ARTIGO – “A NATURALIZAÇÃO DO ABSURDO”

Reproduzo, por concordar até com as vírgulas, o artigo da professora Ayne Regina Gonçalves Salviano publicado no domingo passado pelo Jornal de Jales:

O escritor brasileiro Augusto Branco afirmou, certa vez: “Quando eu perder a capacidade de indignar-me ante a hipocrisia e as injustiças deste mundo, enterre-me: por certo que já estou morto.” O jornalista Vladimir Herzog já havia se pronunciado com um pensamento parecido: “Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados.”

O advogado José Eduardo Cardozo declarou recentemente: “Aquele que perde a capacidade de se indignar diante da injustiça, perdeu sua humanidade.” Bem antes dele, o antropólogo Darcy Ribeiro ensinou: “Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca.”

Quatro pessoas diferentes, nascidas e criadas em locais diferentes, em épocas diferentes, com profissões diferentes, mas todas com o mesmo pensamento de muitos: o ser humano não pode perder a capacidade de se indignar diante do absurdo.

Entretanto e infelizmente, o que mais se vê atualmente é a naturalização da hipocrisia, das injustiças e das atrocidades. A ponto de, durante uma pandemia, quando mais de 1.000 brasileiros morrem por dia só de Covid-19 (lembrando que este número é subnotificado porque não há testes para todas as vítimas), parte da população só está preocupada em politizar o problema, desconstruir dados científicos e destruir a honra de profissionais competentes.

O discurso de ódio impera. Não há razão, há vociferação. Ganha-se, por enquanto, no grito, no “cala a boca”. O absurdo é tanto que leigo receita remédio – como se fosse médico – que não foi aprovado pelos órgãos competentes; eleitor, no exercício mais pleno de cidadania falha e não escolhe candidatos, só rejeita partidos; e a ditadura brasileira, seus torturados e centenas de mortos são banalizados em rede nacional por quem deveria preservar o conhecimento e a cultura.

Já não se trata mais de uma questão de desinformação ou ignorância, é uma opção de comportamento, talvez explicado apenas na Teoria da Personalidade Autoritária, de Adorno. O que importa se a grilagem, a extração ilegal de madeira e os garimpos colocam em risco a Amazônia? O que importa se dezenas de agrotóxicos (proibidos no mundo porque são comprovadamente danosos às pessoas e à natureza) estão sendo autorizados aqui? O que importa se milhares de estudantes sem aulas nas escolas públicas terão de fazer vestibular assim mesmo, sem chances? O que importa se um ser humano está no chão agonizando de fome? Então, caro leitor, você ainda está vivo ou já está morto? 

(Ayne Regina Gonçalves Salviano)

3 comentários

  • Marco Antonio Poletto

    Adorei o artigo.

  • Escandalizada

    Estou viva. Por isso que não leio este jornal nem morta. Jornal parcial que esconde os escândalos e os absurdos cometidos pelo parente do dono do jornal.

  • Eu

    WINSTON CHURCHILL já dizia em 1945, ( uma coisa boa para os homens com pouca educação é ler livros, todos que puderem, isso vai fazer com que olhem para o lado certo da vida, ( Nem todos) mas assim muitos não vão parar nas subidas.

Deixe um comentário para Eu Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *