CHICO BUARQUE E NARA LEÃO – “COM AÇÚCAR, COM AFETO”

Chico Buarque – o compositor brasileiro que mais entende a alma feminina – causou certa polêmica com a declaração dada a um programa veiculado pela Globoplay, onde ele diz que não mais cantará a música “Com Açucar, Com Afeto”, por conta de críticas de movimentos feministas à letra da canção.

Não é a primeira vez que as feministas se insurgem contra uma música do Chico. “Mulheres de Atenas”, lançada em 1976, no disco Meus Caros Amigos, também causou desassossego entre elas, que só se acalmaram depois que Chico explicou que a música foi feita para uma personagem feminista de uma peça teatral igualmente feminista.

Chico explicou, também, que, ao dizer “mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas”, ele quis ressaltar exatamente o contrário, ou seja, que as mulheres de hoje não sigam os mesmos destinos daquelas mulheres, que se esqueciam de si próprias para viver tão-somente para seus esposos.

Um ano antes de “Mulheres de Atenas”, em 1975, Chico já tinha composto outra música – “Sem Açúcar” – que dava voz a uma mulher submissa e oprimida pelo machismo do marido. A música foi cantada por Maria Bethânia no show Chico & Bethânia, transformado em disco naquele mesmo ano. Eis um trecho de “Sem Açúcar”:

Dia ímpar tem chocolate, dia par eu vivo de brisa
Dia útil ele me bate, dia santo ele me alisa
Longe dele eu tremo de amor, na presença dele me calo
Eu de dia sou sua flor, eu de noite sou seu cavalo

E ontem, sexta-feira, a cantora e compositora Fernanda Takai – que gravou “Com Açúcar, Com Afeto” no CD “Luz Negra”, de 2009 – entrou na polêmica através de uma publicação no twitter, onde declara que continuará cantando a música do Chico em seus shows.

Maria Bethânia, Fafá de Belém, Zizi Possi e Rosa Passos, que também gravaram “Com Açúcar, Com Afeto”, não se manifestaram. Vejam agora a notícia do portal da Fórum:

O cantor e compositor Chico Buarque afirmou durante o programa “O canto livre de Nara Leão”, dirigido por Renato Terra para a Globoplay, que não cantará mais a canção “Com açúcar, com afeto”, composta por ele originalmente para a voz de Nara Leão.

A razão para tal são as críticas dos movimentos feministas ao machismo da letra, que discorre sobre uma mulher que é deixada diariamente em casa enquanto o marido sai para beber todos os dias.

De acordo com Chico, a canção, de 1967, foi feita por encomenda para Nara Leão, que pediu a ele uma letra que falasse de uma mulher sofrida, já naquela época nem tão comuns na música brasileira, como haviam sido anos antes.

“Ela me encomendou essa música, ela falou ‘eu quero agora uma música de mulher sofredora’. E deu exemplos de canções do Assis Valente, Ary Barroso, aqueles sambas da antiga, onde os maridos saíam para a gandaia e as mulheres ficavam em casa sofrendo, tipo ‘Amélia’, aquela coisa. Ela encomendou e eu fiz”, explicou Chico, na série.

Chico não comentou quando tomou a decisão ou se haveria outras de seu repertório que também não serão mais executadas devido a essas críticas. No filme, Chico lembra que ele não tinha na época a consciência que tem hoje sobre o machismo da letra.

“Eu gostei de fazer (a canção). A gente não tinha esse problema (a crítica das feministas). É justo que haja, as feministas têm razão, vou sempre dar razão às feministas, mas elas precisam compreender que naquela época não existia, não passava pela cabeça da gente que isso era uma opressão, que a mulher não precisa ser tratada assim. Elas têm razão. Eu não vou cantar ‘Com açúcar e com afeto’ mais e, se a Nara estivesse aqui, ela não cantaria, certamente”.

Acabei escolhendo “Com Açuçar, Com Afeto”, a primeira composição de Chico com o “eu lírico” feminino.

“Com Açucar, Com Afeto” foi composta em 1967, para atender a uma encomenda de Nara Leão. Chico contou, em uma entrevista, que Nara pediu a música e lhe deu o tema com detalhes. “Eu quero uma canção que fala de uma mulher que sofre, resignada, à espera do marido, etc e tal…”., sugeriu a dona dos joelhos mais bonitos da Bossa Nova.

 

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