Dado que ando um pouco ocupado vendo uma série mexicana da Netflix, hoje vou reproduzir a história da música “Lígia” – que muita gente pensa ser do Chico Buarque, mas que foi composta pelo Tom Jobim – contada pela musa inspiradora da canção, a professora Lygia Marina de Moraes, em texto retirado do facebook:
“Conheci Tom em uma tarde de chuva. O bar Veloso estava vazio, era junho e fazia frio. Eu e uma amiga, Cecília, nos sentamos na varanda e vimos o Tom conversando com o Paulo Góes (fotógrafo). Nós duas éramos professoras no colégio Brasileiro de Almeida, na Lagoa, e depois das aulas habitualmente íamos tomar um chope.
Ao ver as duas moças sozinhas, o papo começou e os dois acabaram se sentando na nossa mesa. A mãe de Cecília, costureira, fazia roupas para Thereza, a primeira mulher do Tom. Isso facilitou a aproximação. Quando contei ao Tom que era professora de sua filha Beth, que na época tinha 11 anos, ele teve um ataque de riso.
Naquela mesma noite, ele tinha prometido dar uma entrevista a Clarice Lispector para a revista Manchete, e convidou a mim e a Cecília para irmos com ele até a casa dela, no Leme. Na hora, eu disse: ‘Perfeitamente, estamos aí’.
Fomos no fusquinha azul-claro do Tom. Eu usava uma saia de lã e um suéter de caxemira. Quando Clarice abriu a porta, Tom, abraçado comigo e com Cecília, disse: ‘Trouxe minhas amigas.’. Ela fez cara de mau humor. Acho que imaginou que teria Tom somente para ela.
O clima piorou e Clarice ficou mais furiosa quando pediu a Tom que fizesse um poema para ela, como Vinicius [de Moraes] teria feito em entrevista anterior, e ele disse: ‘Não sou poeta. Se tivesse um violão…’. Mas aí pegou um bloco de papel-jornal e escreveu um poema para mim, que tenho guardado até hoje:
‘Teus olhos verdes são maiores que o mar/ Se um dia eu fosse tão forte quanto você/ Eu te desprezaria e viveria no espaço/ Ou talvez então eu te amasse/ Ai que saudades me dá/ Da vida que eu nunca tive’, e assinou: A.C.J. Saindo de lá, Tom me levou em casa.
Nos despedimos no carro, com um beijinho no rosto. Fiquei nervosíssima, mas parou ali. Tom era casado. Aquela carona foi nosso único encontro a sós. A música fala de tudo o que não aconteceu: o cinema, o passeio na praia… Depois disso nos encontramos muitas vezes, mas sempre em grupo.
Logo me casei com o cineasta Fernando Amaral e entrei para a turma. Vivi o auge de Ipanema. Conheci Leila Diniz, tivemos filhos pequenos na mesma época. Após quatro anos de casada e um filho, me separei. Depois me casei com o escritor Fernando Sabino. Em 1973, acho que Tom não sabia que eu estava casada com ele e ligou para o Fernando pedindo meu telefone.
Meu marido fez uma sacanagem: deu um número errado. Em seguida, ligou para o telefone que tinha dado e avisou: ‘O Tom Jobim vai ligar aí procurando uma Lygia, mas o telefone é tal’, e deu outro número errado.
Quando cheguei em casa, Fernando estava às gargalhadas. Os amigos ficaram sabendo dessa história, inclusive o Tom. Talvez daí tenha surgido a frase na música: ‘Desliguei, foi engano/ seu nome eu não sei…’
Um belo dia, estava sozinha em casa quando ouvi no rádio pela primeira vez o Chico cantando ‘Lígia’. Fui correndo comprar o disco. Na hora, me vi na letra. Ser homenageada já é maravilhoso, e ainda mais pelo Tom, com uma música linda e sofisticada. É uma glória!
Durante os 19 anos em que fui casada, Tom evitou falar a respeito. Quando eu já estava separada, Tom me encontrou por acaso na Cobal e falou: ‘Está chegando minha musa!’. Aí liberou geral.
Até hoje, em cada boteco que eu entro tocam ‘Lígia’. Faz parte do meu show. Virei imortal. Muita gente me cobra o fato de nunca ter acontecido nada entre a gente.
