A CRÔNICA DO PASCOALINO E A MÚSICA DO CHICO: “TUA CANTIGA”

Reproduzo, mais embaixo, a crônica “Tua Cantiga” do amigo Pascoalino S.Azords, publicada ontem no jornal Debate, de Santa Cruz do Rio Pardo. Como o título indica, ela trata da nova música do Chico, que pode ser ouvida no vídeo abaixo:

Nos dias que se seguiram à morte de Tom Jobim, em 1994, Chico Buarque declarou que não fazia mais sentido compor, sabendo que o seu maestro soberano não estaria mais aqui para ouvir. Tom não era a musa do Chico, mas a reação dele a cada nova música era o que importava para Chico. O primeiro disco dele que o Tom não ouviu, “As Cidades”, é de 1998 – um respeitável luto de quatro anos, portanto. Na sequência, vieram “Cambaio” (2001), “Carioca” (2006), “Chico” (2011), e “Caravanas”, previsto ainda para 2017. Por ter nos deixado, Tom Jobim perdeu, até aqui, mais de 60 novas músicas do Chico. Aposto um picolé como ele iria gostar de Tua Cantiga, uma das músicas do disco “Caravanas”, que a gravadora já disponibilizou na Internet.

Chico escreveu a letra de Tua Cantiga para uma melodia do pianista e arranjador Cristóvão Bastos. Os dois não compunham juntos desde Todo o Sentimento, de 1987. Para ver que já se passaram trinta anos você não precisa fazer conta de menos, basta ler as duas letras. Com 43 anos de idade, a pessoa costuma pensar que ainda tem uma vida inteira pela frente, que o que passou foi um aperitivo, um treino para o muito que a existência lhe reserva. “Depois de te perder / Te encontro com certeza / Talvez num tempo da delicadeza / Onde não diremos nada / Nada aconteceu / Apenas seguirei, como encantado / Ao lado teu”. É assim que termina a letra de Todo o Sentimento, escrita quando Chico estava cheio de certezas e ainda nem tinha cabelo branco.

Aos 73 anos de idade, aquela mesma pessoa já canta mais grave – sim, a voz também envelhece com o dono da voz. O homem que naquele disco de 1987 ainda chamava suas três filhas de “As minhas meninas”, nome de uma das músicas do disco, agora sabe que está a um passo de se tornar bisavô. Então, ainda que seja para aquela mulher com quem ele sonhava viver como encantado num tempo da delicadeza, ele diz: “E quando o nosso tempo passar / Quando eu não estiver mais aqui / Lembra de mim, ah! nega / Dessa cantiga que eu fiz pra ti”. É assim que termina Tua Cantiga, a última música do Chico.  

Antes desses versos, o homem de 73 anos diz coisas menos terminais. Como “Silentemente vou te deitar / Na cama que arrumei / Pisando em plumas toda manhã / Eu te despertarei”. Ou ainda “Se um desalmado te faz chorar / Deixa cair um lenço / Que eu te alcanço em qualquer lugar”. Mas, evidentemente, esse futuro é muito pouco provável. Mais improvável do que já era a difícil perspectiva de um tempo da delicadeza, trinta anos atrás.

Com disco novo na praça, Chico deverá percorrer o país numa série de shows, como sempre faz. Se você puder ir, vá. É longe? É caro? Compare com o que custa ir ver o Papa acenar da janela do Vaticano. Ver o Chico fica muito mais barato, e nem precisa tirar passaporte!

5 comentários

  • Vento no Litoral

    Gênio:

    Terei ciúme
    Até de mim
    No espelho, a te abraçar

  • Vento no Litoral

    Espiritualista???

    Se o teu vigia se alvoroçar
    E, estrada afora, te conduzir
    Basta soprar meu nome
    Com teu perfume
    Pra me atrair

  • O Chico Buarque foi sofisticando as suas harmonias ao longo do tempo,só pode ser influência de Tom Jobim.
    Se como letrista sempre foi perfeito,musicalmente atingiu o mesmo nível de excelência de seu maestro soberano.

  • Andei lendo algumas críticas-direitistas e moralista sobre a nova música do Chico,a narrativa do amor entre dois adúlteros causou uma certa repulsa a essa gente.Eu diria que o Chico Buarque é um compositor de canções, e não um autor de manual de bom comportamento.

  • FLAvio

    COOPER NHEIRO CARDOSINHO DESCULPE APENAS SUGESTAO

    PORQUE TU NUM FAIZ UM ESPECIAL A CADA DOMINGO

    COMEÇANDO COM NOSSO IDOLO DE TODOS OS TEMPOS

    FRANCISCO BUARQUE DE HOLANDA CONHECODO COMO

    CHICO BUARQUE

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