O CASO CARROÇA

De vez em quando, me perguntam sobre o “Caso Carroça”. Tem um amigo que, quase todos os domingos me liga lá na Regional FM, onde apresento o Brasil & Cia., e, prá me aporrinhar, se apresenta como sendo o Carroça. Por mera retaliação, domingo passado não coloquei prá tocar a música do Altemar Dutra que ele queria ouvir.

O “Caso Carroça”, se querem saber, é fruto de mais uma teimosia do prefeito Humberto Parini. Carlos Fernandes Nunes, o Carroça, e seu sócio, Orídio Rodrigues do Nascimento, foram condenados pela Justiça, juntamente com o prefeito e com este aprendiz de blogueiro, mas, na verdade, eles foram muito mais vítimas do que qualquer outra coisa nessa história.

Afinal, o Carroça sempre foi mecânico de carros e nunca havia manuseado uma colher de pedreiro, antes de se tornar empreiteiro de obras na Prefeitura de Jales. Aliás, até onde eu sei, ele nunca pediu prá ser empreiteiro. O que o Carroça queria mesmo – e ele achava que tinha direito a isso, pois, como petista, participou da campanha vitoriosa do Parini – era um cargo na administração municipal, que podia ser, inclusive, para trabalhar como mecânico. Mas, ao invés disso, ele foi, digamos assim, incentivado a abrir uma empresa. Como ele nunca havia trabalhado de pedreiro, saiu em busca de um sócio que fosse do ramo, e aí encontrou o Orídio.

Mas o pior veio depois: aberta a empreiteira e garantidos alguns serviços, Carroça e seu sócio foram, praticamente, obrigados a colocar duas outras pessoas na folha de pagamento da empresa. Uma delas, Luiz Tonon, também petista. A outra, um pedreiro chamado Humberto, xará e amigo do prefeito. O resultado não poderia ter sido mais desastroso, afinal, a empresa só poderia ter algum lucro, se os próprios donos trabalhassem, mas eles tiveram que repassar os serviços para os dois indicados do prefeito. Quando recebiam da Prefeitura, o dinheiro mal dava prá pagar os dois funcionários, os impostos e os direitos trabalhistas, o que fez com que a empresa fosse entrando no vermelho. 

Antes de irem ao Ministério Público, Carroça e Orídio procuraram várias vezes o prefeito Parini, mas nem foram atendidos. Na opinião do prefeito, que, além de dentista, quer ser também engenheiro, advogado e contador, os dois empresários não estariam tomando prejuízo algum. Eles apenas estariam sendo mal orientados pelo contador da empresa. Trocou-se então o contador por um outro da confiança do prefeito, mas o resultado foi o mesmo: prejuízo para Carroça e seu sócio. O resto, vocês já sabem.

O que pouca gente sabe é que, não contente com a lambança do “Caso Carroça”, o prefeito ainda teve coragem prá incentivar os dois ex-empregados da firma, o Luiz Tonon e o pedreiro Humberto, a também abrirem uma empresa. A nova empresa chegou a fazer uns dois ou três serviços para a Prefeitura, mas depois também deu com os burros n’água. Há uns dois anos, encontrei o Tonon pela cidade e ele me disse que precisava fechar a empresa, mas para isso, o coitado – que sobrevivia de vender salgadinhos de porta em porta – teria que dispor de uns R$ 2 mil.

Outro dia conto mais detalhes dessa história, que teve até lances engraçados, como o rapto de um cheque.

2 comentários

  • Cidinha Marques

    MEU DEUS!É SURREALISMO DEMAIS PARA UMA CIDADE TÃO PEQUENA!QUE PEQUENEZ DE QUEM DEVERIA DAR EXEMPLOS DE CONDUTA! NÃO É INVENCIONICE SUA, BLOGUEIRO?NÃO PODE HAVER TAMANHA SORDIDEZ E BURRICE NUM ÚNICO SER!DIGA QUE É UMA FÁBULA SUA…

  • cardoso

    Cidinha, certa vez perguntaram a Gabriel Garcia Marquez de onde tinha vindo a inspiração para o surrealismo fantástico de Macondo, a cidade imaginária de “Cem Anos de Solidão”, o maior clássico da literatura colombiana. E Garcia Marquez disse simplesmente que a realidade de muitas cidades sul-americanas superavam em muito todo o surrealismo de Macondo. Precisa dizer mais alguma coisa?

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