Mas será que não foi melhor ter ficado na fantasia? Talvez tivesse de ser essa a história: eu virar musa, entrar num bar e eternamente me lembrar do Tom, cheio de charme.”
No vídeo abaixo, “Lígia” é cantada por Tom e Roberto Carlos. Reparem que, nessa interpretação, Tom canta alguns versos inéditos:
Cantora e fotógrafa, Lizzie Bravo – a moça da foto – se chamava Elizabeth Villas Boas Bravo e tinha apenas 16 anos quando foi para a Inglaterra, em 1967. Beatlemaníaca, ela passava horas em frente ao prédio onde funcionava o famoso estúdio de Abbey Road, em Londres, na expectativa de ver os seus ídolos.
Foi assim que, um ano depois de sua chegada a Londres, ela não apenas conseguiu conhecer de perto os quatro rapazes, como experimentou a sensação indescritível de cantar com eles, fazendo backing vocal em uma gravação.
Sucedeu assim: num domingo gelado da capital inglesa, Lizzie e outras garotas que, como ela, amavam os Beatles, estavam dentro do prédio quando surgiu ninguém menos que Paul McCartney, perguntando se alguma delas alcançava uma nota aguda.
Lizzie se candidatou e, juntamente com uma garota inglesa, participou dos vocais na gravação de “Across the Universe”, versão que permaneceu arquivada pelos Beatles e só foi aparecer dez anos depois, em 1978, na coletânea Rarities.
A essa altura, Lizzie – a única garota brasileira que gravou com os Beatles – já tinha voltado ao Brasil e juntado as escovas de dentes com o compositor Zé Rodrix, com quem foi casada entre 1970 e 1972. E foi durante o casamento, em 1971, que Zé Rodrix, inspirado pelas bucólicas paisagens rurais que observara durante um viagem de trem a Goiânia, compôs “Casa no Campo”.
Conta a lenda que o verso “eu quero a esperança de óculos e um filho de cuca legal” foi escrito para Lizzie. Elis Regina conheceu essa música em um festival, do qual ela era jurada, e logo se interessou por gravá-la. A versão de Elis, lançada em 1972, alcançou um sucesso tão estrondoso que não era esperado nem por Zé Rodrix.
Lizzie (apelido inspirado na música “Dizzy, Miss Lizzy”, gravada pelos Beatles) morreu na segunda-feira, 04/10, aos 70 anos, vítima de problemas cardíacos, deixando sua história com John, Paul, George e Ringo eternizada nas páginas do livro “Do Rio a Abbey Road”, lançado em 2015.
Mas a história de Lizzie não inclui apenas os Beatles. Cantora de estúdio, ela emprestou sua voz para gravações de cantores como Djavan, Caetano Veloso, Elba Ramalho, Ivan Lins, Roberto Carlos, Maria Bethânia, Milton Nascimento, Alceu Valença, Alcione, Zé Ramalho e outros.
No vídeo abaixo, Pedro Mariano, um dos filhos de Elis Regina com o maestro César Camargo Mariano (Maria Rita é a outra filha), canta “Casa no Campo”, em homenagem à mãe.
Não, a senhora da foto não é a Leila Pinheiro. É, na verdade, a compositora Sueli Costa, que nasceu no Rio de Janeiro, mas foi criada em Juiz de Fora, nas Minas Gerais. Ela está aí porque é autora da música que a Leila Pinheiro canta no vídeo lá embaixo.
Ontem, primeiro dia do mês de outubro, não foi apenas o Dia Internacional do Idoso. Foi também o Dia Internacional da Música. Sobre a data, reproduzo abaixo, por interessante, um texto que pesquei na internet, de autor desconhecido:
O Dia Internacional da Música é comemorado anualmente em 1º de outubro.
Esta data tem o objetivo de homenagear uma das formas de arte mais apreciadas pelas pessoas: a música.
A ideia para criar o Dia Mundial da Música surgiu a partir de uma iniciativa da UNESCO, em 1975, através da International Music Council – uma organização não-governamental, fundada em 1949, e que tem o objetivo de promover a paz e a amizade entre os povos com o auxílio da música.
A música exerce uma profunda influência nos seres humanos, sendo capaz de emocionar, alegrar, surpreender, aterrorizar e etc. Consegue despertar todos os sentimentos, até os mais profundos.
