Nascido no Estácio, Aldir Blanc, viveu dos três aos onze anos em Vila Isabel, onde nasceu e viveu Noel Rosa. Em entrevista recente, Aldir disse que aprendeu muita coisa ouvindo Noel e confessou que chorava toda vez que ouvia “Último Desejo”.
Mas, Vila Isabel e a música não foram os únicos elos entre os dois compositores. Ambos nasceram de partos complicados. Noel nasceu a fórceps, o que lhe deixou marcas no rosto. Já Aldir, filho único, carregou a culpa da depressão pós-parto adquirida por sua mãe, tão difícil foi sua vinda ao mundo.
E mais: foi num 04 de maio, dia em que Aldir partiu para o outro lado do mistério, que Noel deu seu último suspiro, há exatos 83 anos, em 1937. Noel tinha apenas 26 anos e foi vítima de uma tuberculose. Aldir, aos 73 anos, foi vítima de uma “gripezinha”.
No texto abaixo, do G1, está dito que Aldir abandonou o curso de medicina em 1973, para se dedicar à música. Na verdade, ele concluiu a medicina, especializando-se em psiquiatria. Trabalhou em um hospital e chegou a abrir um consultório, mas, em 1974, depois da morte de duas filhas gêmeas, desistiu da medicina.
Por sinal, Aldir fez o curso de medicina na mesma universidade federal do Rio de Janeiro em que se formou o médico jalesense José Favaron. Aldir estava dois ou três anos à frente de Favaron e se formou primeiro, em 1970. Hoje, a universidade é conhecida como Unirio.
Na mesma época, a universidade tinha entre seus alunos o então jogador de futebol Afonsinho (Botafogo e Santos) e o atual governador de Goiás, Ronaldo Caiado (ortopedista). Afonsinho foi o primeiro jogador profissional a conseguir o passe-livre na Justiça. A música “Meio Campo”, de Gilberto Gil, foi inspirada nele.
O compositor e escritor Aldir Blanc, de 73 anos, morreu de Covid-19, na madrugada desta segunda-feira (4), no Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio.
Blanc é autor de vasta obra musical e literária, como “O Bêbado e a Equilibrista”, feita com João Bosco e eternizada na voz de Elis Regina.
Na unidade, chegou a apresentar sinais de melhoras, mas como seu estado era muito grave, foi mantido sedado o tempo inteiro.
Aldir Blanc deixa composições que marcaram a vida e a história dos brasileiros. O menino nascido no Estácio, Centro do Rio, era um observador das ruas, poeta da vida e da cidade. Captava a alma do subúrbio.
Virou também cronista e em suas histórias revelava paixões, como o bairro de Vila Isabel, onde passou a infância, o time Vasco da Gama, e o carnaval.
Blanc batizou também um dos mais tradicionais blocos do Rio, o “Simpatia é Quase Amor”, que desfila há anos em Ipanema, na Zona Sul.
Aldir Blanc Mendes nasceu no Rio de Janeiro, no dia 2 setembro de 1946. Em 1966, ingressou na Faculdade de Medicina, especializando-se em psiquiatria. Em 1973, abandonou o curso para dedicar-se exclusivamente à música, tornando-se um dos mais importantes compositores de Música Popular Brasileira (MPB).
Obs.: Aldir começou a compor em 1966, mesmo ano em que iniciou o curso de medicina, mas o primeiro sucesso – “Amigo é Pra Essas Coisas”, em parceria com Sílvio da Silva Júnior – foi composto em 1968 e gravado pelo MPB4 em 1969.
No vídeo, o MPB4, já sem o Ruy Faria, mas ainda com o falecido Magro, interpreta “Amigo é Pra Essas Coisas”: