Categoria: Música

JORGE BEN JOR – “QUE PENA”

Carioca de Madureira, Jorge Duílio Lima Menezes, nascido em março de 1945, bem que tentou ser jogador de futebol e até chegou a atuar no infanto-juvenil do Flamengo. A música, no entanto, gritou mais alto e, em 1963, quando lançou seu primeiro disco ele já era Jorge Ben.

O disco era um compacto com apenas duas músicas – “Por Causa de Você, Menina” e “Mas Que Nada” – que fizeram sucesso de cara. A segunda foi também uma das canções em língua portuguesa mais executadas nos Estados Unidos, na versão do pianista brasileiro Sérgio Mendes com um grupo de hip hop americano.

Em 1989, sabe-se lá por quais motivos, ele fez uma pequena alteração no nome artístico, passando a chamar-se Jorge Ben Jor. Há quem diga que a mudança foi provocada pela numerologia, mas há também quem garanta que foi para evitar confusões com George Benson, pois Jorge Ben começava a se tornar muito conhecido nos Estados Unidos

Em 1991, depois de um longo período longe das paradas, ele estoura nas pistas de dança – já como Jorge Ben Jor – com a música “W/Brasil”. Composta a pedido do publicitário Washington Olivetto, dono da agência de propaganda “W/Brasil”, a música foi também uma homenagem ao “síndico” Tim Maia.

Jorge Ben Jor anda meio sumido, mas continua na ativa, realizando shows que são vistos por muita gente jovem. A sua última música inédita foi lançada em 2018. Chama-se “São Valentim”, em homenagem a um ex-santo da Igreja Católica.

Valentim, um bispo romano, ousou desafiar o imperador Cláudio II, realizando casamentos às escondidas. Cláudio tinha proibido os jovens de se casar, pois queria formar um grande exército e acreditava que os jovens, sem poder se casar, se alistariam com maior facilidade.

As cerimônias de Valentim eram feitas em segredo, mas ele acabou sendo descoberto, preso e condenado à morte. Enquanto estava preso, muitos jovens jogavam flores e bilhetes dizendo que continuavam acreditando no amor.

Entre as pessoas que jogaram mensagens ao bispo estava uma jovem cega, Artérias, filha do carcereiro, a qual conseguiu a permissão do pai para visitar Valentim. Os dois – a exemplo do Lula e da Janja – acabaram se apaixonando e Artérias, milagrosamente, recuperou a visão.

Valentim não conseguiu, no entanto, o milagre de obter o perdão do imperador Cláudio e, no dia 14 de fevereiro de 270, acabou decapitado. Em homenagem a ele, em muitos países o “Dia dos Namorados” é comemorado no dia 14 de fevereiro.

Aqui no Brasil, o “Dia dos Namorados” é comemorado no dia 12 de junho, véspera do dia de Santo Antonio, nosso santo casamenteiro. A data foi escolhida pelo publicitário João Dória – pai do nosso atual governador – com o objetivo de incrementar as vendas do comércio.

No vídeo, Jorge Ben Jor – que é casado desde os anos 60 com uma de suas primeiras namoradas, Domingas Terezinha – canta “Que Pena”:

JOHN LENNON COMPLETARIA 79 ANOS NESTA QUARTA-FEIRA

Deu na revista Fórum:

Nesta quarta-feira, 9 de outubro de 2019, o ex-Beatle John Lennon faria 79 anos. Porta-voz do pacifismo, Lennon foi assassinado em 1980 por um fã na porta do local em que morava em Nova Iorque, o lendário Edifício Dakota, onde foi filmado, entre outros, “O Bebê de Rosemary”, de Roman Polanski.

John Lennon fez grande sucesso ao lado de Paul McCartney quando jovem e adolescente fundador dos Beatles. A dupla compôs algumas das canções mais tocadas do século XX. A partir de 1970, ao lado da esposa, Yoko Ono, Lennon teve uma intensa militância pacifista, fez experiências com drogas e apoiou políticos como Angela Davis e John Sinclair.

Cidadão inglês, sofreu um longo processo de deportação por porte de maconha nos EUA que acabou vencendo graças à grande mobilização da população americana em seu apoio. O ex-Beatle se afastou da música por um período de cinco anos para cuidar de seu filho Sean, recém-nascido.

