Categoria: Música

LULU SANTOS E MARINA DE LA RIVA – “ADIVINHA O QUÊ”

Assim como o Ney Matogrosso – assunto deste modesto blog na semana passada – Lulu Santos é filho de militar. Batizado Luís Maurício Progana dos Santos, ele começou a tocar aos doze anos e, adolescente ainda, formou uma banda inspirada nos Beatles.

O pai o queria militar também, mas, não muito disposto a realizar o sonho do velho, Lulu Santos tratou de fugir de casa antes mesmo de completar o colegial e foi percorrer o Brasil junto com alguns hippies. Aos vinte anos, já tendo se dispensado da companhia dos hippies, ele se juntou ao Lobão e ao Ritchie, formando a banda Vímana.

O casamento musical não durou muito e Lulu acabou expulso da banda pelo tecladista Patrick Moraz, ex-Yes. Já o casamento com a jornalista Scarlet Moon, que ele conheceu em uma festa na casa de Caetano Veloso, até que durou bastante: de 1978 a 2006.

Findo o enlace hétero, Lulu manteve, de 2008 a 2016, um discreto namoro com o empresário Bruno Azevedo. Em 2018, aos 65 anos, ele saiu definitivamente do armário e assumiu publicamente sua bissexualidade, ao mesmo tempo em que anunciava um novo namoro, dessa vez com o analista de sistemas Clebson Teixeira, com quem se casou.

Isso, porém, não nos interessa. O que interessa, na verdade, é a grande obra musical de Lulu Santos, que já conta com 22 álbuns de estúdio e mais de 7 milhões de discos vendidos. “Adivinha o Quê” integra o segundo álbum de Lulu – “O Ritmo do Momento”, de 1983 – que trouxe também os megassucessos “Um Certo Alguém” e “Como Uma Onda”, esta última composta para a trilha sonora de um filme.

“Adivinha o Quê” também integrou uma trilha sonora, só que de uma novela, a telelágrimas global “Guerra dos Sexos”, de 1983. A versão do vídeo é cantada quase totalmente em castelhano, mas dá para entender.

Sobre a esfuziante Marina de La Riva – filha de pai cubano e mãe mineira – eu já escrevi alguma coisa aqui, de modo que o melhor a fazer, agora, é vê-la cantando com Lulu:

NEY MATOGROSSO – “HOMEM COM H”

Nascido em Bela Vista(MS) – daí o Matogrosso – Ney de Souza Pereira teria, por força do trabalho de seu pai, um oficial do Exército, morado em Fernandópolis por algum tempo. Os fernandopolenses mais antigos dizem até que ele tinha uma irmã muito bonita e, por isso mesmo, muito paquerada pelos moçoilos casadoiros da ex-Vila Pereira.

Diz a lenda que Ney, sem nenhuma ligação com a música nordestina, quase não gravou “Homem com H”, do compositor paraibano Antonio Barros, um dos maiores sucessos do rebolativo ex-vocalista do Secos & Molhados.

Segundo a lenda, Ney teria recusado a oferta da música. Cecéu, também compositora (autora de “Bate Coração”, da Elba) e esposa de Barros, desmente essa versão. O fato, porém, é que “Homem com H” é a última música do lado B do disco “Viajante”, gravado em 1981. Um empurrãozinho e ela teria ficado de fora.

É fato também que Ney ficou conhecendo “Homem com H” através de um disco de xote do Trio do Nordeste. O cearense Fausto Nilo foi quem mostrou o disco a Ney, sugerindo que ele também gravasse a música de Barros.

Receoso em gravar o xote – afinal, poderia ser contraditório um sujeito de voz fina, cheio de trejeitos, dizendo que “sou homem com agá” – Ney consultou amigos. Gonzaguinha, um dos consultados, foi decisivo ao dizer a Ney que “essa música é a sua cara”.

Antonio Barros, hoje com 89 anos, conta que a inspiração para “Homem com H” veio da novela “O Bem Amado”, do genial Dias Gomes, exibida em 1973 com atuações impagáveis de Paulo Gracindo, Lima Duarte e outros.

Gracindo interpretava Odorico Paraguaçu, um político corrupto (sic!). Em meio a uma conversa com seu secretário, Dirceu Borboleta (Emiliano Queiroz), Odorico, a pretexto de garantir que era cabra macho, sapecou: “Que nada seu Dirceu! Eu nunca vi rastro de cobra nem couro de lobisomem…”.

