins foi um de nossos maiores compositores e também um dos mais polêmicos, por conta de seu agitado casamento com a cantora Dalva de Oliveira, com quem foi casado de 1936 a 1947. As brigas do casal – que teve dois filhos: Pery e Ubiratan – deram origem a diversos escândalos e movimentaram as colunas de fuxicos dos jornais da época.
Depois de separados, continuaram brigando, só que através da música, já que Herivelto nunca mais dirigiu a palavra a Dalva, embora esta fosse muito amiga de Lurdes Torelly, a mulher com quem Herivelto passou a viver depois da separação. A polêmica musical com a ex-esposa começou com “Caminhemos” e inclui outros clássicos da MPB.
“Cabelos Brancos” é um desses clássicos. Embora fosse carioca e tivesse vivido a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro, essa música foi composta em São Paulo, onde Herivelto veio passar uma temporada depois da separação.
Contam que, numa tarde, Herivelto fazia compras em uma quitanda próxima à casa do irmão, quando percebeu que duas mulheres estavam falando mal de sua ex-mulher, Dalva de Oliveira. A situação o deixou chateado, uma vez que ele desconfiou que elas falavam de Dalva porque tinham notado sua presença na quitanda.
Herivelto, então, pensou em interromper as duas senhoras e pedir que respeitassem a sua presença, que respeitassem seus cabelos brancos, embora naquela época ele ainda não tivesse um único fio de cabelo branco. Ao voltar para casa, ele compôs a primeira parte da música.
Algum tempo depois, de volta ao Rio de Janeiro, Herivelto mostrou para o amigo e parceiro Marino Pinto a parte da música que estava pronta e, depois de uma noite de boemia, os dois fizeram juntos a segunda parte de “Cabelos Brancos”.
No vídeo abaixo, “Cabelos Brancos” é interpretada pelo ex-Inimigos do Rei, Paulinho Moska e o grupo Casuarina:
A cantora Wanderléa acaba de gravar o álbum “Wanderléa Canta Choros“, que será lançado pelo Selo Sesc, em CD e nas plataformas de streaming no próximo dia 12.
Durante entrevista para a coluna de Mônica Bergamo, publicada no último sábado, ela finalmente revelou por que nunca namorou com Roberto ou Erasmo Carlos.
Em uma divertida conversa, a cantora contou que “ele era um gatinho, rolou uma paquera, mas foi só isso. O Erasmo também era um gato, e vivia fazendo juras de amor, mas não tinha condição, não dava para levar eles a sério, eu via os dois fazendo touca no camarim, acabava com qualquer clima”.
Ela lembrou ainda a reação de seu pai quando assinou contrato para sua primeira gravação:
“Enquanto eu era criança, ele achava bonitinho eu gostar de cantar, deixava que eu me apresentasse em programas de rádio”, lembra a cantora, que participou de um concurso infantil cujo prêmio era um contrato com a gravadora CBS, e ganhou.
“Na hora de assinar o contrato, meu pai ficou nervoso e decidiu proibir que eu cantasse porque ia atrapalhar os meus estudos”. Wanderléa parou de se apresentar, mas como tinha ganhado o concurso, estava contratada pela gravadora. “E uma hora eles começaram a procurar uma cantora adolescente para formar uma dupla com o Roberto Carlos, que estava se destacando como cantor de rock, ritmo que estava chegando no Brasil. E lembraram de mim.”
Ontem, 28, a minha neta mais nova – a Maria Rita, filha do Keko e da fotógrafa Lívia – fez aniversário, de modo que, a meu sentir, é oportuno que ouçamos a Maria Rita mais conhecida – a filha da Elis – cantando “Encontros e Despedidas”.
Na verdade, eu já escrevi aqui no blog, em julho de 2013, um pequeno texto sobre “Encontros e Despedidas”, acompanhado de um vídeo em que a Simone interpreta essa música, que é uma das mais belas da parceria Milton Nascimento e Fernando Brandt.
Considerando, porém, que isso já faz dez anos, quando minha neta Maria Rita nem pensava em aportar neste mundo conturbado, acho que um repeteco não fica mal.
A análise da letra dessa música permite, segundo os “entendidos”, várias interpretações. Os espíritas, por exemplo, garantem que “Encontros e Despedidas” é uma referência ao espiritismo de Chico Xavier, mineiro como os autores (Milton nasceu no Rio, mas é mineiro por adoção).
