MIÚCHA, A IRMÃ DO CHICO E EX-MULHER DO JOÃO, SERÁ SEPULTADA HOJE

O velório da cantora Miúcha começará às 12h desta sexta-feira, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. A cerimônia será apenas para amigos e familiares. O sepultamento está marcado para às 16h30.

Do jornalista e crítico musical Mauro Ferreira, no G1:

Heloísa Maria Buarque de Hollanda (30 de novembro de 1937 – 27 de dezembro de 2018), a cantora e (eventual) compositora carioca conhecida como Miúcha, saiu de cena no fim da tarde de ontem, na cidade natal do Rio de Janeiro, aos 81 anos, sem o devido reconhecimento.

Miúcha foi cantora interessante e deixou discos relevantes, mas sempre pareceu ser mais conhecida como a irmã de Chico Buarque. Ou a ex-mulher de João Gilberto. Ou, a partir dos anos 2000, a mãe de Bebel Gilberto.

Nada mais injusto. Quem identificava Miúcha somente pelos nobres laços familiares da artista provavelmente ignorava que ela foi a única cantora que gravou, em 1977 e em 1979, dois álbuns de estúdio com ninguém menos do que o soberano Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994). Sem contar um terceiro, ao vivo, gravado em 1977 em show antológico que juntou Tom e Miúcha com a dupla formada na década de 1970 por Vinicius de Moraes (1913 – 1980) com Toquinho.

Mais tarde, em 1989, foi Miúcha quem deu voz a quatro músicas de Guinga – com letras de Paulo César Pinheiro – em disco lançado anos antes de Guinga ser descoberto pelos críticos musicais e alçado à condição de gênio da MPB.

Miúcha nunca fez questão de ser moderna, de seguir as modas musicais, e nisso sempre foi bem parecida com o irmão Chico Buarque. Miúcha gostava de cantar e gravar músicas de Tom Jobim, de Vinicius de Moraes e do próprio Chico, claro.

Miúcha deixa uma obra. Uma obra iniciada com compacto editado em 1975 e que inclui disco de 1976 assinado com o saxofonista norte-americano de jazz Stan Getz (1927 – 1991) e com João Gilberto. Uma obra que, por contingências do mercado fonográfico, perdeu o impulso da fase inicial 1975-1980 até ser retomada com regularidade nos anos 2000 com o ingresso da cantora na gravadora Biscoito Fino.

De todo modo, para a maior parte do público, talvez Miúcha continuará sendo a irmã do Chico, a ex-mulher do João e até mesmo a mãe de Bebel.

Azar de quem nunca abriu os ouvidos para escutar com atenção gravações precisas, feitas com suavidade e sem afetações. Gravações como as da canção fraterna Maninha (Chico Buarque, 1977) e da valsa Pela luz dos olhos teus (Vinicius de Moraes, 1960), da qual Miúcha fez em 1977 o melhor registro, aliás.

Miúcha sai de cena. Mas o canto da artista há de ficar para a posteridade e de ter o devido valor reconhecido no futuro. Ou talvez a morte da cantora a faça receber postumamente as flores que quase nunca lhe deram em vida.

No vídeo abaixo, Miúcha e Chico cantam “Maninha“. Antes, Chico explica que a música foi inspirada em uma infância imaginária.

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