PÁDUA E TOM CHRIS – “CANTEIROS”
Em Goiás – onde temos a maior concentração de duplas sertanejas por metro quadrado – até a MPB é cantada em dupla. Antônio Pádua da Silva (Pádua) e Cristiano Silva (Tom Chris) são dois intérpretes de MPB muito conhecidos no circuito noturno de Goiânia, onde fazem muitos shows em barzinhos e casas de espetáculo.
No vídeo abaixo, eles interpretam a conhecidíssima e polêmica “Canteiros“, música que rendeu ao cantor/compositor Fagner um rumoroso processo judicial movido pelas filhas da poetisa carioca Cecília Meirelles, falecida em 1964, aos 63 anos de idade.
A família de Cecília Meireles não gostou do fato de Fagner gravar “Canteiros“, em 1972, sem dar o devido crédito à poetisa. Ocorre que, ao escrever a letra da canção, o compositor cearense utilizou versos do poema “Marcha“, de Cecília, sem mencionar isso ao lançar a música no seu primeiro LP. Por conta do processo, as rádios ficaram impedidas de tocar “Canteiros” durante alguns anos, enquanto Fagner ficou proibido de cantá-la em seus shows.
Ao contrário, porém, do que muita gente imagina, a letra de “Canteiros” não é inteiramente baseada nos versos de Cecília. Na verdade, apenas a estrofe inicial é que foi inspirada em um trecho do poema. Quem tiver a curiosidade de conferir o poema vai notar que não existe nenhuma referência, por exemplo, ao “gosto de framboesa”.
De qualquer forma, foi um plágio. Em 1979, Fagner reconheceu em juízo a utilização da poesia de Cecília. Antes disso, em 1977, ele já havia registrado a poetisa como coautora da letra de “Canteiros“, mas, mesmo assim, a ação judicial teve continuidade e, em 1983, Fagner e a gravadora Polygram foram condenados a pagar uma indenização às filhas de Cecília, por violação de direitos autorais.
A Polygram, entretanto, continuou resistindo e apelou ao STF. O litígio se arrastou até 1999, quando a gravadora Sony Music, sucessora da Polygram, fez um acordo com as herdeiras de Cecília Meireles, que incluía a regravação da música no primeiro álbum ao vivo de Fagner, que viria a ser lançado no ano seguinte.
Antes de ir ao vídeo, compare o trecho da poesia de Cecília com os versos iniciais da música do Fagner:
“Marcha”
Quando penso no teu rosto, Fecho os olhos de saudade. Tenho visto muita coisa, Menos a felicidade. Soltam-se meus dedos tristes Dos sonhos claros que invento Nem aquilo que imagino Já me dá contentamento |
“Canteiros”
Quando penso em você, Fecho os olhos de saudade. Tenho tido muita coisa, Menos a felicidade. Correm os meus dedos longos Em versos tristes que invento Nem aquilo a que me entrego Já me dá contentamento |
O Fagner compôs uma obra-prima reciclando suas influências.Numa só canção,ele usa versos de Cecília Meireles,canta incidentalmente ”Na hora do almoço” de Belchior (Ainda sou bem moço pra tanta tristeza…) e termina cantarolando ”Águas de março” de Tom Jobim.Quando o assunto é arte fica difícil separar o que é citação,homenagem,influência ou um simples plágio.Na música em questão fica bem claro que há um pouco de tudo,e o que prevalece é o talento do Fagner.
Não conhecia a dupla de Goiás (viva a diversidade).Fizeram uma leitura pessoal sem descaracterizar a música.
Extraordinarios artistas. No los conocia. No comprendo mucho el idioma pero me emociona mucho escucharlos.