Categoria: Música

ROBERTO MENESCAL E AMIGOS JAPONESES – “O BARQUINHO”

Nesse domingo, 25, Roberto Menescal – um dos pais da bossa nova – estará completando 83 anos. Para comemorar a data, ele convidou alguns artistas japoneses para cantar “O Barquinho”, uma de suas mais famosas composições.

O prezado leitor e a estimada leitora poderão estar se perguntando: mas por que, afinal, Menescal deu preferência aos japas? Simples! O Japão é um dos países que mais valoriza a Bossa Nova, mais até do que o Brasil

E mais: em entrevista à GloboNews, no mesmo dia em que o rei Pelé fazia 80 anos e “O Barquinho” comemorava 60, Menescal disse que o Japão é a sua segunda pátria, onde ele já esteve mais de 30 vezes, para apresentações.

Composta em 1960, os acordes da música “O Barquinho” surgiram durante um passeio de barco que Menescal e alguns amigos – Ronaldo Bôscoli entre eles – fizeram pelo mar de Arraial do Cabo e Cabo Frio.

No meio do passeio, a embarcação pifou e, enquanto aguardava o resgate, Menescal, que sempre carregava seu violão, foi dedilhando a melodia que, dias mais tarde, ganhou letra do parceiro Bôscoli.

Há quem diga que a primeira gravação poderia ter sido de Nara Leão, à época a namorada de Bôscoli, um sujeito namorador que, tempos depois, viria a ser o primeiro marido de Elis Regina e pai de João Marcelo Bôscoli, o primeiro filho de Elis.

A primeira gravação, no entanto, não foi de Nara, mas de João Gilberto, com arranjo do maestro Tom Jobim. No mesmo ano, “O Barquinho” foi regravada por Pery Ribeiro e pela Maysa Matarazzo. Por sinal, a versão de Maysa fez mais sucesso que a de João Gilberto.

Na mesma entrevista concedida à GloboNews, Menescal disse que “O Barquinho” já foi regravada mais de 2.000 vezes. Confiram, no clipe abaixo, lançado na quinta-feira, 22, a versão dos japoneses cantando em português.  

KLEITON & KLEDIR E MPB4 – “PAZ E AMOR”

Nos tempos complicados que estamos vivendo, uma canção que fala de paz e amor. O texto é do crítico musical Mauro Ferreira, do G1:

Em 1980, egressos do grupo gaúcho Almôndegas, os irmãos Kleiton Ramil e Kledir Ramil entraram em cena como a dupla Kleiton & Kledir, conquistando instantaneamente o Brasil com som que evocava referências musicais do sul do país com modernidade pop.

Nessa viagem interestadual, a canção Vira virou – composição de autoria de Kleiton Ramil – rompeu as fronteiras do Brasil e fez escala em Portugal, sendo gravada pela dupla e pelo grupo MPB4 em discos editados simultaneamente. Até por isso, mas não somente por isso, o encontro de Kleiton & Kledir com o MPB4 na gravação da inédita canção Paz e amor já soaria especialmente relevante.

Só que, além de relevante, o singlePaz e amor é expressivo pela beleza dessa canção acalentadora. Composição de autoria de Kleiton Ramil e Kledir Ramil, a canção Paz e amor propaga ideais de esperança e fraternidade, reacendendo a crença no “velho sonho” de que fala a letra escrita sem pieguice e com fé no poder restaurador da humanidade.

Os versos da canção convidam à reflexão. “É… a gente errou e entrou na contramão / E desinventou a civilização / Ah… onde foi que a gente se perdeu? / Não sei dizer o que aconteceu / Só sei que dá pra achar a solução / Encontrar a luz no frio da escuridão / E acender a vela, o fogo da paixão”, propõem a dupla e o quarteto a seis vozes, entrelaçadas harmonicamente na gravação.

Bem valorizado na mixagem de Ricardo Pinto, o envolvente arranjo vocal de Kleiton Ramil potencializa a beleza da canção Paz e amor, disponível em single desde sexta-feira, 9 de outubro, em edição da gravadora Biscoito Fino.

E o fato é que tanto Aquiles, Dalmo Medeiros, Miltinho e Paulo Magaluti Pauleira quanto Kleiton Ramil e Kledir Ramil há tempos não apresentavam música inédita à altura dos históricos da dupla e do MPB4.

A força da canção Paz e amor está diretamente relacionada à turbulência do mundo atual – desarmonia enfatizada pela pandemia, mas já latente antes da disseminação do coronavírus – mas, como música, transcende esse momento ruim da humanidade.

LUCY ALVES E SINFÔNICA PETROBRAS – “FEIRA DE MANGAIO”

Eu já escrevi aqui neste modesto blog sobre a cantora, atriz e multi-instrumentista paraibana Lucyane Pereira Alves, ou simplesmente Lucy Alves.

Filha de família musical, ela formou com duas irmãs – Larissa e Lyzete -, o pai José Hilton e a mãe Maria José, o grupo Clã Brasil. Já nessa época, quando ela tinha 16 anos, a música “Feira de Mangaio” era uma das mais presentes no repertório do grupo.

“Feira de Mangaio” é um baião/forró composto pelo sergipano Severino Dias de Oliveira, conhecido como Sivuca, e por sua esposa, Glorinha Gadelha (foto). Sivuca foi o primeiro a gravá-la.

Em 1979, regravada por Clara Nunes no LP “Esperança”, essa música alcançou enorme sucesso. Trata-se de um clássico da música nordestina, que apresenta os produtos que são comercializados pelos mangaieiros nas feiras livres.

Segundo texto do Museu da Canção, “Feira de Mangaio” foi composta em New York, quando o casal Sivuca e Glorinha morava nos Estados Unidos. E mais: a letra da canção, de autoria de Glorinha, foi finalizada num McDonald’s da Sétima Avenida.

Foi a própria compositora quem contou, em entrevista: “Essa música começou a sair de dentro da minha alma no meio de uma aula de inglês. Aí, dentro do metrô, ela continuou na minha cabeça. E quando cheguei no McDonald’s, terminei a letra”.

Embora tenha gravado alguns discos, Glorinha – paraibana, como Lucy Alves – nunca se considerou uma cantora, preferindo ser reconhecida como compositora.

No vídeo, Lucy Alves, acompanhada pela Orquestra Sinfônica Petrobrás, interpreta “Feira de Mangaio”:

GRUPO MADALENA – “BRASIL PANDEIRO”

Hoje vou apresentar aos prezados leitores e às estimadas leitoras – caso não conheçam – um grupo musical nascido na Vila Madalena, um bairro charmoso e simpático de São Paulo, onde moravam todos os integrantes.

O som agradável dos rapazes e a voz bonita da cantora Lívia Bertini me foram indicados por um amigo. Quem acompanha o programa “Sr Brasil”, com o imprescindível Rolando Boldrin, na TV Cultura, já deve tê-los visto cantando.

O nome do quinteto – Grupo Madalena – é, naturalmente, uma homenagem ao bairro onde tudo começou, por volta de 2005. O grupo surgiu do desejo de seus integrantes de manter viva a poesia de grandes compositores brasileiros de samba, chorinho e bossa nova, alguns deles já meio que esquecidos.

O primeiro CD do grupo foi lançado em 2013, com clássicos da música brasileira e também com composições dos integrantes da banda. Já no segundo CD, lançado recentemente, todas as letras foram escritas por uma poetisa – Lúcia Tina – que trata a temática feminina de uma forma diferente.

Durante a pandemia, o Grupo Madalena fez uma interessante releitura de “Smile”, do Charles Chaplin, que pode ser vista aqui. E, se você viu o vídeo, deve ter reparado a inclusão, ao final, de um trecho de “O Bêbado e a Equilibrista”. Não foi por acaso que o Grupo Madalena fez isso: a famosa canção de Aldir Blanc e João Bosco, que se tornou o hino da Anistia, foi inspirada em Chaplin.

Por sinal, muita gente imagina que Chaplin é o único autor de “Smile”. Na verdade, ele é o autor apenas da melodia, que foi feita para o histórico filme “Moderns Times” (“Tempos Modernos”), de 1936. A música só ganhou uma letra 18 anos depois, em 1954, escrita pela dupla John Turner e Geoffrey Parsons.

No Brasil, “Smile” ganhou uma versão (“Sorri”) do compositor Carlos Alberto Ferreira Braga, o Braguinha, também conhecido – sabe-se lá por que – como João de Barro. Ele era especialista em fazer letras para grandes melodias. Em 1936, João de Barro fez os conhecidíssimos versos de “Carinhoso”, cuja melodia Pixinguinha tinha composto 20 anos antes, em 1916.

Voltando ao Grupo Madalena, vejam, no vídeo abaixo, a releitura do quinteto para o clássico “Brasil Pandeiro”, do Assis Valente:

CRISTOVÃO BASTOS E MÔNICA SALMASO – “TODO O SENTIMENTO”

Se tudo correr bem, nesse domingo o maestro, pianista e compositor Cristovão Bastos fará uma participação especial no Brasil & Cia, o programa que apresento aos domingos, na Regional FM, das 10 às 14 horas, com o melhor da MPB.

De acordo com o que foi combinado através de um amigo comum – o jalesense radicado em Ourinhos, Luiz Carlos Seixas – o maestro irá falar sobre o lançamento de seu novo álbum – o CD “Cristovão Bastos e Rogério Caetano” – em que ele e o violonista Rogério Caetano interpretam músicas compostas por eles e por outros parceiros.

Rogério não é o primeiro violonista com quem Cristovão grava um álbum instrumental. Aqui na minha estante, tenho entre meus preferidos o CD “Bons Encontros”, de 1992, no qual Cristovão e o violonista Marco Pereira – outro virtuose do violão – interpretam vários clássicos de Ary Barroso e Noel Rosa. O CD “Bons Encontros” rendeu a eles o Prêmio Sharp de Melhor Disco Instrumental daquele ano.

Em mais de trinta anos de carreira, o maestro já compôs com parceiros como Chico Buarque, Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro, Abel Silva, Paulinho da Viola e Elton Medeiros, entre outros. É dele as melodias de “Suave Veneno” e “Resposta ao Tempo”, com letras de Aldir Blanc, sucessos de Nana Caymmi.

Com Abel Silva, ele compôs, por exemplo, “Raios de Luz”, música lindíssima que a Simone já gravou duas vezes. De tão bonita, “Raios de Luz” ganhou uma versão em inglês – “Let’s start rigth now” – gravada simplesmente por Barbra Streisand, em disco de 1999.

De seu lado, Rogério Caetano, violinista e compositor brasiliense, é uma referência do violão de 7 cordas de aço. Já gravou com artistas como Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Beth Carvalho, Caetano Veloso, Monarco, D. Ivone Lara, Maria Bethania, Nana Caymmi, Ivan Lins, Yamandú Costa e Hamilton de Holanda, entre vários outros.

Cristovão e Rogério se conheceram na Escola de Música de Brasília, durante um curso de verão no qual ambos davam aulas, e acabaram tocando juntos pela primeira vez. “A gente teve uma empatia muito grande, tanto musical quanto pessoal. A partir disso, a gente sempre esteve próximo, em contato. Temos uma amizade grande, respeito e admiração mútua”, conta Rogério.

O CD que estão lançando tem 11 músicas, cinco delas compostas por Rogério e as outras seis por Cristóvão. Das seis músicas de Cristovão, duas foram compostas em parceria com Paulinho da Viola e uma terceira – “Choro Saudoso” – com Paulo César Pinheiro.

“Choro Saudoso” é uma homenagem ao violonista Raphael Rabello, que faleceu em abril de 1995, aos 32 anos. Raphael que era cunhado de Paulinho da Viola (casado com Lila Rabello) e de Paulo César Pinheiro (casado com Luciana Rabello), foi fonte de inspiração e a principal referência para Rogério Caetano.

