A CRÔNICA DO PASCOALINO – “JABOR, O BOM”

O amigo Pascoalino S. Azords agora deu prá puxar o saco do Arnaldo Jabor. Leiam a crônica que foi publicada há alguns dias, no jornal O Debate, de Santa Cruz do Rio Pardo, a terra do Ricardo Madalena:

Jabor, o bom

(“Jabor, o melhor”, talvez fosse um título mais adequado, mas não resisti à oportunidade de homenagear um personagem de Ziraldo, Jeremias, o bom)

Arnaldo Jabor, quem diria, se tornou uma grife. Eu não entendo como a Academia Brasileira de Letras ainda não levou aquele bundão branco (de quem tomou muito Leite Ninho quando era criança) para ocupar uma de suas disputadas cadeiras.

Arnaldo Jabor hoje é certeza de casa lotada, em Salvador ou General Salgado. Mas nem sempre foi assim. Durante três décadas ele tentou o sucesso como cineasta de curta e longa metragem. Pois nem colocando Vera Fischer e Sonia Braga peladas num mesmo filme, com trilha sonora de Tom Jobim e Chico Buarque, Jabor conseguiu agradar tanta gente como hoje, sozinho e vestido. É impressionante: quanto mais economiza celulóide, mais sucesso faz esse Jabor!

Em 1991, ele estreou como cronista da Folha de S. Paulo, onde escreveu por 10 anos. Mas foi a partir dos comentários sarcásticos no Jornal da Globo que Jabor virou celebridade, como Xuxa, Angélica e Ana Maria Braga.

Em 2001, Arnaldo Jabor mudou-se para O Estado de S. Paulo, onde assina uma crônica semanal. De três em três anos, ele junta essas crônicas num livro que deve ser lido até em Irapé.

Se cantasse, Jabor faria shows nas grandes casas de espetáculo das capitais e feiras agropecuárias do interior. Como escreve, sua sina é outra: palestras, noites de autógrafo e certames literários. Arnaldo Jabor sabe cobrar por uma palestra de 50 minutos. Em Sorocaba, a meia entrada para estudante com carteirinha custava R$ 80,00 em abril deste ano. Os ingressos são quase todos vendidos com antecedência, pois ninguém quer perder a chance de parecer inteligente na sua cidade gastando menos de 100 reais.

Jabor é sucesso garantido, em Curitiba ou Timburi. Por ironia do destino, hoje ele ganha a vida falando em salas de cinema desativadas ou convertidas em igrejas, auditórios e teatros entregues às baratas. Cachê no bolso do blaser do Jabor, público satisfeito saindo do show direto para uma pizza – em Sorocaba ou Canitar. O Brasil é grande, pode haver alguma diferença de uma cidade para outra – na honestidade da pizza.

Mas, qual é mesmo o grande hit do Jabor? Qual é a “Festa no meu ap.” desse carioca que, pelo corte do cabelo, mais parece jogador da seleção argentina? O melhor número do Jabor, o seu texto mais espontâneo, acontece quando ele resolve

psicografar o Nelson Rodrigues – sem pagar direitos autorais, senão não seria tão inteligente como aparenta e ninguém duvida que seja.

“Estou de saco cheio; vou telefonar para o Nelson Rodrigues para ver se ele me dá alguma luz, lá do céu”. Esta é a primeira linha da crônica do Jabor para o jornal O Estado de S. Paulo de 2/10/2001.

“Nelson! – berrei… Há quanto tempo! Liguei pra você, mas o celular celeste disse que você estava fora da área”, escreveu Jabor um ano depois, no primeiro parágrafo da sua crônica de 11/6/2002.

Na sua última obra prima, Jabor brinca com o fato de Nelson Rodrigues ter sido rotulado como puxa saco do regime militar, com quem negociou, sem sucesso, a liberdade de seu filho preso nos porões da ditadura. “Outro dia, o Nelson Rodrigues baixou em mim. De vez em quando, eu o psicografo. É impressionante como escrevo rápido quando o espírito de Nelson me toma”. (O Estado de S. Paulo de 7/6/2011).

É de se perguntar: Arnaldo Jabor lotaria esses salões perfumados se não escrevesse para um grande jornal? Jabor em forma é uma orquestra capaz de embalar bailes de debutantes sem música. Jabor na ponta dos cascos é um bispo que lota estádios sem precisar posar de despachante de Deus. Mas é também o senhor de grandes, gigantescos silêncios.

Arnaldo Jabor é um cara sabido e petulante, o que não é pouco nos dias de hoje. É parceiro da Rita Lee e trabalha na Globo, como o Bozó, aquele personagem do Chico Anísio. Autor de cinco best sellers (mais do que Mário Palmério e Juan Rulfo publicaram, juntos) Jabor já pode até esnobar um convite da Academia, se igualando assim a ninguém menos que Carlos Drummond de Andrade.

Eu desconheço a biografia familiar desse jovem de 70 anos, bem nascido na cidade do Rio de Janeiro. Mas, certamente, ele também tem os seus motivos pessoais para silenciar diante da preferência declarada do jornal em que escreve por certas candidaturas durante o período eleitoral.

Nos anos ímpares, dispensado da tarefa de espinafrar o Lula, Arnaldo Jabor recarrega as baterias. Quando não tem eleição, ele flana de férias psicografando Nelson Rodrigues com um talento invejável. É lido e admirado de Sarutaiá a Santo Antonio do Aracanguá; o que, no Brasil, é para uns poucos – como Roberto Carlos, por exemplo.

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