Voltou com tudo, em 1980, com o álbum “Double Fantasy”, feito em parceria com Yoko. O disco foi lançado em novembro e Lennon foi assassinado poucos dias depois, em dezembro. As canções do álbum “(Just Like) Starting Over”, “Woman” e “Watching the Wheels” atingiram as primeiras posições nas paradas de sucesso do mundo inteiro.

Após sua morte, John Lennon passou a ser celebrado no mundo todo. Sua canção “Imagine” é considerada uma das melhores e mais tocadas do século XX.

Há alguns dias, um imbecil disse que, se John Lennon estivesse armado, a história poderia ser outra. Cabe perguntar: um pacifista que escreve uma canção como “Imagine” poderia andar armado?

No vídeo, do projeto “Canção à Volta do Mundo”, artistas desconhecidos de várias partes do planeta, inclusive do Brasil, interpretam a canção imortal de John Lennon:

MILTON NASCIMENTO E LÔ BORGES – “CLUBE DA ESQUINA No. 2”

O Clube da Esquina foi um movimento musical integrado por Milton Nascimento, Lô Borges, Toninho Horta, Beto Guedes, Marcio Borges, Túlio Mourão, Fernando Brant, Ronaldo Bastos e Wagner Tiso, entre outros – na maioria mineiros – que se tornou conhecido a partir do lançamento, em 1972, do LP “Clube da Esquina”, liderado por Milton Nascimento e Lô Borges.

O nome do movimento deve-se à esquina da rua Divinópolis com a rua Paraisópolis, em Belo Horizonte, onde alguns jovens – sem dinheiro para frequentar bailes e festas dançantes dos clubes da época – se encontravam para conversar, tocar e cantar.

Desses encontros nasceu boa parte das músicas do LP duplo batizado com o nome de Clube da Esquina, lançado em 1972. Àquela altura, Milton já era conhecido por sua participação em um festival, com “Travessia”, mas, mesmo assim, teve que batalhar na gravadora para conseguir gravar um álbum duplo – algo raro, na época – com um bando de desconhecidos.

O disco – o mais emblemático da história da música mineira – fez com que todos eles ficassem famosos e tornou o som produzido em Minas Gerais conhecido em todo o mundo. Seis anos depois, em 1978, foi lançado o LP “Clube da Esquina 2”. Não causou o mesmo impacto, mas também é muito bom.

Uma das curiosidades do disco de 1972 é a capa, com a foto de dois garotos sentados em um barranco. Muita gente acha que os dois garotos são o Lô Borges e o Milton Nascimento, quando meninos. Ledo e Ivo engano!

O autor da foto – um fotógrafo pernambucano – contou que, numa tarde, saiu com o compositor Ronaldo Bastos, no fusquinha deste, para fotografar nuvens e paisagens e, quando viu os dois garotos comendo pão no barranco, resolveu fotografá-los.

Quarenta anos depois do lançamento do disco, o jornal Estado de Minas resolveu ir atrás dos meninos. Depois de mostrar a foto para muita gente, localizou-os – já com quase 50 anos, mas ainda amigos – na cidade fluminense de Nova Friburgo, onde moram.

Gente simples, Cacau e Tonho – como eles são conhecidos – nem sabiam da foto. Um deles disse que, certa vez, viu o disco em uma loja e achou os meninos da capa muito parecidos com ele e o amigo, quando crianças.

Deixando a capa um pouco de lado e voltando às músicas do LP duplo, uma das mais conhecidas é “Clube da Esquina nº 2“. No vídeo abaixo, Lô Borges e Milton Nascimento interpretam essa canção, no show “Uma Travessia – 50 Anos de Carreira”, de 2013:

MULHERES DE HOLLANDA, ZÉ RENATO E CLÁUDIO NUCCI – “TODO SENTIMENTO”

Ontem, sexta-feira, escrevi aqui no blog sobre o meu amigo Luiz Carlos Seixas, que estará no Brasil & Cia desse domingo, juntamente com o Toninho Breves, para falar do CD “Depois do Fim” que eles lançaram em junho, só com músicas compostas pela dupla. Escrevi, também, que o CD tem as participações especialíssimas do maestro Cristóvão Bastos (foto) e da cantora Amélia Rabello.

