BENITO DI PAULA – “RETALHOS DE CETIM”

Eu ainda nem tinha começado a pensar no vídeo musical que postaria neste sábado, quando recebi uma ligação do professor Paulo César Turazza, o flamenguista Ziquinho, que, como metade da cidade sabe, é fã de carteirinha do Benito di Paula.

Tão fã que batizou seu único filho com o nome de Benito. Infelizmente, Benito, o filho do Ziquinho faleceu há alguns anos em um acidente de moto. Benito, o original, ficou sabendo do falecimento do Benito jalesense e, em uma ocasião em que esteve em Santa Fé do Sul, chorou abraçado ao fã Ziquinho.

Em 2019, Benito di Paula também viveu o drama de perder um filho, mas, voltando ao telefonema do Ziquinho, o objetivo da ligação foi pedir que, neste sábado, eu o “presenteasse” com um post sobre o Benito.

Afinal de contas, hoje é o aniversário do Ziquinho e, por uma dessas coincidências inexplicáveis, é também o aniversário do Benito di Paula. E como um pedido do Ziquinho é uma ordem, peço licença ao professor José Antonio de Carvalho e ao meu oráculo Marco Antonio Polleto, para falar sobre o ídolo do nosso amigo flamenguista.

Nascido Uday Velozzo em Nova Friburgo(RJ), aos 28 de novembro de 1941, Benito está completando 79 anos neste sábado. O pai, um funcionário da Estação Leopoldina, tocava vários instrumentos (piano, bandolim, piano, etc), de modo que Uday e seus 12 irmãos cresceram em um ambiente musical. Pelo menos três deles – Ney, Jota e Ana Carolina Velozzo – também são músicos e compositores.

Uday começou a carreira tocando piano e cantando em bares e boates do Rio de Janeiro, mas foi em São Paulo que ele se tornou conhecido e ganhou o nome artístico de Benito di Paula. O primeiro disco gravado, em 1969, foi um compacto simples, com apenas duas músicas. O segundo, de 1970, também foi um compacto simples que tinha, num dos lados, “Retalhos de Cetim”.

O sucesso do segundo compacto convenceu a gravadora Copacabana a contratar Benito. Mas ao planejar o primeiro LP, a gravadora entendeu que Benito – ainda não muito conhecido – deveria gravar músicas de compositores conhecidos. Das 12 músicas do disco, lançado em 1971, apenas três eram dele.

Uma das músicas era a engajada “Apesar de Você”, do Chico Buarque, e, por conta dela, o disco de Benito foi censurado pelo regime militar. Além de ter o disco recolhido, Benito ainda teve que comparecer a um quartel para explicar a gravação de “Apesar de Você” e, por pouco, não foi preso.

Essa frustração não o acovardou. Três anos depois, casualmente, Benito cruzou, numa rua de São Paulo, com Geraldo Vandré – um Vandré delirante, transformado num trapo humano. A impressão dolorosa deu-lhe coragem para enfrentar novo risco. Compôs e gravou “Tributo a Um Rei Esquecido” em homenagem ao colega.

A censura, mais uma vez, proibiu tanto a divulgação, como a venda da música, por causa da letra escrita por Benito: “Ele foi um rei / E, brincou com a sorte /Hoje ele é nada / E, retrata a morte /Ele passou por mim, mudo e entristecido /Eu quis gritar seu nome / Não pude /Ele olhou pra parede. / Disse coisas lindas/ Disse um poema / Para um poste / Me veio lágrimas/ O que foi que fizeram com ele? / Não sei / Só sei que esse trapo, esse homem, foi um rei”.

Não obstante esses percalços iniciais por conta de “Apesar de Você” e “Tributo a Um Rei Esquecido” Benito foi em frente e, em 1979, gravou “A Banda do Povo”, uma composição sua em homenagem a Chico Buarque, de quem continuava fã. Mas, o início de carreira não foi, realmente, fácil para ele.

Benito introduziu o piano no samba e propôs um romantismo maior no ritmo que, futuramente, ficaria conhecido como samba-joia. A novidade foi rejeitada, na época, e só ganhou adeptos depois do sucesso de “Retalhos de Cetim”.

Consta que a composição “Argumento” (“Tá legal/Eu aceito o argumento/Mas não altere o samba tanto assim…”), do Paulinho da Viola, teria sido uma crítica ao samba-joia de Benito di Paula. Paulinho nunca confirmou isso publicamente, mas, de qualquer forma, a amizade de ambos – eles eram compadres – ficou temporariamente estremecida.

Benito nunca se considerou pianista. E seu maior sucesso, “Retalhos de Cetim”, foi, curiosamente, composto ao violão, quando ele ainda tocava nos bares, e, por algum inexplicável motivo, não foi incluída no primeiro disco do compositor, o compacto de 1969.

Incluída no segundo compacto, a música caiu de imediato no gosto popular e projetou o nome de Benito não apenas aqui no Brasil, mas também no exterior, onde “Retalhos de Cetim” ganhou gravações do guitarrista americano Charlie Byrd e da orquestra do maestro Paul Mauriat.

Muita coisa se poderia escrever sobre Benito, mas vou parando por aqui, não sem antes desejar um feliz aniversário a ele e ao seu fã número zero, o Ziquinho.

E, por alguma mudança no Youtube, eu não estou conseguindo postar diretamente o vídeo em que o Benito interpreta “Retalhos de Cetim” sem o piano, mas com a gaita do Rildo Hora. Convido os prezados leitores e as estimadas leitoras a acessarem-no aqui.

4 comentários

Deixe um comentário para cardosinho Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *