A Música Popular Brasileira é recheada de lendas urbanas. Uma delas diz que “Mulheres”, do Toninho Geraes, que o Martinho da Vila canta, foi composta para um traveco. A estória chegou a ser contada em um vídeo da youtuberJout Jout, postado no Youtube (aqui).
Outra lenda, amplamente divulgada por gente que não prima por checar os fatos, garante que o saudoso Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, ou simplesmente Belchior, teria composto “A Palo Seco” como resposta a Raul Seixas que, em “Eu Também Vou Reclamar”, menciona um certo “rapaz latino-americano que não tem cheiro nem sabor”.
A música de Raul é, realmente, uma sátira às músicas de protesto tão em voga naquela época. No entanto, “Eu Também Vou Reclamar” foi lançada em dezembro de 1976, quando o segundo disco de Belchior – “Alucinação”, que tinha “Como Nossos Pais”, “Velha Roupa Colorida”, “Apenas Um Rapaz Latino-Americano” e “A Palo Seco” – já estava tocando nas rádios. Ou seja, “A Palo Seco” não pode ser uma resposta a uma música que só apareceria meses depois.
A palo seco é uma expressão idiomática de origem espanhola. Significa falar as coisas sem rodeios, dizer verdades na lata, sem meias palavras. A música de Belchior foi calcada em um poema do pernambucano João Cabral de Melo Neto, chamado “A Palo Seco”. Nada a ver, portanto, com Raul Seixas e suas reclamações.
No vídeo abaixo, “A Palo Seco” é interpretada por Oswaldo Montenegro: