GILBERTO GIL EXPLICA “CÁLICE”
Muita gente imagina que a música “Cálice” seja uma composição de Chico Buarque e Milton Nascimento, os intérpretes da gravação original de 1978. Na verdade, a ideia de “Cálice” – surgida em uma Sexta-Feira da Paixão – foi de Gilberto Gil, que a levou ao Chico no dia seguinte para, juntos, compor a canção.
O refrão (Pai, afasta de mim esse cálice…) é de Gil, assim como a primeira estrofe (Como beber dessa bebida amarga…) e a terceira (De muito gorda a porca já não anda...). Chico escreveu a segunda estrofe (Como é difícil acordar calado…) e a quarta (Talvez o mundo não seja pequeno…).
Na primeira apresentação, em um evento chamado Phono 73, promovido pela gravadora Polygram, a censura do regime militar deu um jeito de calar Gil e Chico: os microfones do espetáculo foram desligados assim que eles começaram a cantar. Por conta dessa experiência, Gil não cantou mais “Cálice“.
Censurada, a música – composta num Sábado de Aleluia, em 1973 – só foi liberada cinco anos depois, quando Chico e Milton, com o acompanhamento luxuoso do MPB4, a gravaram. No vídeo abaixo, Gil explica como foi o processo de composição de “Cálice” e a dificuldade que ele tinha em falar dessa música:
E AI GRANDE CAMARADA CARDOSINHO HOJE TEREMOS UM ESPECIAL… …CHIC.GIL… …C/ O CHICO & GIL
CARDOSINHO SE VOCE ATENDER O COMPANHEIRO E FIZER O ESPECIAL HOJE SE PUDER TOCAR ESSAS MUSICAS DESDE JA AGRADEÇO…RODA VIVA…ANDAR COM FE…CALICE…PALCO…REALCE…SAMPA…APESAR DE VOCE…CONSTRUÇAO…MUITO OBRIGADUUU…
É genial a sacada do Chico em transformar o substantivo cálice no verbo cale-se.As duas palavras expressam muito bem o período de trevas que o Brasil estava vivendo,a metáfora da tortura e o silêncio imposto pelos militares.
As parcerias clássicas das canções seriam,enquanto um faz a música,o outro entra com a letra.Mas nem sempre é assim,como deixou claro o Gilberto Gil.É como a dupla Roberto e Erasmo,a gente nunca sabe quem fez o quê,já que os dois são músicos e letristas.
https://www.cartacapital.com.br/cultura/do-show-na-usp-em-73-ao-lula-livre-calice-se-impoe-a-gilberto-gil