BETH CARVALHO – “FOLHAS SECAS”

O mundo da música está cheio de coincidências, algumas desagradáveis, outras nem tanto. Em 2005, por exemplo, rolou um tititi por conta de uma música do irlandês Damien Rice (“The Blower’s Daughter”, tema do filme Closer), vertida e gravada quase que simultaneamente nos álbuns lançados naquele ano pela baiana Simone e pela mineira Ana Carolina.

No caso de Simone, a música foi vertida pela Zélia Duncan e recebeu o nome de “Então Me Diz”. Já no disco da Ana Carolina, a versão, batizada “É Isso Aí”, foi feita por ela mesma e cantada em dueto com Seu Jorge.

As letras e as interpretações são bem diferentes, mas ambas são muito bonitas, sendo que a de Ana Carolina fez mais sucesso, não obstante a versão de Simone tivesse embalado os encontros e desencontros do casal Júlia (Glória Pires) e André (Marcello Antony), na novela Belíssima.

No caso de Elis Regina e Beth Carvalho, no entanto, não houve nenhuma coincidência na gravação simultânea do samba “Folhas Secas”, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, lançado ao mesmo tempo pelas duas cantoras, em 1973. O fato gerou um estremecimento entre as duas cantoras e Beth nunca mais conversou com Elis.

O samba foi entregue por Nelson para Beth Carvalho gravá-lo no disco “Canto por um novo dia”, mas um espião o mostrou para Elis, que pressentiu ali o nascimento de um clássico e tratou de incluí-lo em seu disco. Até algum tempo atrás, o principal suspeito era o maestro César Camargo Mariano, que era casado com Elis e foi o responsável pelos arranjos do disco de Beth.

Notícias da época davam conta de que Beth, assim que soube da gravação de Elis, procurou César Camargo Mariano para esclarecer o assunto e o maestro teria negado de pés juntos ter sido ele o espião que passou o samba para Elis. E tudo indica que não foi mesmo!

Recentemente, o violonista e compositor Roberto Menescal – um dos pioneiros da Bossa Nova – confirmou a versão contada na biografia Elis – Nada será como antes (2015), do jornalista Júlio Maria, dando conta de que foi ele quem mostrou “Folhas Secas” para Elis Regina.

Em outro livro – “Canto de rainhas”, do jornalista Leonardo Bruno – Menescal dá um depoimento onde assume a responsabilidade pelo imbroglio que fez Beth Carvalho ficar magoada com Elis. As duas cantoras, por falecidas, já não poderão reatar a amizade, pelo menos neste plano, mas a revelação de Menescal livra Elis da acusação de falta de ética e afasta as suspeitas que recaíam sobre César Camargo, o pai da Maria Rita.

A versão mais bonita? Ambas são muito boas e merecem muito respeito, mas, entre a versão de Elis e a de Beth Carvalho, eu fico com a de Gal Costa, gravada no álbum “Todas as coisas e eu”, de 2004, que é de se ouvir rezando. No vídeo, porém, quem canta é a Beth Carvalho:

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