Para os defensores da tese espiritualista, a relação é clara: quem perdeu um ente querido fica querendo notícias do outro, na outra dimensão da vida, ou seja, do lado de lá. E quem partiu pede um carinho, um abraço, uma lembrança boa, uma prece de quem ficou.
Ao mencionar que a vida é uma estação e todos os dias é um vai-e-vem, os autores estariam, segundo os espíritas, querendo dizer que muitos renascem enquanto outros desencarnam.
Para quem escuta atentamente a letra, pode perceber que os versos falam em sentido literal sobre o curso natural dos encontros e desencontros que todos nós encaramos no dia-a-dia, mas, sem dúvida, a letra abre espaço para uma interpretação espiritual e pode ser lida como uma metáfora para a vida após a morte.
Embora muita gente diga que “Encontros e Despedidas” foi lançada por Milton Nascimento no álbum homônimo de 1985, na verdade a primeira gravação foi da Simone, no disco Amar, de 1981. A Cigarra ainda viria a regravar essa canção outras duas vezes, em 2005 (com Milton) e 2008 (com Zélia Duncan), sempre ao vivo.
O próprio Milton também a regravou em 2013, em dueto com a cantora portuguesa Carminho. E o cantor sueco Johan C. Schütz, conhecido por cantar Jazz e Bossa Nova, fez a sua própria versão de “Encontros e Despedidas” em seu idioma nativo, que acabou sendo chamada de “Möten och avsked”.
Não obstante todas essas versões, foi a regravação de Maria Rita que tornou a música mais conhecida do grande público. E por um motivo bem simples: a releitura de Maria Rita, de 2004, foi o tema de abertura da novela “Senhora do Destino”, lançada pela TV Globo em junho daquele ano, com grande sucesso junto aos noveleiros.
Vejamos, então, Maria Rita cantando “Encontros e Despedidas”:
Eu bem que procurei um vídeo com algum(a) cantor(a) interpretando “Súplica” ao vivo, mas não encontrei, embora essa valsa tenha sido gravada por muitos artistas, incluindo a nossa “Abelha Rainha”, Maria Bethânia.
Composta em 1938 por Otávio Gabus Mendes, José Marcílio e Deo, “Súplica” é considerada pelos entendidos como a primeira composição em versos brancos – ou seja, sem rimas – da nossa MPB. Aliás, a letra escrita por Otávio é considerada o ponto alto de “Súplica”
“Aço frio de um punhal foi seu amor pra mim/ Não crendo na verdade implorei, pedi/ As súplicas morreram sem eco, em vão/ Batendo nas paredes frias do apartamento”. Como se vê, a título de exemplo, não há nenhuma rima nesses versos de “Súplica”.
É possível que os prezado leitor ou a estimada leitora já tenha ouvido o sobrenome Gabus Mendes. Otávio era o pai do escritor de novelas Cassiano Gabus Mendes, que faleceu em 1993, e avô dos famosos atores Cássio Gabus Mendes e Tato Gabus Mendes.
Embora, como já se disse, tenha sido composta em 1938, “Súplica” só foi gravada dois anos depois, por Orlando Silva. Depois dele, muita gente a regravou, como Carlos José, Nelson Gonçalves, Zé Renato, Marcos Sacramento, Roberto Silva, Cauby Peixoto e a já citada Maria Bethânia.
Nos anos 80/90, um saudoso amigo, o poeta Francisco Valdo de Albuquerque, sempre que viajava a São Paulo, me trazia alguns discos. Em certa ocasião, o Valdo me trouxe um LP da cantora Eliete Negreiros – então considerada a musa da vanguarda paulista, mas que pouca gente conhecia aqui em Jales – me garantindo que se tratava de uma das melhores cantoras que ele já ouvira.
O disco, chamado “Canção Brasileira – Nossa Bela Alma”, de 1992, deu a Eliete, o prêmio de “Melhor Cantora” pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). E o bolachão, que eu ouvia cotidianamente, começava exatamente com a releitura de Eliete para “Súplica”, de modo que decorei a música.
Em 1996, Eliete gravou seu último disco e depois desapareceu. Desapareceu é modo de dizer. Eliete Eça Negreiros, na verdade, virou escritora e já escreveu três livros – todos sobre a música brasileira e seu amor a ela – o último deles chamado exatamente “Amor à Música”, lançado em 2022.