Isso me fez lembrar que, por volta de 1992/93, ganhei do Seixas um disco da Elizeth Cardoso em que ela canta várias canções, acompanhada “apenas” pelo violão do Raphael Rabello. Infelizmente, o Raphael – que era irmão da citada Amélia Rabello – morreu muito jovem, aos 32 anos, quando se preparava para uma apresentação em Los Angeles, ao lado do saxofonista rio-pretense Paulo Moura.

Um dos destaques do disco era “Todo Sentimento”, da dupla Cristóvão Bastos-Chico Buarque, maravilhosamente interpretada pela Divina. Cristóvão é co-autor de algumas músicas de sucesso – “Resposta ao Tempo” e “Suave Veneno“, cantadas pela Nana Caymmi, são duas delas – mas a sua obra-prima é, sem dúvida, “Todo Sentimento”, composta em 1987.

Além do Chico Buarque, autor da letra, e da Elizeth, vários outros artistas já gravaram “Todo Sentimento“.  Cauby Peixoto, Lula Barbosa, Maria Bethânia, Maria Creuza, Nana, Oswaldo Montenegro, Elba Ramalho, Selma Reis e Verônica Sabino estão entre eles. Até uma versão em inglês – “All The Feelings” – já surgiu, cantada pelo Jorge Vercillo, em álbum de 2014. E tem a versão do Ney Matogrosso, que é de se ouvir rezando.

Grupos como o Quarteto em Cy e o Mulheres de Hollanda também já gravaram “Todo Sentimento“, em versões elogiadíssimas. O crítico musical, Mauro Ferreira, por exemplo, disse que a interpretação do grupo Mulheres de Hollanda, em que as moças entrelaçam suas vozes com o canto de Zé Renato e Cláudio Nucci, “está entre os melhores registros dessa canção, obra-prima de Chico e Cristóvão”.

A interpretação citada pelo Mauro Ferreira pode ser vista no vídeo abaixo, mas o que eu estou querendo dizer é que o maestro Cristóvão Bastos – que arranjou e tocou piano em algumas músicas do CD “Depois do Fim” – não coloca a assinatura dele em qualquer trabalho. Portanto, as músicas do Seixas e do Breves merecem ser ouvidas com muita atenção.

E, para quem tem ouvidos, “Todo Sentimento” com o Mulheres de Hollanda e a participação luxuosa dos ex-Boca Livre, Zé Renato e Cláudio Nucci, e do maestro Cristóvão ao piano:

   

FILHO DE PORTINARI AGRADECE COMPOSITOR JALESENSE POR MÚSICA DEDICADA AO PAI

No próximo domingo, 29, estarei recebendo lá no Brasil & Cia – o programa radiofônico que apresento na Regional FM – a visita do meu amigo Luiz Carlos Seixas e do seu parceiro (musical, é bom que fique claro!), o Toninho Breves. Eles irão falar do CD “Depois do Fim”, lançado recentemente na Casa do Choro, um templo da MPB, no Rio de Janeiro.

O Seixas – filho de um dos primeiros farmacêuticos da cidade, o seo Bernardino Mendes Seixas, e sobrinho do nosso historiador Genésio Mendes Seixas – nasceu em Jales e está radicado há muitos anos em Ourinhos, onde mora também o Toninho.

Na juventude, o Seixas ganhou festivais de música em Jales e em outras cidades. Ele decidiu aprender a tocar violão depois de ver um show com Toquinho e Vinícius de Moraes, aqui em Jales, em 1972. Anos depois, compôs duas músicas em parceria com Toquinho e Mutinho, gravadas pelo violonista no disco “Doce Vida“, de 1982.

Depois de um longo intervalo dedicando-se às suas atividades como funcionário público estadual, o Seixas voltou a compor, agora em parceria com o Toninho Breves. As novas composições resultaram no CD “Depois do Fim”, que tem a participação de expoentes da MPB, como o maestro Cristóvão Bastos.

Dedicado a Maurício Carrilho e Chico Buarque, o disco não disfarça a influência de outros compositores, como Baden Powell, Moacir Santos, Edu Lobo, Dori e Dorival Caymmi. O repertório do álbum e do show tem canções dedicadas a Pixinguinha, Gershwin, Claudionor Cruz, Pedro Caetano e Muhammad Ali, além de fazer menção a nomes como Cândido Portinari e Zilda Arns.

