Hoje, 23 de julho, faz cinco anos que o sanfoneiro, compositor e cantor Dominguinhos (José Domingos de Moraes), faleceu, vítima de um câncer no pulmão e de complicações cardiovasculares.
Ele nasceu em Garanhuns(PE), terra de outro brasileiro ilustre (e injustiçado!) em 1941, mesmo ano em que o doutor Euphly Jalles fincou suas botas por aqui, decidido a fundar esta cidade nem tão abençoada e tampouco bonita por natureza, mas de uma gente acolhedora.
Filho de um afinador de fole, Dominguinhos começou a tocar cedo, formando com dois irmãos um trio que se apresentava em feiras da cidade natal e em portas de hotéis, em troca de algum dinheiro. Em 1948, quando tinha apenas sete anos, Dominguinhos e irmãos tocaram na porta de um hotel onde estava hospedado Luiz Gonzaga, o rei do baião.
Lua ficou impressionado com o talento dos meninos e deu a eles seu endereço no Rio de Janeiro. Em 1954, com treze anos, Dominguinhos subiu em um pau-de-arara (assim como o outro brasileiro ilustre) e, depois de doze dias de viagem, chegou ao Rio de Janeiro.
No Rio, Luiz Gonzaga apadrinhou o moleque e o presenteou com uma sanfona. Por sugestão de um amigo, ele – que era conhecido na terra natal como Neném do Acordeon – passou a ser o Dominguinhos. Anos depois, casou-se com Anastácia, com quem compôs mais de 200 músicas (212, segundo meu amigo Luiz Carlos Seixas, o Bochecha).
Uma dessas 212 canções atende pelo nome de “Só Quero Um Xodó”. Essa música nasceu enquanto Dominguinhos e Anastácia caminhavam por uma rua de São Paulo. Ele começou a assoviar uma melodia que lhe veio à cabeça e, ao chegar em casa só estava faltando a letra, que a Anastácia escreveu em poucos minutos.
Em 1973, recém chegado de seu exílio londrino, Gilberto Gil ouviu “Só Quero Um Xodó” (que tinha sido gravada pela forrozeira Marinês) e gostou. Gil gravou a música em ritmo mais lento e a lançou em um compacto simples que tinha, no lado B, a música “Meio de Campo”, feita em homenagem ao jogador Afonsinho, do Botafogo.
Nascido em Marília e revelado pelo XV de Jaú, Afonsinho – que se formou em Medicina – fez sucesso no Botafogo, chegando a ser o capitão da equipe. Inteligente mas um tanto rebelde numa época em que rebeldias não eram bem vistas, ele acabou sendo “encostado” no Botafogo por – pasmem! – se negar a cortar a barba.
Claro que essa foi apenas a desculpa oficial. Na verdade, Afonsinho era um jogador politizado, que participava de movimentos estudantis e, por isso, incomodava o governo Médici, chegando a ser monitorado pela ditadura.
Impedido de trabalhar, Afonsinho foi à Justiça e se tornou o primeiro jogador brasileiro a ganhar o direito ao passe-livre, daí a homenagem de Gil. Dono de seu próprio passe, ele foi para o Vasco e depois para o Santos – de Pelé, Edu e Alcindo – onde podia jogar barbudo e cabeludo.
Deixemos, porém, Afonsinho de lado e voltemos ao Dominguinhos. No vídeo abaixo, Gil o convida para, juntos, cantarem “Só Quero Um Xodó”.
Dominguinhos é daqueles gênios intuitivos,não sabendo ler partituras conseguiu ombrear com os grandes músicos do nosso País.Dizem que tinha ouvido absoluto,e sua intuição era tanta que suas composições nasciam como se fossem psicográficas.
Dominguinhos é daqueles gênios intuitivos,não sabendo ler partituras conseguiu ombrear com os grandes músicos do nosso País.Dizem que tinha ouvido absoluto,e sua intuição era tanta que suas composições nasciam como se fossem psicográficas.
Quanto ao prezado amigo Afonsinho,eu achava que ele fosse ”apenas” um goleiro aplicado e não um meia abusado e ousado,ponto pra ele.