No vídeo abaixo, temos o áudio de Eliete Negreiros cantando “Súplica”:
Cynara Ribeiro de Sá Leite Faria, cantora do Quarteto em Cy, um dos grupos mais importantes da história da Música Popular Brasileira, faleceu na terça-feira (11) devido a uma insuficiência respiratória. A artista, de 78 anos, estava internada no Hospital Prontocor, no Rio de Janeiro, desde a semana passada após ter quebrado o fêmur em um acidente doméstico e ter passado por cirurgia.
Segundo a assessoria de imprensa do grupo, ela teve complicações no quadro de saúde logo após o procedimento médico, o que levou a uma pneumonia que a deixou debilitada. Em nota, o Quarteto lamentou a perda: “É com muito pesar que informamos que Cynara, integrante e fundadora do Quarteto em Cy, nos deixou hoje, dia 11, pela manhã. Agradecemos aos amigos, fãs, colegas virtuais, pelo carinho, amor e fraternidade”.
Cynara deixou três filhos, João, Irene e Francisco; quatro netos, Alice, Chiquinho, Tom e Vinícius; e duas irmãs em Cy, Cyva e Cilene. Em agradecimento, o grupo destacou sua incrível jornada musical e projetos, principalmente aqueles em prol da família, algo sagrado para ela.
A cantora ficou famosa por integrar o Quarteto em Cy nos anos 1960, juntamente com suas irmãs Cyva, Cylene e Cybele (1940-2014).
O grupo é considerado o maior e mais antigo quarteto vocal feminino do Brasil. As quatro irmãs nasceram em Ibirataia, na Bahia, e mudaram-se para o Rio de Janeiro para divulgar seu trabalho na música.
Elas tiveram apoio do poeta Vinícius de Moraes (1913-1980), que as apelidou de Baianinhas, sendo que o grupo ficou conhecido internacionalmente como The Girls From Bahia (As Garotas da Bahia, em tradução livre). O nome Quarteto em Cy foi uma sugestão do compositor Carlinhos Lyra.
Cynara defendeu, em 1968, no III FIC (Festival Internacional da Canção), ao lado de sua irmã Cybele (falecida em 2014), a canção “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque. A canção ficou em primeiro lugar, fato que provocou na ocasião vaias da plateia, pois parte do público preferia “Caminhando” (Pra não dizer que não falei das flores), composição engajada de Geraldo Vandré que fazia críticas aos militares em pleno auge da ditatura.
Não obstante a relevância da dupla Cynara & Cybele na era dos festivais, é como integrante do Quarteto em Cy que Cynara Faria ficará eternizada na história da música brasileira.
Obs.:Cynara foi a única componente do Quarteto em Cy a se casar com um integrante do MPB4 – Ruy Faria, com quem ela teve os três filhos retrocitados. Nos últimos tempos, em paralelo ao trabalho com o Quarteto em Cy, ela formou um quarteto vocal – o CyB4, foto acima – com a irmã Cyva, o filho Chico Faria e o ex-marido Ruy Faria, que faleceu em 2018, aos 80 anos.
No vídeo abaixo, o CyB4 canta “Nada Será Como Antes”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos:
Nesse Brasil sem memória, é provável que muita gente não se lembre do exemplo de solidariedade dado pelo cantor/compositor Zeca Pagodinho em janeiro de 2013, quando chuvas torrenciais castigaram o Rio de Janeiro, especialmente a região onde ele mora, em Duque de Caxias.
Zeca não se fez de omisso. Ele foi à luta, enfrentando a enxurrada e a lama das ruas, transportando vítimas do temporal, procurando pessoas desaparecidas, distribuindo cestas básicas para desabrigados e até acolhendo algumas pessoas em seu sítio, em Xerém.
Por coincidência, um dos primeiros sucessos de Zeca Pagodinho se chama exatamente “Lama nas Ruas”, com letra dele e melodia do saudoso Almir Guineto. Almir de Souza Serra era o nome verdadeiro do sambista que deixou este mundo cruel em maio de 2017. Guineto é uma derivação de seu apelido “magnata”, que virou “magneto” e depois “guineto”.