Ela sempre esteve presente na história da humanidade, desde as tribos mais primitivas de seres humanos, seja como uma produção de cunho cultural e religiosa ou voltada exclusivamente para o entretenimento.
Trata-se de uma das mais antigas manifestações artísticas da humanidade, pois todos já nascemos com a pulsação do coração, que é considerada a primeira música que escutamos e produzimos.
E para comemorar o Dia Internacional da Música, nada melhor do que ouvirmos “Música, Música”, composição da Sueli Costa e do Abel Silva, gravada originalmente em 1980, pela Simone.
É possível que o prezado leitor ou a estimada leitora nunca tenha visto a Sueli Costa, mas é possível também que você já tenha cantado alguma de suas músicas, como “Jura Secreta”, “Face a Face”, “Dentro de Mim Mora um Anjo” ou “Coração Ateu”.
No vídeo, extraído da live “Leila canta Simone”, de março passado, quem canta “Música, Música” (companheira do quarto dos rapazes, entre revistas e fumaça; confidente do quarto das meninas, entre calcinhas e sandálias) é a Leila Pinheiro:
Sandra Pêra foi uma das seis integrantes do grupo As Frenéticas, que fez sucesso na segunda metade dos anos 70. O grupo surgiu de forma curiosa. Nelson Motta, que estava inaugurando uma casa de dança no Rio de Janeiro, batizada com o nome de Frenetic Dancing Days, teve a ideia de contratar algumas garçonetes que sabiam cantar para que, a certa altura da noite, elas subissem ao palco e cantassem umas quatro ou cinco músicas.
Sandra Pêra, que era cunhada do Nelsinho (ele era casado com a atriz Marília Pera) gostou da ideia e convidou algumas amigas para participar do projeto. O grupo recebeu o nome de As Frenéticas, numa referência ao nome da danceteria, e fez tanto sucesso que as moças logo abandonaram o uniforme de garçonete.
O grupo durou até 1984 e, depois de desfeito, Sandra chegou a gravar um disco solo, que não emplacou. Desde então, ela não gravou mais nenhum álbum e somente agora, após um hiato de 38 anos, está voltando ao mercado fonográfico com o álbum “Sandra Pêra em Belchior”, numa incursão ao repertório do falecido compositor cearense.
A escolha de Belchior não ocorreu por acaso. Conta a lenda que Sandra e Belchior chegaram a ter um breve romance, algo que ela desmente. O que Sandra não desmente é que Belchior teria se inspirado nela para escrever “Medo de Avião”, já que ela tinha pavor de avião.
Romance mesmo, pra valer, Sandra teve com outro compositor igualmente famoso: Gonzaguinha, com quem ela teve uma filha – Amora Pêra. À época, Gonzaguinha era casado com sua primeira mulher, Ângela, com quem teve dois filhos – Daniel e Fernanda. O dado curioso é que, mais tarde, Sandra e Ângela se tornaram amigas, enquanto as filhas se tornaram irmãs de fato.
E se Belchior fez “Medo de Avião” para Sandra, Gonzaguinha não poderia ficar atrás. “Na hora que eu estava entrando na sala de parto, ele pegou o toca fitas e colocou no meu ouvido a gravação de ‘Eu Apenas Queria Que Você Soubesse’. A letra tem muito a ver comigo…”, conta Sandra.
Ela conta também que, por coincidência, conheceu Gonzaguinha em um avião. “Quando conheci o Gonzaga, fiquei louca por ele e aí começamos uma história maravilhosa. A gente se encontrava, ele era um cara lisonjeiro, que sabia seduzir muito bem, com elegância. Quando engravidei, ele me perguntava o que eu queria dele, eu dizia que não queria nada. Eu era loucamente apaixonada por ele, mas não queria virar a mulher dele, não queria aquele papel”.
No álbum lançado recentemente, Sandra conta com alguns convidados especiais. Com Ney Matogrosso, ela faz dueto em “Velha Roupa Colorida”. Com Juliana Linhares canta “Galos, Noites e Quintais”. Tem a participação do grupo vocal Chicas, do qual sua filha Amora faz parte, na música “Pequeno Mapa do Tempo”. E tem, ainda, Zeca Baleiro.