Com a frase na cabeça, Barros pegou o violão e, em menos de uma hora, estava pronta a música. Ele pensou em entregar a composição a Ney, à época no Secos e Molhados, mas não tinha como chegar ao grupo. Entregou, então, ao Trio Nordestino, o primeiro a gravar.

Oito anos depois de composta, a música chegou, finalmente, ao conhecimento de Ney Matogrosso. O sucesso foi tamanho que, no ano seguinte, Ney gravou “Por Debaixo dos Panos”, de autoria de Cecéu, a mulher de Antonio Barros. Em 2011, “Homem com H” ganhou uma belíssima releitura do Zeca Baleiro.

Abaixo, um vídeo com Ney cantando:

PAULINHO PEDRA AZUL – “CANTAR”

A música mineira é uma das mais ricas – em qualidade – do Brasil, não apenas por seus compositores mais famosos, mas também por aqueles menos conhecidos.

Godofredo Guedes – mineiro por adoção, já que nascido na Bahia – é um desses compositores quase anônimos. Mais conhecido como pai do Beto Guedes, Godofredo possui uma obra musical praticamente desconhecida fora de Minas Gerais.

Godofredo teve que se virar trabalhando como luthier, farmacêutico, pintor de placas, etc., para conseguir criar seus oito filhos. Nas horas vagas, fazia música. Beto, o filho mais famoso o homenageou de uma forma bem apropriada: em seus discos, ele sempre reservava a última faixa para uma música do pai.

Foi assim que, em 1978, Beto gravou “Cantar”, um lindo chorinho do velho Godofredo, no disco “Amor de Índio”. Regravada dois anos depois por Cristina Buarque, a irmã do Chico, “Cantar” talvez seja a música mais conhecida de Godofredo, que faleceu em 1983, com 75 anos.

Além de Beto e Cristina, “Cantar” mereceu outras releituras de artistas como Luiza Possi, Paulinho Pedra Azul (cujo CD com essa música me foi presenteado, há muitos anos, pelo amigo Hermínio Martini) e Affonsinho (assim mesmo, com dois efes, para diferenciar do ex-jogador Afonsinho, homenageado por Gil em “Meio Campo”).

Uma das mais belas versões de “Cantar” é a da Paula Toller, que gravou essa canção em seu primeiro disco solo, “Derretendo Satélites”, de 1998. Uma curiosidade: nas versões de Luiza Possi, Cristina Buarque e Paula Toller, a letra da música não é cantada por inteiro.

Outra curiosidade: no enterro do ex-jogador Sócrates – o líder da democracia corintiana – a última homenagem dos amigos, em torno do caixão, foi uma interpretação improvisada de “Cantar”, uma das favoritas do “Magrão”.

No vídeo abaixo, Paulinho Pedra Azul, acompanhado apenas por seu violão, interpreta “Cantar” no programa Sr.Brasil, do Rolando Boldrin:

PLAYING FOR CHANGE – “STAND BY ME”

“Stand by Me” é uma música de amor muito tocada em casamentos, principalmente em países de língua inglesa. Quem acompanhou, por exemplo, o casório do Príncipe Harry e Meghan Markle, no ano passado, deve ter observado que um dos momentos mais emocionantes da cerimônia foi a interpretação dessa canção por um coral.

Mas “Stand By Me” não é apenas uma canção romântica. Sua letra tem, também, uma potente mensagem política que foi usada pela comunidade negra como um grito de solidariedade e luta, durante o movimento por direitos civis nos Estados Unidos, nos anos 60.

Ela não deve ter sido escolhida para a trilha sonora do casamento real por acaso ou apenas por ser uma das músicas preferidas dos noivos. Afinal, Meghan é a primeira mulher birracial – a mãe dela é negra e o pai é branco – a entrar na família real britânica.

Ben E. King, um dos autores – os outros foram Jerry Leiber e Mike Stoller – de “Stand By Me” contou que fez a música em 1960 e, orgulhoso da nova melodia que tinha criado, enviou-a à banda The Drifters, da qual fizera parte, mas a banda, aparentemente, não se interessou.

Um ano depois, Ben entrou em estúdio para gravar uma música – “Spanish Harlem” – e, depois da gravação, os produtores perguntaram se ele não tinha alguma outra canção. Ele cantou “Stand By Me” à capela, os produtores gostaram e decidiram gravá-la.

Para resumir, com mais de 400 versões gravadas por artistas diferentes – de Muhammad Ali a John Lennon e Tracy Chapman – “Stand By Me” é considerada a música mais regravada do século XX.

