MILTINHO (MPB4) – “ANGÉLICA”

Amanhã, segundo domingo de maio, comemora-se aqui no Brasil, o “Dia das Mães”. Em Portugal e na Espanha, a data dedicada às mães é comemorada no primeiro domingo de maio, enquanto na Argentina ela é celebrada no terceiro domingo de outubro. Há também quem comemore o “Dia das Mães” em datas fixas, como é o caso do Paraguay (15 de maio) e da Bolívia (27 de maio).  

A comemoração no segundo domingo de maio começou nos Estados Unidos, em 1914. Aqui nesta terra descoberta por Cabral, a primeira comemoração ocorreu em 1918, em Porto Alegre, e depois foi se espalhando pelo país, até que, em 1932, o então presidente Getúlio Vargas oficializou o segundo domingo como o “Dia das Mães”.

Na MPB, uma das músicas que melhor expressa o que uma mãe é capaz de fazer por um filho é a surrealista e trágica “Coração Materno”, lançada por Vicente Celestino em 1937, mesmo ano em que surgiram as imortais “Chão de Estrelas”, de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa, e “Rosa”, do Pixinguinha, cuja letra foi escrita por um mecânico de carros, Otávio de Souza.

“Coração Materno” virou filme em 1952, com Vicente Celestino e sua mulher, Gilda de Abreu, nos papéis principais. Por sugestão de Gilda, no filme foi retirada a cena trágica da música, onde o filho arranca o coração da mãe para dá-lo de presente à namorada. Sem a cena, o filme não fez sucesso. Em 1968, Caetano Veloso regravou “Coração Materno”, no icônico disco Tropicália. E 31 anos depois, repetiu a dose em seu disco ao vivo de 1999.

Mas as mães que abandonam seus filhos também inspiraram algumas canções. Uma delas – “Cuidado Com a Outra” – escrita por Nelson Cavaquinho, foi regravada por Chico Buarque em 1974, no disco Sinal Fechado, em que ele só canta músicas de outros compositores. Mais recentemente, “Cuidado Com a Outra” foi regravada pelo Diogo Nogueira.

E há também músicas que homenageiam mães da vida real. É o caso de “Angélica”, com melodia do Miltinho, um dos componentes do MPB4, e letra de Chico Buarque. Para entender “Angélica”, é preciso conhecer a história de sua inspiradora, a estilista Zuzu Angel (Zuleika de Souza Netto), mãe da jornalista antibolsonarista Hildegard Angel.

Zuzu ficou conhecida nacional e internacionalmente por ter dedicado os seus últimos cinco anos de vida à procura do corpo do seu filho, o estudante Stuart Angel Jones, assassinado pela ditadura militar. Ela fez da busca pelo filho uma luta sem tréguas, que desafiou o regime e envolveu até autoridades dos EUA, como o senador Edward Kennedy, já que o ex-marido dela – Norman Angel Jones, pai de Stuart – era americano.

Em certa ocasião, desesperada por não achar o corpo do filho, ela tomou o microfone de uma aeromoça, durante um voo, para avisar aos passageiros que eles “desceriam no Rio de Janeiro, Brasil, país onde se torturavam e matavam jovens estudantes”.

No dia 14 de abril de 1976, exatamente cinco anos após a prisão do filho (14 de abril de 1971), a luta de Zuzu foi interrompida por um acidente de carro suspeitíssimo, que a matou instantaneamente. Uma semana antes do acidente, Zuzu passou na casa de Chico Buarque, de quem era amiga, e deixou uma carta onde dizia que “se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho”.

O caso de Zuzu, que não conseguiu dar ao filho um sepultamento digno, não é único. Aqui mesmo, em Jales, há exatos trinta anos, a família Berbet, depois de vários anos procurando pelo corpo do estudante Ruy Carlos Vieira Berbet, assassinado pelo regime militar em 1972, providenciou um enterro simbólico em que o caixão continha apenas alguns pertences do falecido.

Dito isso, vamos à música feita por Chico e Miltinho para a Zuzu Angel:

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