Confiram, no vídeo abaixo, as performances de Sandra e Zeca, cantando “Na Hora do Almoço”:
Antonio Eustáquio Trindade Ribeiro é o nome que consta da certidão de nascimento de Toninho Geraes, cujo sobrenome artístico – Geraes – faz referência a Minas Gerais, seu estado de origem. Nascido em Belo Horizonte, em 14 de março de 1962, e morador do Rio de Janeiro desde 1979, ele conta 59 anos de idade e 35 de carreira.
Pouco conhecido, o compositor mineiro, autor de alguns sambas e pagodes de sucesso, ganhou os holofotes e o noticiário de TVs, jornais e sites de notícias nos últimos dez dias, além de ser um dos nomes mais citados nas redes sociais durante a semana.
Tudo porque Toninho está acusando a cantora e compositora britânica Adele de plagiar o samba “Mulheres”, canção composta por ele e gravada por Martinho da Vila em 1995, no álbum “Tá Delícia, Tá Gostoso”.
Vinte anos depois da gravação de Martinho, a gordinha Adele – que ganhou um Oscar em 2013 e diversos Grammys nos últimos anos – lançou, em 2015, a canção “Million Years Ago” (Um Milhão de Anos Atrás), composta por ela e o norte-americano Greg Kurstin.
Transcorridos mais alguns anos, os atentos e musicais ouvidos do produtor Misael Hora, filho do gaitista Rildo Hora, perceberam semelhanças entre as duas músicas. Submetida a uma perícia, constatou-se que a canção de Adele tinha nada menos que 48 compassos idênticos e outros 40 muito semelhantes aos de “Mulheres”.
Para configurar um plágio, bastam 8 compassos idênticos. Segundo a perícia, dos 3 minutos e 43 segundos da música de Adele, pelo menos 3 minutos são parecidíssimos com a melodia de “Mulheres”. Para quem entende do assunto, trata-se de um plágio descarado.
Outro caso famoso de plágio envolveu Jorge Benjor e Rod Stewart. Uma música do cantor e compositor escocês – “Da Ya Think I’m Sexy” – que alcançou o primeiro lugar nas paradas em 1979, tem um trecho idêntico ao refrão de “Taj Mahal”. Processado, Stewart teve que desembolsar uma grana, mas Benjor decidiu doar o dinheiro à Unicef. (Se você tiver um tempinho, veja reportagem do Fantástico, aqui)
Compositores como John Lennon e George Harrison também já foram acusados de plágio, por “Come Together” e “My Sweet Lord”, respectivamente. Aqui no Brasil, nem sua majestade o Rei Roberto Carlos escapou. O músico Sebastião Braga processou Roberto por “O Careta”, que seria um plágio de “Loucuras de Amor”.
Sebastião, que era maestro, brigou por 15 anos na Justiça com Roberto Carlos e acabou chegando a um acordo para receber R$ 200 mil. Quatro meses depois do acordo, ele morreu de parada respiratória, aos 49 anos, sem ver a cor do dinheiro.
Voltando ao caso Toninho Geraes/Adele, o fato é que o assunto gerou muita discussão e diversos memes nas redes sociais. Gerou, também, alguns vídeos com mixagens das duas músicas. O vídeo abaixo, que junta as duas canções, é um dos mais interessantes:
O português Fernando António Nogueira Pessoa, ou simplesmente Fernando Pessoa, é certamente o poeta preferido da baiana Maria Bethânia. Nascido a 13 de junho de 1888, em Lisboa, ele morreu jovem, em 1935, com apenas 47 anos, mas deixou uma obra imensa.
Aos 5 anos de idade, ele ficou órfão de pai. Sua mãe, então, casou-se com um militar, um cônsul da África do Sul, lugar onde Fernando Pessoa deu início aos seus estudos, em inglês. Voltou para Portugal aos 17 anos, onde morou até seu falecimento, em 1935.
Sua produção literária era tão múltipla que ele utilizou o recurso de criar diversos heterônimos, ou seja, criar e assumir outras personalidades literárias para assinar diferentes obras escritas por ele. Os heterônimos mais usados pelo poeta, cada qual com seu próprio estilo, foram três: Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis.