A música esteve entre os maiores sucessos nas paradas dos EUA duas vezes. A primeira, quando foi lançada, em 1961. E a segunda em 1986, quando integrou a trilha sonora do filme “Conta Comigo”. Ela está entre as dez músicas que renderam mais direitos autorais aos seus compositores.

No vídeo abaixo, quem canta “Stand By Me” são vários artistas de rua de diversos países, que integram o projeto “Song Around The World”. Escolhi esse vídeo porque ele traz a tradução da música. Confira:

RAQUEL TAVARES E XANDE DE PILARES – “SEM FANTASIA”

Eu já postei aqui no blog um vídeo em que Chico Buarque e Maria Bethânia cantam “Sem Fantasia”, uma de minhas músicas preferidas. E, sendo uma de minhas preferidas, acho que vale um repeteco. Afinal, “Sem Fantasia” tem várias versões. Chico e Bethânia, por exemplo, a gravaram duas vezes, a primeira em 1975 e a segunda em 2001, ambas ao vivo.

O próprio Chico já gravou “Sem Fantasia” pelo menos mais duas vezes: uma, mais antiga, com Caetano Veloso, e outra, de 2004, com a cantora Paula Santoro. Oswaldo Montenegro também gravou uma bonita versão, cantando com Tania Maya. Outra bela releitura é a do Emílio Santiago, em dueto com a Joyce.

Eu tenho dois bons motivos para gostar de “Sem Fantasia”. Um deles não vem ao caso. O outro é porque essa música é uma das 12 canções do primeiro LP do Chico que eu comprei, quando tinha uns 14 anos. No tal LP, de 1968, Chico, àquela altura com 24 anos, canta com sua irmã Cristina, seis anos mais nova.

“Sem Fantasia” foi composta para “Roda Viva”, a peça do próprio Chico Buarque, interrompida pelo Comando de Caça aos Comunistas (CCC) durante uma apresentação, na qual os artistas foram agredidos, entre eles a atriz Marília Pera. Depois, a peça foi censurada pelo regime militar, classificada como “subversiva”. Um exemplo da “subversão”: numa cena, um ator, vestido de soldado, defeca no próprio capacete.

Os prezados leitores devem ter notado, nos exemplos acima, que “Sem Fantasia” é sempre cantada em dueto. Isso não é uma coincidência: ocorre que a letra traz declarações de amor de uma mulher para um homem e vice-versa. Na primeira parte, é a mulher quem faz sua declaração de amor. E na segunda, é a vez do homem.   

Um detalhe que torna a interpretação de “Sem Fantasia” muito difícil, principalmente nas versões ao vivo, é que na segunda parte o homem e a mulher cantam suas respectivas declarações ao mesmo tempo.

No vídeo abaixo, a bela canção do Chico é interpretada pelo sambista Xande de Pilares e pela fadista portuguesa Raquel Tavares, em gravação de 2013. Raquel, atualmente com 35 anos, ganhou destaque aos 12 anos, ao vencer um festival de fados em Portugal.

Fã da música brasileira, ela gravou, em 2017, um CD só com músicas do Roberto Carlos. Reparem que ela, como a Bethânia, a Simone, a Cesária Évora e outras, gosta de cantar descalça.

  

ROBERTA SÁ, PAULO MIKLOS E DEMÔNIOS DA GAROA – “OS AMANTES”

Completando 50 anos de carreira e mais de 5.000 mil shows mundo afora – um deles aqui em nossa pacata urbe, em um baile do Jales Clube, nos anos 80 – o cantor, compositor e escritor Luiz Ayrão (Luiz Gonzaga Kedi Ayrão) é mais conhecido como sambista.

“Porta Aberta”, “O Lencinho”, “No Silêncio da Madrugada” e “Bola Dividida”  (regravada pelo Zeca Baleiro) são alguns de seus sambas mais conhecidos. Mas ele fez sucesso, também, com composições românticas, como é o caso de “Reencontro” e “Os Amantes”.

O maior sucesso romântico de Luiz Ayrão – como compositor – talvez tenha sido “Nossa Canção”, que o Roberto Carlos gravou em 1966 e regravou, ao vivo, em 1998. Roberto Carlos e Luiz Ayrão se conheceram bem antes de o Rei se tornar conhecido. Eles foram vizinhos (e amigos), quando Roberto deixou Cachoeiro do Itapemirim e foi morar no Rio de Janeiro.