Cândido Portinari – o rapaz do autorretrato aqui ao lado – nasceu em Brodósqui(SP), em 1903, e morreu em 1962, aos 59 anos. É considerado o nosso maior pintor, reconhecido mundialmente por seu talento. O quadro lá de cima (“Descoberta da Terra”), por exemplo, está exposto em Washington, Estados Unidos.

Portinari foi reconhecido inclusive aqui em Jales, terra onde a cultura e a arte não são muito valorizadas. A rua que separa os bairros Aclimação e Estados Unidos tem o nome de Portinari, mas é provável que a maioria dos seus moradores não saiba de quem se trata o homenageado.

No disco, ele foi homenageado por Seixas e Breves, com citação na música “Duas Procissões”. Por conta dessa citação, o Seixas recebeu, há alguns dias, uma agradecida mensagem do filho único de Portinari, o João Cândido Portinari. Ei-la:

Caro amigo Luiz Carlos Seixas, fui lá no youtube, e parei tudo o que estava fazendo, para me emocionar diante da beleza , do sentimento que emana de “Duas Procissões”.

Obrigado a você e ao Toninho Breves pelo carinho com a memória de meu pai!

Gostaria muito de ouvir de novo, se possível, ao vivo. Vocês vão apresenta-la em algum momento?

Com o gratíssimo e fraterno abraço do

João Candido (Portinari)

Sigamos, então, o João Cândido, fazendo uma incursão ao Youtube para ouvir “Duas Procissões“, interpretada pela Ana Luiza, que o Paulinho da Viola considera uma de nossas maiores cantoras.

 

GAL COSTA – “ÍNDIA”

Nesta semana, li duas notícias sobre a Gal Costa. A primeira foi a respeito do show “Discos Emblemáticos”, no qual a cantora Márcia Castro – baiana, como Gal – interpreta músicas do disco “Índia”, lançado por Gal Costa em 1973.

A segunda notícia foi sobre uma entrevista de Gal ao Estadão, em que ela se diz assustada com os tempos sombrios que estamos vivendo, sob Bolsonaro e outros boçais. “Quando vi na televisão que o Crivella tinha censurado um livro por causa da capa, me lembrei do disco Índia”, disse a cantora ao jornalão.

Pois é, entre os anos 64/85, vários discos de diversos compositores foram censurados pela ditadura militar, todos em função de músicas que os censores – muitos deles mais realistas que o rei – julgavam inadequadas ou contrárias ao regime.

No caso do emblemático disco “Índia“, a censura até que implicou com uma música – “Presente Cotidiano”, do Luiz Melodia – mas os censores acionaram o sinal de alerta mesmo foi quando viram a capa e a contracapa da bolacha.

A capa é essa que ilustra o post, um close na tanga vermelha de Gal, registrado enquanto ela tirava sua saia indígena. E a contracapa mostrava Gal – àquela altura no auge dos seus 28 anos – vestida de índia com os seios à mostra, algo que, na época, não era permitido nem às revistas masculinas.

O produtor Roberto Menescal ainda tentou argumentar com a censora – uma senhora muito rigorosa -, alegando que índias não usavam sutiã, mas não convenceu. A solução foi propor que o disco fosse vendido em um invólucro azul, que não permitia a exposição pública da capa proibida.

O dado interessante é que o invólucro azul só fez despertar a curiosidade do público, resultando em uma vendagem enorme do disco, que rendeu discos de Platina e de Ouro a Gal. Outro dado curioso é que a foto da capa foi tirada sem grandes pretensões.

Em meio à sessão das fotos para a capa, o fotógrafo Antonio Guerreiro achou engraçada a cena com uma índia de calcinha – as índias não usavam calcinhas – e resolveu clicar o momento apenas como curiosidade. Pelo menos é o que ele diz, mas não se pode descartar que algum outro detalhe tenha chamado sua atenção.

O fato é que, na gravadora, a foto acabou sendo escolhida por unanimidade para ilustrar a capa do disco. Outro fato é que, em 2015, ou 42 anos depois da censura, a foto foi, finalmente, liberada, de tal forma que a gravadora planeja relançar o disco, agora sem o invólucro azul.