Fernando Pessoa chegou a criar uma biografia para cada um deles, dando-lhes vida própria. Alberto Caeiro, por exemplo, era órfão e vivia com uma tia camponesa. Recebeu apenas a instrução primária e, por isso, sua poesia era caracterizada, aparentemente, pela simplicidade. Ele era conhecido como o poeta da natureza.
Já Ricardo Reis era o contrário de Caeiro. Na biografia criada por Pessoa, ele foi educado em um colégio de jesuítas, tornou-se médico, monarquista e revelava-se um verdadeiro apreciador da cultura clássica. Sua poesia é caracterizada pela racionalidade, linguagem clássica e vocabulário erudito. Por isso mesmo, era chamado de o poeta erudito.
Por fim, o terceiro heterônimo, Álvaro de Campos que, na biografia criada por Pessoa, era engenheiro naval mas nunca exerceu a profissão. Campos era considerado o alter ego de Pessoa, já que, assim como o poeta, foi educado em inglês. A poesia de Campos valorizava a modernidade e, ao mesmo tempo, era pessimista. Ele ficou conhecido como o poeta da vida moderna.
Além dos três mais famosos, Pessoa assinou obras com o pseudônimo de Bernardo Soares, considerado um semi-heterônimo, pois sua poesia tinha características muito parecidas com as do próprio Fernando Pessoa. Com o nome de Bernardo Soares, Pessoa escreveu um único livro: “O Livro do Desassossego”, de onde Maria Bethânia retirou algumas poesias declamadas no disco “Imitação da Vida”, de 1998.
A conhecidíssima frase “tudo vale a pena se a alma não é pequena” é de uma poesia de Fernando Pessoa (“Mar Português”). Outra frase icônica, “navegar é preciso, viver não é preciso”, também é atribuída ao poeta português, assim como a Caetano Veloso, mas, embora esteja presente em uma poesia de Pessoa e em uma música de Caetano (“Os Argonautas”), não pertence nem a um, nem a outro. A frase teria surgido no Império Romano.
Segundo li, há mais de 20 anos, em uma crônica do Carlos Heitor Cony, a frase é de um general romano chamado Pompeo. Ele teria sido encarregado de levar alimentos a soldados romanos em guerra, que estavam ficando sem comida.
Pompeo encheu um navio de mantimentos, mas, na hora de partir, os marinheiros se negaram a entrar no mar, que estava revolto. O general, então, ergueu sua espada e, mais bravo que o Bolsonaro no cercadinho, decretou que “navegar era preciso, viver nem tanto”.
No vídeo, Bethânia canta “Mensagem”, dos compositores Aldo Cabral e Cícero Nunes, lançada originalmente em 1946 pela cantora Isaurinha Garcia, considerada a Edith Piaf brasileira. A gravação de Bethânia inclui “Todas as Cartas de Amor São Ridículas”, poema de Fernando Pessoa, assinado por seu heterônimo Álvaro de Campos.
Eu já escrevi sobre o grupo Choro das 3 neste modesto blog, em pelo menos duas ocasiões – aqui e aqui. Integrado pelas talentosíssimas Corina (flauta), Lia (violão 7 cordas) e Elisa Meyer Ferreira (bandolim, piano, clarinete, acordeon), o grupo tinha um quarto integrante: o pai das meninas, Eduardo Ferreira, o seo “Dudu”.
Eduardo, que aprendeu a tocar pandeiro e outros instrumentos de percussão para acompanhar as filhas, foi uma das vítimas da covid-19. Toda a família contraiu o vírus, segundo explicou uma das meninas em uma live, poucos dias antes do pai morrer. Elisa, a caçula, foi a primeira. A mãe, dona Maria Cristina, chegou a ser hospitalizada e, felizmente, resistiu ao vírus.
Já Eduardo, depois de alguns dias intubado e não obstante as orações feitas pelos amigos e pelos fãs do grupo, não resistiu às complicações da covid. Ele, que não tinha comorbidades e ainda não tinha sido vacinado, morreu no Dia dos Namorados, 12 de junho, um sábado.
O dado relevante, além da falta que ele fará à família, é que Eduardo morava em Porto Feliz, cidade frequentemente citada por Jair Bolsonaro, Alexandre Garcia, Carlos Wizard e outros bolsonaristas, como modelo de sucesso do tal tratamento precoce. O prefeito era elogiado por distribuir cloroquina nos postos de saúde. Até ontem, 03/09, a cidade contabilizava 146 óbitos por covid.
