O NATAL DA RUA 25 DE MARÇO
Do jornalista Fernando Brito, no Tijolaço:
Nenhum texto, reportagem ou análise econômica, pode ser tão expressivo do que se passa no Brasil que o par de fotos estampados hoje na capa do Estadão.
O repórter fotográfico Márcio Fernandes, com extrema precisão, conseguiu reproduzir a foto feita por seu colega Leonardo Fernandes, há seis anos.
Tudo é perfeitamente igual na Rua 25 de Março, centro de comércio popular da cidade de São Paulo.
Tudo, menos o fato de que há na rua, menos da metade das pessoas que havia há seis anos, naquele 2010 do qual muita gente já esqueceu.
Esta metade, feita de gente – gente com família, crianças, amigos, pais idosos, gente que é tão cheia do direito de viver quanto eu ou você – sumiu. Tornou-se invisível, saiu, em maior ou menor grau, da roda da economia.
A sua ausência não é acidental. Seu desaparecimento é um projeto, um programa, uma estratégia da perversidade neoliberal.
O cerne do projeto neoliberal é este: fazer “desaparecer” uma parte da população. Que não vai à 25 de março, que não vai mais ao hospital, ou irá a um mais precário, como mais precária serão suas escolas, suas periferias, suas casas lá onde a elite não as vê.
O Brasil desta gente é como a 25 de março, basta metade existir. A outra metade é um problema, jamais uma solução.
E olhe que, em 2010, Leonardo fez a foto no dia 11. Faltavam duas semanas para o Natal e o 13°, para a maioria, ainda não havia sido pago. Márcio a fez agora, quando tudo deveria estar a pleno vapor.
O Brasil dos Levy, dos Meirelles, dos Moro e Dallagnóis é assim, bem mais civilizado.