Em pesquisa realizada pela revista Status, a capa de “Índia” é considerada uma das dez mais sensuais do planeta. A lista tem, por exemplo, a capa do disco “God Is A Girl”, do grupo alemão Groove Coverage, cujas músicas não são lá grande coisa.

Capas e contracapas à parte, o disco – que teve a direção musical de Gilberto Gil, recém-chegado de seu exílio londrino – é tido como um dos melhores de Gal Costa. “Índia”, a faixa-título é uma guarânia paraguaia, vertida para o português pelo compositor e cantor sertanejo José Fortuna.

A gravação original é do duo Cascatinha e Nhana, em um compacto de 1952, que tinha, do outro lado, o clássico “Meu Primeiro Amor”, outra versão de José Fortuna. Gal regravou “Índia” três vezes. A primeira, no citado disco de 1973, a segunda, seis anos depois, no disco “Gal Tropical”, de 1979. E a terceira, no disco “Gal de Tantos Amores”, de 2001.

No vídeo, Gal canta “Índia”, em show de 1983

MARIA BETHÂNIA – “LUA BRANCA”

No final de setembro, a TV Globo estreará uma nova telelágrimas – “Éramos Seis” – no horário das 18 horas. Nova é modo de dizer. Na verdade, essa será a 5ª versão novelesca baseada no romance de Maria José Dupré, a primeira na Globo.

As versões anteriores foram exibidas na Record, Tupi e SBT. Em 1977, na TV Tupi, a personagem central, uma mulher chamada Lola, foi interpretada pela atriz Nicete Bruno. E em 1994, no SBT, coube a Irene Ravache interpretar Lola. Na versão que a Globo começará a exibir daqui alguns dias, teremos uma espécie de homenagem às duas atrizes – Nicete e Irene – que farão participação especial no papel de tias de Glória Pires, a nova Lola.

Nicete, Irene e Glória à parte, o assunto deste post é, em verdade, outra mulher tão forte quanto a personagem Lola: a compositora, pianista e maestrina Chiquinha Gonzaga, que terá uma de suas músicas na trilha sonora da novela.

Escrever sobre a vida e importância de Chiquinha – Francisca Edwiges Neves Gonzaga (1847-1935) – demandaria muito tempo e espaço, de modo que isso vai ficar pra outro dia. Direi apenas que ela – filha de um general do exército e de uma negra cujos pais foram escravos – se casou pelo menos três vezes.

O primeiro casório foi arranjado por seu pai, quando ela tinha apenas 16 anos. O marido escolhido pelo velho general era um empresário bem sucedido e não queria ver a mulher metida com música popular que, à época não era bem vista. Ele sugeriu que Chiquinha escolhesse entre a música e o casamento e ela escolheu a música. Mesmo durando apenas dois anos, o primeiro casamento rendeu três filhos ao casal.

Depois de se separar do empresário, Chiquinha se casou com um engenheiro, com quem teve uma filha. O segundo casamento também não durou muito, devido à movimentada militância extra-conjugal do marido. Após essas duas experiências não muito positivas, Chiquinha resolveu dar um tempo e, pelo menos oficialmente, ficou alguns anos solteira.

Em 1899, já com 52 anos, ela se encantou por um rapaz de 16, um português com quem ela viveu até o final de sua vida. Uma das composições mais conhecidas de Chiquinha é a marchinha carnavalesca “Abre Alas”, mas a música que estará na trilha da novela é “Lua Branca”, com Maria Bethânia, uma das canções preferidas do professor Luís Especiato, que, de vez em quando, pede para ouvi-la no Brasil & Cia.

“Lua Branca” foi composta em 1912 para uma peça teatral chamada Forrobodó e os versos originais tinham o espírito alegre da peça. Em 1929, um cantor paulista lançou uma nova versão de “Lua Branca”, bem mais romântica. O detalhe interessante é que não se sabe, até hoje, quem teria sido o autor dos novos versos, que se tornaram definitivos.

São esses versos de autor desconhecido que os prezados leitores ou as estimadas leitoras poderão apreciar no vídeo abaixo – e, sendo noveleiros, na trilha de “Éramos Seis” – na interpretação de Maria Bethânia.

