MARIA BETHÂNIA – “MENSAGEM / TODAS AS CARTAS DE AMOR SÃO RIDÍCULAS”

O português Fernando António Nogueira Pessoa, ou simplesmente Fernando Pessoa, é certamente o poeta preferido da baiana Maria Bethânia. Nascido a 13 de junho de 1888, em Lisboa, ele morreu jovem, em 1935, com apenas 47 anos, mas deixou uma obra imensa.

Aos 5 anos de idade, ele ficou órfão de pai. Sua mãe, então, casou-se com um militar, um cônsul da África do Sul, lugar onde Fernando Pessoa deu início aos seus estudos, em inglês. Voltou para Portugal aos 17 anos, onde morou até seu falecimento, em 1935.

Sua produção literária era tão múltipla que ele utilizou o recurso de criar diversos heterônimos, ou seja, criar e assumir outras personalidades literárias para assinar diferentes obras escritas por ele. Os heterônimos mais usados pelo poeta, cada qual com seu próprio estilo, foram três: Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis.

Fernando Pessoa chegou a criar uma biografia para cada um deles, dando-lhes vida própria. Alberto Caeiro, por exemplo, era órfão e vivia com uma tia camponesa. Recebeu apenas a instrução primária e, por isso, sua poesia era caracterizada, aparentemente, pela simplicidade. Ele era conhecido como o poeta da natureza.

Já Ricardo Reis era o contrário de Caeiro. Na biografia criada por Pessoa, ele foi educado em um colégio de jesuítas, tornou-se médico, monarquista e revelava-se um verdadeiro apreciador da cultura clássica. Sua poesia é caracterizada pela racionalidade, linguagem clássica e vocabulário erudito. Por isso mesmo, era chamado de o poeta erudito.

Por fim, o terceiro heterônimo, Álvaro de Campos que, na biografia criada por Pessoa, era engenheiro naval mas nunca exerceu a profissão. Campos era considerado o alter ego de Pessoa, já que, assim como o poeta, foi educado em inglês. A poesia de Campos valorizava a modernidade e, ao mesmo tempo, era pessimista. Ele ficou conhecido como o poeta da vida moderna.

Além dos três mais famosos, Pessoa assinou obras com o pseudônimo de Bernardo Soares, considerado um semi-heterônimo, pois sua poesia tinha características muito parecidas com as do próprio Fernando Pessoa. Com o nome de Bernardo Soares, Pessoa escreveu um único livro: “O Livro do Desassossego”, de onde Maria Bethânia retirou algumas poesias declamadas no disco “Imitação da Vida”, de 1998.

A conhecidíssima frase “tudo vale a pena se a alma não é pequena” é de uma poesia de Fernando Pessoa (“Mar Português”). Outra frase icônica, “navegar é preciso, viver não é preciso”, também é atribuída ao poeta português, assim como a Caetano Veloso, mas, embora esteja presente em uma poesia de Pessoa e em uma música de Caetano (“Os Argonautas”), não pertence nem a um, nem a outro. A frase teria surgido no Império Romano.

Segundo li, há mais de 20 anos, em uma crônica do Carlos Heitor Cony, a frase é de um general romano chamado Pompeo. Ele teria sido encarregado de levar alimentos a soldados romanos em guerra, que estavam ficando sem comida.

Pompeo encheu um navio de mantimentos, mas, na hora de partir, os marinheiros se negaram a entrar no mar, que estava revolto. O general, então, ergueu sua espada e, mais bravo que o Bolsonaro no cercadinho, decretou que “navegar era preciso, viver nem tanto”.

No vídeo, Bethânia canta “Mensagem”, dos compositores Aldo Cabral e Cícero Nunes, lançada originalmente em 1946 pela cantora Isaurinha Garcia, considerada a Edith Piaf brasileira. A gravação de Bethânia inclui “Todas as Cartas de Amor São Ridículas”, poema de Fernando Pessoa, assinado por seu heterônimo Álvaro de Campos.

 

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