AS GALVÃO – “BEIJINHO DOCE”

Reproduzo parcialmente, como homenagem a Marilene Galvão (à esquerda na foto acima), texto do jornalista e crítico musical Mauro Ferreira, do G1

Em dezembro de 2020, o festival Vozes da melhor idade – produzido e dirigido por Thiago Marques Luiz – promoveu o último encontro em cena das irmãs que formaram a dupla sertaneja As Galvão.

Foi a derradeira aparição pública de Marilene Galvão (27 de abril de 1942 – 24 de agosto de 2022), cantora e instrumentista – hábil no manuseio da viola e do violão – de grande importância no Brasil sertanejo.

Seis meses depois, em junho de 2021, Mary Galvão anunciou oficialmente o fim da pioneira dupla. Quarta-feira, 24, às 14h30m, ocorreu a definitiva saída de cena de Marilene, morta aos 80 anos em hospital da cidade de São Paulo, em decorrência de complicações derivadas do mal de Alzheimer.

Quando as Irmãs Galvão entraram em cena, em 1947, mulheres não compunham e davam voz às próprias músicas no mercado sertanejo. Até porque quase não havia mulheres cantoras nesse gênero originalmente ruralista que começou a brotar oficialmente em 1929.

Antes das Irmãs Galvão, havia somente as Irmãs Castro, intérpretes originais de Beijinho doce (Nhô Pai, 1945), o standart caipira que ficou associado às vozes das Galvão na história da música brasileira.

Mary Galvão nasceu em Ourinhos (SP) em 1940. Marilene veio ao mundo dois anos depois em Palmital (SP). Mas a dupla foi criada em Sapesal (SP) em julho de 1947. E foi numa quarta cidade do interior de São Paulo, Paraguaçu Paulista (SP), que as irmãs entraram em cena pela primeira vez em emissora local de rádio, ainda crianças.

De rádio em rádio, as Irmãs Galvão chegaram ao disco. Em 1955, contratada pela gravadora RCA-Victor, a dupla gravou single de 78 rotações com as músicas Carinha de anjo e Rincão Guarani.

Repleta de toadas, modas de viola e rasqueados, a discografia das Irmãs Galvão seguiu regular até o fim dos anos 1980, década em que as irmãs emplacaram o sucesso No calor dos teus abraços (1975), de Cecílio Nena e Nicéas Dumont.

Presas a um passado glorioso, as Galvão festejaram em 2017 sete décadas em cena com os lançamentos do DVD Soberanas – 70 anos ao vivo e do documentário Eu e minha irmã – A trajetória das Irmãs Galvão, dirigido por Thiago Rosente.

Ambos eternizam a história de dupla que fica perpetuada na memória afetiva sertaneja, mesmo desfeita definitivamente ontem com a morte de Marilene Galvão, pioneira voz feminina que, de acordo com os códigos e as leis do mercado da época da artista, cantou a sofrência e também a doçura do Brasil rural.

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