Deixemos, porém, a boçalidade bolsonarista de lado. A nós que gostamos da boa música, o que nos interessa mesmo é que as meninas se recuperem do duro golpe e voltem a nos presentear com as suas lives musicais. Elas, que se apresentavam sempre às quintas-feiras, se quedaram mudas desde que o pai morreu.
No vídeo abaixo, Eduardo Ferreira e as filhas, acompanham o seresteiro Paulo Godoy, no clássico chorinho “Carinhoso”, de Pixinguinha e João de Barro:
Há alguns domingos, no Dia dos Pais, eu toquei no Brasil & Cia – o programa que apresento na Regional FM – algumas músicas que tinham os pais como tema ou como inspiração, como é o caso de “Naquela Mesa”, que o Sérgio Bittencourt fez em homenagem ao pai, o Jacob do Bandolim.
Uma dessas músicas foi o chorinho “Pai e Mãe”, do Gilberto Gil, que ele compôs no dia em que completou 33 anos (26 de junho de 1975) e gravou naquele mesmo ano, no disco Refazenda. A versão que toquei – muito bonita, por sinal – foi a do Ney Matogrosso, gravada em 1992 para o songbook do Gil.
“Pai e Mãe” é uma música de confissão de afeto profundo pelos pais e, ao mesmo tempo, de contestação aos valores conservadores da época. Ela foi escrita em forma de recado, no qual Gil recorre à mãe como interlocutora de uma mensagem ao pai.
José Gil Moreira, o pai, era um médico baiano de costumes conservadores e, pelo que a música dá a entender, talvez tenha se incomodado com o comportamento moderno do filho, que incluía beijar amigos homens na TV, desrespeitando, segundo um censor da ditadura, “os valores vigentes da sociedade”.
Eis um trecho do recado:
Como é, minha mãe? Como vão seus temores? Meu pai, como vai? Diga a ele que não se aborreça comigo Quando me vir beijar outro homem qualquer Diga a ele que eu quando beijo um amigo Estou certo de ser alguém como ele é Alguém com sua força pra me proteger Alguém com seu carinho pra me confortar Alguém com olhos e coração bem abertos Para me compreender
Na gravação original, de 1975, Gilberto Gil foi acompanhado por instrumentistas geniais, como Canhoto, Altamiro Carrilho e Dino 7 Cordas. Na regravação lançada ontem, 27/08, nas redes sociais, Gil canta em dueto com a filha Preta Gil, acompanhado pelos filhos Bem Gil (guitarra) e José Gil (bateria) e pelo neto João (baixo).
A dupla Neto & Felipe lançou na última sexta-feira (20) o medley Se eu chorar/ Logo eu / Sinto falta de você, clássicos de Jorge & Mateus e Victor & Leo que representam o sertanejo romântico e que ganharam uma nova cara com arranjos criados pelo produtor musical Gabriel Pascoal e o diretor artístico Luís Henrique Paloni.
A faixa é parte integrante do novo DVD Saudade é Mato, gravado em uma exuberante paineira com vista para a cidade de Jales, interior de São Paulo.
Ainda compõem este novo trabalho mais um medley e três canções inéditas, sendo que a música que dá título ao DVD, Saudade é Mato, teve a participação mais do que especial da dupla Guilherme & Santiago.
Nem o coxinha Zé Ramalho está querendo cantar com o moço do “Berrante de Ouro”. Deu no UOL:
O cantor Zé Ramalho, de 71 anos, anunciou hoje que não participará mais do novo álbum do cantor Sérgio Reis, de 81 anos, e desautorizou o uso de sua música “Admirável Gado Novo” pelo sertanejo, segundo a coluna de Ancelmo Gois no jornal O Globo.
“Embora o artista Zé Ramalho tenha participado como convidado na gravação da canção ‘Admirável Gado Novo’, no disco do cantor Sérgio Reis em maio de 2019, agora em 2021 a gravação perdeu o sentido e tanto o compositor quanto sua editora não autorizarão a utilização da obra”, disse Zé Ramalho em nota.
Além do paraibano, nomes como Maria Rita e Guilherme Arantes também anunciaram suas desistências nesta semana e não farão participações no novo disco de Sérgio Reis.