MARIENE DE CASTRO E ALMÉRIO – “ESPUMAS AO VENTO”

Tenho um amigo, o Tinhoso, que – assim como o Odair Brassolati, da Transportadora Zero Hora – é fã ardoroso do Fagner. De modo que ele, certamente, preferiria ver e ouvir “Espumas ao Vento” com o Raimundão. Eu, porém, não estou nem aí para as preferências do Tinhoso, um assíduo frequentador dos bailes da terceira idade.

Assim, vou preferir mostrar aos frequentadores deste modesto blog uma versão mais recente de “Espumas ao Vento”, com dois artistas menos conhecidos. Um deles chama-se Almério, o bigodudo da foto acima. Filho de família pobre, ele nasceu no banheiro da casa humilde em que seus moravam, em Altinho, no sertão de Pernambuco.

Há alguns anos, Almério deixou Caruaru(PE), para onde havia se mudado, e desembarcou no Rio de Janeiro. Apadrinhado por Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Alceu Valença, aquecia a plateia, cantando antes do show “Grande Encontro”. No ano passado, ele ganhou o prêmio de revelação do ano, na 29ª edição do “Prêmio da Música Brasileira”.

A outra é a baiana Mariene de Castro. Vocacionada para a música desde criança, quando, ainda em Salvador, estudou canto, ela começou a carreira atuando como backing vocal de Carlinhos Brow, Márcia Freire e do grupo Timbalada. Em 1996, excursionou pela França, cantando em mais de 20 cidades, sendo aclamada pela crítica francesa e comparada – pasmem! – à diva Edith Piaf.

Mariene tem três CD’s de estúdio e outros dois gravados “ao vivo”, sendo um deles – chamado “Ser de Luz” – totalmente dedicado ao repertório de Clara Nunes, com quem muita gente a acha parecida. Não por acaso, ao prestar homenagem a Clara, no carnaval deste ano, a Portela arrepiou a arquibancada ao colocar Mariene na Comissão de Frente (ao lado), como se fosse a Sabiazinha.

Mariene e Almério estão cantando juntos desde 2017, no show “Acaso Casa”, que virou CD, lançado ontem, sexta-feira. O CD gravado “ao vivo” inclui 19 das 26 músicas do show, entre elas, “Espumas ao Vento”.

“Espumas ao Vento” ficou conhecida quando Fagner a gravou, em 1997. Antes, porém, ela já tinha sido gravada pelo forrozeiro Flávio José, num ritmo bem mais agitado. A música é de autoria do compositor pernambucano Accyoli Neto, falecido em outubro de 2000, aos 50 anos, vítima de um aneurisma cerebral.

Antes do aneurisma, Accyoli já tinha passado por maus bocados. Em 1993, ao voltar de Maceió(AL) para Recife(PE), ele sofreu um acidente que deixou-lhe várias sequelas e causou-lhe uma profunda depressão. Mesmo deprimido, ele continuou compondo, sendo “Espumas ao Vento” desse período.

Vamos ao vídeo:

PAULINHO MOSKA – “CINZAS”

Dia desses, sem coisa mais importante pra fazer, dediquei-me a ver um filme indicado por um amigo. “Sabor da Paixão” (Woman on Top, no original) é o nome que a película recebeu aqui no Brasil, com Penélope Cruz e Murilo Benício nos papéis principais.

O filme – uma co-produção EUA-Brasil-Espanha – conta uma história bobinha, no estilo comédia romântica. O detalhe está na trilha sonora, toda brasileira, com clássicos como “A Flor e o Espinho”, “Falsa Baiana”, “É Doce Morrer no Mar”, “Chão de Estrelas” e “Sonho Meu”.

Uma das músicas da trilha chama-se “Cinzas”, uma composição de Cândido das Neves, que, no filme, é cantada pelo Paulinho Moska.

Nascido em julho de 1899, Cândido das Neves, negro, era conhecido por um apelido que o Bolsonaro não aprovaria: Índio. Ele morreu jovem, com apenas 35 anos, em novembro de 1934, mas deixou uma obra imortal como compositor, com músicas como “Última Estrofe” e “Noite Cheia de Estrelas”, lançadas depois de sua morte.