Por isso mesmo, antes de gravar “Nossa Canção”, Roberto já tinha gravado “Só por Amor”, outra música de Ayrão, em disco de 1962. “Nossa Canção” ficou conhecida também com a Martinha e, regravada pela Vanessa da Matta em seu disco de estreia, de 2002, foi o primeiro sucesso da cantora e compositora mato-grossense (Alto Garças).

Com Vanessa, “Nossa Canção” já integrou a trilha sonora de duas novelas globais: Celebridade (2003) e A Regra do Jogo (2015). A música deste post, no entanto, é outra: a menos conhecida “Os Amantes”.

Regravada pelo cantante Daniel em 2005, “Os Amantes” fez sucesso entre o público sertanejo, que, certamente, nem sabia que se tratava de uma regravação. Antes, já fizera sucesso com a gravação do próprio autor, Luiz Ayrão, em disco de 1978.

E agora, 41 anos depois de lançada, essa música mereceu mais uma bela releitura, dessa vez com a Roberta Sá, o ex-Titã Paulo Miklos e o grupo Demônios da Garoa. Confiram no vídeo:

ADRIANA CALCANHOTTO – “VAMBORA”

“Vambora” foi lançada em 1998 e integrou a trilha sonora da novela “Torre de Babel”. Já foi regravada por diversos artistas. A própria Adriana fala que a versão da Simone é uma das que ela mais gosta, mas a regravação de Bibi Ferreira – pelo que representa a grande dama do teatro – é a que ela considera “top”.

Adriana conta, também, que “Vambora” é a música que não pode faltar nos seus shows e, normalmente, é o momento mais aguardado pela plateia, que sempre canta junto com ela.

Um dia desses, querendo saber mais sobre a vida e as músicas da Adriana Calcanhotto, encontrei o texto abaixo, de um rapaz chamado Hevanderson, sobre a canção “Vambora”. Ei-lo:  

“Vambora” de Adriana Calcanhotto fala da solidão dos que amam. Aquela ansiedade e a quase que incontrolável sensação de vazio de quem espera outro alguém bater à porta. Quem nunca se sentiu tentado a pegar o telefone e ligar quantas vezes fosse preciso para falar com a tal pessoa que faz o coração disparar?

Fica aqui a pergunta: o que você faria se tivesse só meia-hora para mudar a vida de outra pessoa?

Existem tantas ocasiões onde ficamos assustadoramente sozinhos que cometemos um equívoco (ou agimos de forma egoísta) quando pensamos na solidão somente em sua forma romântica: quando a pessoa amada está longe ou ainda quando não se é amado/correspondido.

Já parou para pensar o quanto estamos sozinhos em nossas convicções e ideais, ainda que elas se baseiem no coletivismo? Pense também o quão sós estão aqueles que sabem estar próximos da hora de sua morte.

Normalmente não sigo uma ordem para ouvir minhas músicas, escolho uma de início, dou o “play” e deixo rolar. Sempre que meu iTunes passa por “Vambora” eu presto total atenção na música, não importa como estiver o meu humor ou meu dia. “Entre por esta porta agora….”, tenho a utópica sensação de que ela está falando para mim:

Mas são os pequenos detalhes nessa música que são motivo deste texto, ou dois versos para ser mais específico. Através deles chegaremos a dois clássicos da poesia nacional: “Dentro da Noite Veloz” (Ferreira Gullar) e “Na Cinza das Horas” (do “imortal”, Manuel Bandeira).

Dentro da noite veloz é um livro essencialmente político, mostra um Gullar preocupado com a situação do Brasil (que vivia o regime militar). A luta contra o regime foi coletiva, mas o momento da tortura era de extrema solidão à vítima. No poema “Dentro da Noite Veloz”, que dá nome ao livro, apesar de não falar especificamente do Brasil, é possível sentir a solidão daqueles que lutam em prol de uma causa e sofrem por ela.

“Na Cinza das Horas” foi o primeiro livro de Manuel Bandeira. Com poemas tristes e fúnebres, que demonstram como se sente uma pessoa que se aproxima da morte. Alguns dos poemas contidos no livro foram escritos enquanto Bandeira sofria com a Tuberculose (da qual conseguiu curar-se), doença gravíssima para a época.

E agora, o vídeo – que tem 8,6 milhões de visualizações – com a Adriana cantando “Vambora”:

ROBERTO CARLOS – “SUA ESTUPIDEZ”

Um dos maiores destaques do álbum lançado por Roberto Carlos em 1969, “Sua Estupidez” é uma das canções mais famosas do Rei e marca um período de transição do cantor, que passou do repertório juvenil da Jovem Guarda à fase adulta da música romântica.

