ROBERTO CARLOS – “QUERO QUE VÁ TUDO PRO INFERNO”

A Justiça, vez em quanto, toma decisões que fogem à nossa compreensão. No mês passado o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu que os direitos autorais de 27 músicas compostas por Roberto Carlos e Erasmo Carlos não pertencem mais aos seus autores.

Ou seja, eles ou seus herdeiros não receberão mais um único centavo por conta dessas 27 criações, entre elas algumas bem conhecidas, como “Parei na Contramão”, “Minha Fama de Mau”, “Mexerico da Candinha” e “Não Quero Ver Você Triste”.

Roberto e Erasmo entraram com um processo na Justiça em 2018 contra a editora Irmãos Vitale S/A pedindo a rescisão de contratos de cessão de direitos autorais assinados em 1964, 1965 e 1966.

Os advogados ressaltaram no processo que Roberto e Erasmo tinham 23 anos à época e “que não possuíam a mínima noção da grandiosidade de seu legado, mas a intenção deles, assim como de qualquer compositor brasileiro, jamais foi a cessão perpétua e irrestrita de seu legado”.

O TJ-SP não concordou com a argumentação e, em julgamento realizado no dia 7 de junho passado, manteve a decisão de primeira instância que tinha decidido que os direitos autorais das 27 músicas compostas por Roberto e Erasmo pertencem à editora. Algumas dessas canções nunca foram gravadas por eles, mas por outros cantores.

Uma dessas 27 músicas é a conhecidíssima “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”, canção que Roberto Carlos ficou vários anos sem cantar, devido às suas convicções religiosas e ao TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), que o impedem de dizer algumas palavras negativas – “azar”, “inferno”, “ódio”, etc – e de usar roupas com cores escuras.

Em 1995, vários artistas se reuniram para gravar cinco CDs em comemoração aos 30 anos da Jovem Guarda. Caetano Veloso, que não participou do movimento, foi convidado e topou gravar “O Calhambeque”. Roberto Carlos, é claro, também foi convidado, mas quando ficou sabendo que “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno” – uma das músicas mais representativas da Jovem Guarda – estaria no CD, ele declinou do convite.

Em 1999, Roberto Carlos autorizou Maria Bethânia a gravar uma música de sua autoria para a trilha sonora da nova novela da Globo. Bethânia chegou a gravar a música, mas quando Roberto ficou sabendo do nome da novela – “Suave Veneno” – retirou a autorização que tinha dado. Bethânia teve então que gravar às pressas outra música – “É o Amor”, do Zezé di Camargo – para substituir a música do Roberto.

No ano seguinte houve algo parecido. Daniela Mercury gravou uma música do rei para a trilha da novela “Laços de Família”, mas, por conta de algum detalhe da novela, ele novamente desautorizou a inclusão de sua música na trama. Daniela Mercury deu um jeitinho: ela regravou “Como Vai Você”, que ficou conhecida na voz de Roberto, mas foi composta por Antonio Marcos e aí não tinha como o rei dar pitaco. 

Em 2016, naquele especial de fim-de-ano da Rede Globo, depois de mais de 30 anos sem pronunciar a palavra inferno, Roberto Carlos voltou a cantar “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”. Ele próprio brincou com a situação, dizendo que estava melhorando do TOC.

É essa versão de 2016 que pode ser vista no vídeo abaixo:

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