SÃO PAULO ESTÁ PUXANDO O CRESCIMENTO DO BRASIL PARA BAIXO
Vira e mexe, a propósito de criticar o governo Dilma, o urubólogo Alexandre Garcia – que até agora não falou um único “a” sobre a participação do J.Hawilla, parceiro e sócio dos patrões dele, os Marinho, no escândalo de corrupção da Fifa – faz comentários sobre o PIB nacional.
Há alguns dias, por exemplo, ele afirmou que o nosso PIB está crescendo menos que o da Grécia. E deve estar mesmo! O que o ex-porta-voz da ditadura não diz é que o PIB nacional está sendo puxado para baixo pelo estado de São Paulo, que, há vinte anos, é governado pelos tucanos.
Hoje mesmo, os jornais pernambucanos estamparam manchetes festejando um crescimento de 2% no PIB de Pernambuco, em 2014. Há alguns dias, foi Goiás, governado por um tucano, quem anunciou um crescimento de 1,8% em 2014, enquanto o país apresentou resultado negativo. Em 2013, quando o Brasil cresceu 2,3%, Goiás teve um crescimento de 3,1%.
Em contrapartida, enquanto o PIB brasileiro do ano passado ficou em 0,10% negativo, o PIB paulista foi de quase 2% negativo. No primeiro trimestre de 2015, a retração da economia do país, em relação ao primeiro trimestre de 2014, foi de 1,6%. A retração de São Paulo foi mais que o dobro disso: 3,3%.
Tem sido assim nos últimos anos. Enquanto as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste puxam o PIB para cima, São Paulo puxa para baixo. As estatísticas mostram que, em 1995, a participação de São Paulo no PIB brasileiro era de 37,3%. Em 2014, essa participação foi estimada em 28,7%. Em valores isso significa R$ 450 bilhões a menos na economia paulista.
De outro lado, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que participavam com 24,7% em 1995, hoje já participam com quase 29%, ou seja, mais que a “locomotiva”. A região Sul, que participava com 16,2% do PIB nacional, continua no mesmo patamar.
São muitas as razões que estão fazendo São Paulo perder espaço. A guerra fiscal e o consequente enfraquecimento do setor industrial é uma dessas razões. Aqui mesmo, em Jales, temos exemplos de industriais que estão preferindo investir no Mato Grosso do Sul.
E, por falar em indústria paulista, reproduzo abaixo um trecho do que escreveu o jornalista carioca Paulo Copacabana, no blog Viomundo:
Todos sabem que o “motor da economia” está localizado no setor industrial, onde repousa o verdadeiro progresso tecnológico, os melhores empregos, a maior produção de valor adicionado.
A perda de importância do Estado de São Paulo tem a ver com esta questão, ironicamente agravada pela política dos anos FHC na década de 90, que aprofundou a desindustrialização paulista e brasileira, com forte valorização cambial e a perda de importantes “elos da cadeia produtiva” no país. Já naquele período fomos invadidos por produtos estrangeiros, e setores inteiros da economia paulista foram sendo desmontados (têxtil, calçadista, autopeças, etc.).
Engraçado, muitos paulistas que conheço adoram FHC, um dos maiores responsáveis pela perda de importância do Estado no cenário nacional.
Por outro lado, detestam o governo Lula, que, ao ampliar o mercado de consumo interno, permitiu que milhares de empregos fossem criados no Estado, reativando fortemente as empresas paulistas.
Este fôlego, contudo, não poderia se sustentar, uma vez que a “armadilha” da valorização cambial não foi desmontada pelo governo federal e os governos paulistas não quiseram “montar” políticas desenvolvimentistas regionais.
No Estado de SP, manteve-se a política do “ajuste fiscal permanente”, prevalecendo os megassuperávits fiscais em detrimento do desenvolvimento.
Tudo isso, aliado à política de fortes investimentos sociais e de infraestrutura do governo federal na região Nordeste, o “boom” do agronegócio no Centro-Oeste e a economia do petróleo no Rio de Janeiro, está fazendo com que o Estado se torne não mais a locomotiva do país, mas um enorme e pesado vagão deste trem.
Talvez esta questão explique a beligerância atual da elite paulista em relação aos governos Lula e Dilma. Como diria aquele marqueteiro americano, “É a economia, estúpido”.
O ódio ao governo federal e suas políticas sociais e desenvolvimentistas tornam-se a explicação para todos os problemas do Estado bandeirante. Em parte estão certos, na medida em que nestes últimos anos o governo federal passou a investir forte nas regiões mais pobres do país.
Em grande parte, estão errados, na medida em que o Estado de SP não fez sua lição de casa: vendeu todas as suas instituições de fomento (Banespa, Nossa Caixa); deixou de implantar um verdadeiro sistema de inovação, aproveitando o potencial das suas universidades, institutos e fundações de pesquisa; permitiu o avanço da monocultura da cana-de-açúcar em todo o interior; deixou de implantar políticas de desenvolvimento nas regiões mais pobres do Estado, que continuam como sempre estiveram; assistiu ao desmonte de grande parte do seu parque industrial.