Num dia chuvoso de 1986, Zeca, ainda solteiro, passou boa parte da manhã paquerando uma moça e tentando convencê-la a sair com ele, mas a moça, sob o pretexto de que estava chovendo muito, não deu mole a Zeca.
À tarde, Almir Guineto apresentou a Zeca uma melodia e pediu que ele fizesse a letra. Inspirado nas coisas poéticas que tinha dito à moça de manhã, na tentativa de cativa-la, Zeca escreveu “Lama nas Ruas”. Foi a primeira parceria dos dois compositores.
“Lama nas Ruas” foi lançada por Almir ainda em 1986, no LP “Almir Guineto”, o terceiro de sua discografia e o mesmo em que ele lançou “Conselho”, a música pela qual será sempre lembrado. Zeca Pagodinho já gravou “Lama nas Ruas” duas ou três vezes. Beth Carvalho também a regravou, assim como a sambista Dorina.
Mais recentemente, em encontro que homenageou Zeca, foi a vez de Diogo Nogueira fazer sua releitura de “Lama nas Ruas”. É essa a versão que estamos postando no vídeo abaixo.
“Menina”, lançada por Paulinho Nogueira no LP “Paulinho Nogueira canta suas composições”, em 1970 – mesmo ano em que Chico Buarque lançou “Apesar de Você” e Paulinho da Viola compôs “Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida” – é mais uma daquelas músicas que nasce do acaso e vira um estrondoso sucesso.
Paulinho Nogueira (Paulo Artur Mendes Pupo Nogueira) fez outras belas canções, inclusive instrumentais (ele era um exímio violonista), mas será sempre lembrado por “Menina”, que teve versões na França e na Itália e fez parte da trilha sonora da novela “Irmãos Coragem”.
Uma bonita releitura de “Menina” é a do bolsonarista Netinho, de 2006, também integrante da trilha sonora de uma telelágrimas (“Tropicaliente”). A versão de Mart’nália, de 2011, é outra releitura muito bonita. Roberto Carlos também gravou a sua “Menina”, mas a menina do Rei não é a mesma do Paulinho Nogueira.
Era final de 1969 e Paulinho Nogueira preparava-se para gravar o primeiro disco em que ele interpretava somente composições de sua autoria, mas faltava uma música para fechar o álbum. Pressionado pela gravadora, que queria lançar o disco antes do Natal daquele ano, Paulinho lembrou-se de um tema instrumental que ele fez para um filme (“Meu nome é Tonho”)
Ele, então, aproveitou os compassos iniciais da música do filme como inspiração para a nova composição. A letra ele escreveu em menos de quinze minutos. O próprio Paulinho não levava muita fé em “Menina” porque ela foi feita muito às pressas, sem muito capricho, mas, contrariando suas expectativas, a música começou a tocar nas rádios e não parou mais.
Em certa ocasião, o apresentador do programa “Amigo da Madrugada”, da Rádio Globo, o famoso Adelzon Alves – que foi marido de Clara Nunes e responsável pelo início da carreira da Sabiá – tocou “Menina” 12 vezes seguidas, enquanto entrevistava Paulinho Nogueira.
Paulinho foi também professor de violão e inventor de um método que ensinava como tocar o instrumento (foto acima). Ele foi professor, por exemplo, de Toquinho. Na música “Choro Chorado pra Paulinho Nogueira” (letra de Vinícius de Moraes), Toquinho e Paulinho – ambos corintianos – relembram os tempos de aluno/professor, em Campinas.
Natural de Campinas, Paulinho faleceu em São Paulo, em 2003, de infarto. Antes, em 2002, ele gravou seu último disco, “Chico Buarque – Primeiras Composições”. Sobre esse álbum, o crítico musical Marco Antonio Barbosa disse que “infelizmente, o reconhecimento público de Paulinho Nogueira não está à altura de sua estatura como instrumentista – se estivesse, este álbum seria saudado com salvas de canhão”.
No vídeo abaixo, com cenas da segunda versão do filme “Lolita”, de 1997, Paulinho Nogueira canta “Menina”. O filme “Lolita” é baseado em um livro homônimo de Vladimir Nabokov, de 1955, que conta a história de um professor de meia idade que se casa com uma viúva de quem não gostava, apenas para ficar perto de seu objeto de desejo, a filha da viúva, uma adolescente de 12 anos. A primeira versão do filme é de 1962.