CAETANO VELOSO – “BOAS FESTAS”

A marchinha “Boas Festas” – que eu já postei aqui no blog em 2017, cantada pelo Zeca Baleiro – é considerada o hino do Natal brasileiro. E se o Natal é uma época de presentes, festas e alegria, “Boas Festas”, contraditoriamente, é uma música triste. 

Seu autor, o baiano José de Assis Valente, era um sujeito que vivia entre a alegria e a tristeza, mas há quem diga que “Boas Festas” foi sua única música triste. Ele a compôs na véspera do Natal de 1932, quando já morava no Rio de Janeiro. Assis estava sozinho e deprimido na noite de 24 de dezembro, no quarto de uma pensão, quando pegou lápis e papel e começou a escrever.

Naquela noite solitária estava nascendo uma das mais conhecidas canções de Natal, que Assis Valente escreveu pensando em entregar para Carmem Miranda, mas, para sua decepção, ela não gravou sua música. Quem a gravou primeiro foi o grupo Anjos do Inferno, mas foi com a gravação de Carlos Galhardo, no ano seguinte, que “Boas Festas” fez sucesso.

Assis começou a compor em 1930, dois anos antes de escrever “Boas Festas”, e uma de suas primeiras músicas recebeu o sugestivo nome de “A Infelicidade me Persegue”. Em 1940, com a infelicidade ainda no seu encalço, ele se casou com uma datilógrafa, mas foi, provavelmente, um casamento de aparências, já que era homossexual. 

Em conflito com sua sexualidade, o compositor tentou o suicídio pela primeira vez alguns meses depois do casamento, mas fracassou. Assis pulou em um precipício de 800 metros, mas foi salvo por um galho onde se enroscou e acabou resgatado pelos bombeiros. Alguns anos depois, ele tentou se matar novamente, dessa vez cortando os pulsos.

Em uma tarde chuvosa do dia 11 março de 1958, alguns meses antes de Pelé e Garrincha conquistarem o caneco pela primeira vez, Assis Valente, bastante endividado (ele ganhava a vida fazendo dentaduras), veio a terceira tentativa de deixar este mundo cruel, dessa vez exitosa. Depois de engolir uma dose de formicida com guaraná, ele finalmente conseguiu passar a outro plano.

Antes do ato tresloucado, Assis ainda se deu ao trabalho de avisar a várias pessoas que aquele era o seu último dia. Em seu bolso, encontraram um bilhete endereçado a Ary Barroso, onde Assis pedia que o amigo fizesse o favor de pagar os dois meses de aluguel que devia ao dono da pensão.

Uma das versões mais famosas de “Boas Festas” é a dos Novos Baianos, gravada em disco de 1970. Além da já citada releitura de Zeca Baleiro, a música de Assis foi regravada também por Ivan Lins, Simone, João Gilberto, Maria Bethânia e Gaby Amarantos, entre outros.

Assis não deixou apenas “Boas Festas”. Bethânia, por exemplo, regravou “Camisa Listrada”, outro clássico do compositor. E quem não conhece “Brasil Pandeiro”, cuja versão mais famosa também é dos Novos Baianos? Deixou também “E o Mundo Não Se Acabou…”, uma sátira ao fim do mundo, regravada por artistas como Adriana Calcanhoto, Ney Matogrosso, Eliete Negreiros e Paula Toller.

No vídeo abaixo, quem canta “Boas Festas” é Caetano Veloso, em trecho de sua live de Natal do ano passado. Não foi a primeira vez que Caetano cantou a música do conterrâneo Assis Valente. Em 1996, ele gravou “Boas Festas”, em bonito dueto com Gilberto Gil (aqui), no disco “World Christmas”.

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