“Sua Estupidez” não tem a parceria do Erasmo e mostra Roberto como um compositor genial, diferente do Roberto dos últimos tempos, que tem feito canções que não estão à altura do seu talento. A simplicidade dos versos de “Sua Estupidez” mexe com corações e sentimentos e, por isso, a canção é sempre atual, merecendo várias regravações de artistas como Gal Costa (três vezes, a última no Acústico de 1997), Alcione e, mais recentemente, de Daniela Mercury e Alice Caymmi.

Nas palavras do crítico André Pugliesi, “Sua Estupidez” é a canção de amor mais cruel do vasto repertório romântico brasileiro. “De uma sinceridade brutal, a letra é uma mistura de paixão e desespero, agressividade e amor puro. Sem rodeios, sem firulas, seca e apaixonada. Quem mais, além do Roberto, poderia ao mesmo tempo chamar uma mulher de estúpida (diretamente), idiota e burra (indiretamente) e ainda assim declarar que a ama?”.

Em uma entrevista, Roberto Carlos disse que a letra de “Sua Estupidez” era “um grito de alerta às pessoas que amam, mas vivem infelizes porque dão muito valor a detalhes insignificantes”.

Na mesma entrevista, Roberto revelou que a letra foi escrita em uma manhã em que ele acordou um pouco cansado de tudo, das coisas inúteis que passam a ser importantes para quem não entende nada do valor dos sentimentos. “É terrível conviver com gente que fica ‘emburrada’ por qualquer coisinha”, disse o Rei.

No livro “Roberto Carlos em Detalhes”, do jornalista e historiador Paulo Cesar de Araújo, o autor afirma que a “Sua Estupidez” era um recado direto para Cleonice Rossi Martinelli (a loira da foto acima), então esposa do cantor. “Os versos já anteviam o fim do casamento de Roberto e Nice, embora isso só viesse a ocorrer no final da década de 70”.

O livro “Roberto Carlos em Detalhes” tornou-se o caso mais emblemático da polêmica sobre as biografias não autorizadas. Lançado em 2006, o livro foi recolhido das livrarias depois que Roberto recorreu à Justiça, alegando que a obra era uma invasão de privacidade.

No vídeo, Roberto Carlos – que, neste ano, não fará o costumeiro especial de fim de ano, na Globo – interpreta “Sua Estupidez”, no Especial de 1995.

FLÁVIO VENTURINI, SÁ & GUARABYRA E 14 BIS – “ESPANHOLA”

Há alguns anos, uma rádio de São Paulo, que só tocava MPB, resolveu fazer uma pesquisa entre os seus ouvintes visando saber quais seriam, na opinião deles, as músicas brasileiras mais românticas. A música que recebeu mais indicações foi “A Noite do Meu Bem”, da Dolores Duran.

Eu não me lembro qual foi a classificação de “Espanhola” (Gutemberg Guarabyra e Flávio Venturini), mas ela foi uma das músicas de um CD gravado – e comercializado – pela emissora, com as dez músicas mais votadas pelos seus ouvintes.

“Espanhola” teve um curioso processo de criação, conforme relato do próprio Guarabyra. Ele conta que lá pelos idos de 1977 estava afogando as mágoas de uma paixão não correspondida, bebendo umas biritas num bar de São Paulo, onde morava naquela época. Quando resolveu ir pra casa – a pé – já era tarde da noite e fazia muito frio. 

E como bêbado não tem desconfiômetro, Guarabyra, para fugir do frio, bateu na porta da casa do amigo Flávio Venturini, que morava ali por perto. Depois de algumas horas na casa de Venturini, ele retomou o caminho de casa.

No dia seguinte, Venturini telefonou para Guarabyra, avisando que já tinha musicado a letra que o amigo havia feito na madrugada anterior. Para sua surpresa, Guarabyra perguntou: “que madrugada? que letra?”. Ou seja, ele não se lembrava de ter passado na casa de Venturini e muito menos de ter escrito a letra de uma música.

“Espanhola”, a música que o compositor não se lembrava de ter feito, foi lançada ainda em 1977, no disco “Pirão de Peixe com Pimenta”, de Sá & Guarabyra, o mesmo que continha outro sucesso, “Sobradinho”, baseado na profecia do beato Antônio Conselheiro.

No vídeo abaixo, Guarabyra, Sá, Flávio Venturini e 14 Bis interpretam “Espanhola”:

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