Cândido das Neves herdou a veia artística do pai, mas o velho não queria que ele tocasse violão, uma vez que, na época, violão era tido como coisa de vagabundo. Índio foi obrigado, então, a aprender piano, mas, depois que o pai morreu, tratou de aprender a tocar violão, seu instrumento preferido. Suas biografias dizem que ele era violonista e compositor.

O velho deve tê-lo obrigado, também, a estudar em bons colégios, dado o vasto vocabulário que ele demonstrava em suas composições. Cândido – ou Índio – era especialista em escrever músicas com palavras difíceis e esquisitas.

Em “Última Estrofe”, por exemplo, ele usa duas dessas palavras: estrelejado e merencória. Não se tem notícia de que outro compositor tenha usado a primeira em alguma música. Já a segunda aparece também em “Aquarela do Brasil”, do Ary Barroso, outro grande conhecedor do vernáculo pátrio.

Foi, no entanto, na tal “Cinzas”, lançada em 1930, que Cândido das Neves quebrou o recorde, utilizando pelo menos cinco palavras pouco usuais. Vejam a letra:

Álgida saudade me maltrata
Desta ingrata
Que não me sai do pensamento
Cesse o meu tormento!
Tréguas à minha dor!
Ressaibos do meu triste amor
Atro é o meu grande martírio
Das sevícias tenho n’alma a cicatriz
Deus, tem compaixão deste infeliz
Mata meus ais
Por que sofrer assim se ela não volta mais?
Esse pobre amor que um dia floresceu
Como todo amor que é sem vigor, morreu
Ai, mas eu não posso esquecê-la, não
A saudade é enorme no meu coração
Versos que a pujança deste amor cantei
Lira de poeta que a sonhar vibrei
Cinzas, tudo cinzas eu vejo enfim
Esta saudade enorme que reside em mim
Morto ao dissabor do esquecimento
Num momento ebanizado da paixão
Está um coração que muitas dores padeceu
Um pobre coração que é o meu
Dentro de minh’alma que se aflige
Tem uma esfinge emoldurando muitas fráguas
Deus, por que razão que as minhas mágoas
A minha dor, não fogem da minha alma
Como fugiu o amor?

E agora, ouçam a música, no vídeo abaixo:

 

OS NOVOS BAIANOS – “NA CADÊNCIA DO SAMBA”

Alguns domingos atrás, no programa que apresento aos domingos na Regional FM, o Brasil & Cia, botei para rodar a Cássia Eller cantando um samba e, minutos depois, uma ouvinte ligou perguntando que música era aquela que a Cássia tinha cantado.

Era “Na Cadência do Samba”, uma parceria do Ataulfo Alves com o Paulo Gesta, lançado em 1962. Por sinal, existem dois sambas com esse mesmo nome. O outro, de autoria do Luiz Bandeira, foi lançado primeiro, em 1956.

Quem frequentou os cinemas nos anos 70 haverá de se lembrar do “Na Cadência do Samba” do Luiz Bandeira. O samba era a trilha sonora do famoso Canal 100, que mostrava lances de jogos de futebol, antes da exibição do filme da noite. “Que bonito é, as bandeiras tremulando, a torcida delirando…”. Não se lembra? Ouça a regravação do Casuarina, aqui, ou então veja o Canal 100 com o resumo de Brasil x Argentina, na Copa de 74, aqui.

O assunto do post, porém, não é o Luiz Bandeira, mas sim o Ataulfo Alves, que é nome de rua em Jales. Nascido em uma família muito pobre, na cidadezinha mineira de Miraí, em maio de 1909, Ataulfo morreu em abril – o mês cruel, segundo o Vinícius – de 1969.

Ataulfo é autor de sambas imortais, como é o caso de “Ai, Que Saudade da Amélia”, música que levou a palavra amélia aos dicionários. No Aurélio, por exemplo, significa “mulher que aceita toda sorte de privações e/ou vexames sem reclamar, por amor a seu homem”. No Priberam, “mulher meiga e serviçal”, e por aí afora.

Ele é também o autor – não posso deixar de registrar – da música preferida de um amigo deste blogueiro, o médico Joaquim Severino de Almeida: “Meus Tempos de Criança”, onde ele canta a saudade da professorinha que, lá no seu pequenino Miraí, ensinou-lhe o be-a-bá.

No vídeo, Os Novos Baianos emprestam uma nova roupagem ao samba “Na Cadência do Samba”.

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