A obra-prima de Cristovão Bastos é “Todo o Sentimento”, que ganhou uma das letras mais inspiradas de Chico Buarque. Eleita uma das dez melhores da obra de Chico, essa música já foi regravada por Elizeth Cardoso, Maria Betânia, Maria Creuza, Nana Caymmi, Elba Ramalho e Verônica Sabino, entre outras grandes cantoras.

Eu já postei “Todo o Sentimento” duas vezes aqui neste modesto blog, em versões da cantora Márcia Tauil e do grupo Mulheres de Hollanda, ambas acompanhadas pelo piano do maestro Cristovão Bastos. Estou postando uma terceira versão – e ainda há tantas a postar -, desta vez com a afinadíssima Mônica Salmaso, uma cantora pouco tocada em nossas emissoras de rádio, mas respeitada pelos grandes compositores e pelos melhores músicos do país.

Por sinal, uma das melhores coisas deste complicado ano de 2020, é a série de gravações feitas por Mônica, durante a pandemia, com convidados como Chico Buarque (veja aqui a felicidade do Chico cantando com ela), Zélia Duncan, João Bosco, Chico César, Hamilton de Hollanda, Yamandu Costa e o próprio Cristovão Bastos.

Abaixo, o vídeo gravado em junho, com Mônica e o maestro:

GILBERTO GIL, CAETANO VELOSO E IVETE SANGALO – “A NOVIDADE”

A desigualdade social é um tema que está presente na obra musical de vários compositores de diferentes gêneros e de épocas diversas.

Um dia desses, escrevi alguma coisa por aqui sobre a música “Deusa do Asfalto”, que o Nelson Gonçalves considerava sua canção mais importante, na qual um sujeito do morro se apaixona por uma moça do asfalto, ou seja, da elite que habitava o centro da cidade. Não deu certo!

Em “O Neguinho e a Senhorita” até que o amor dos dois personagens deu certo, não obstante a diferença social entre os pombinhos e o preconceito da mãe da moça.

Mas a desigualdade não está presente apenas em músicas que falam de amor. Ela está, principalmente, nas músicas de protesto. O compositor Ham Cheese, por exemplo, gritou seu inconformismo dizendo que “enquanto uns andam de limousine / outros andam de carroça / enquanto uns comem mais do que pode / outros morrem de fome”.

Na obra do baiano Gilberto Gil, o tema da desigualdade pode ser percebido em músicas como “Procissão”, “Roda”, “Nos Barracos da Cidade” e em “A Novidade”.

Esta última foi composta em parceria com os rapazes do Paralamas do Sucesso – Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone – autores da melodia. No livro “Todas as Letras”, Gil conta que estava em Florianópolis quando Herbert ligou para ele e lhe pediu para colocar letra na única música que faltava para fechar o disco “Selvagem”, que os Paralamas estavam terminando de gravar.

Herbert mandou pelo correio uma fita com a melodia que Gil, depois de ouvir três ou quatro vezes, começou a colocar a letra e, antes de uma hora, já estava pronta. “A letra veio como um tiro certeiro, absolutamente de chofre, inteira. Eu considero uma de minhas melhores letras, pela escolha e pela maneira de tratar o assunto”.

O refrão de “A Novidade” resume tudo: “ó, mundo tão desigual / tudo é tão desigual / ó, de um lado este carnaval / do outro a fome total…”. Segundo Gil, os versos podem levar as pessoas a pensar imediatamente no Brasil, mas ele está falando sobre o Terceiro Mundo em geral.

No vídeo, Gil, Caetano Veloso e Ivete Sangalo cantam “A Novidade”:

GERALDO VANDRÉ, 85 ANOS DE UM ENIGMA

Do jornalista Rogério Marques, em sua página no facebook:

Um grande artista brasileiro que muito admiro, Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, conhecido como Geraldo Vandré, está fazendo 85 anos neste 12 de setembro.

Vandré é autor de várias músicas belíssimas, como “Canção do breve amor” (com Alaíde Costa) e “Disparada” (com Théo de Barros), embora tenha ficado mais conhecido com “Pra não dizer que não falei das flores (Caminhando)”, sempre cantada nos protestos contra a ditadura militar.

Geraldo Vandré é também um dos grandes enigmas da nossa música e da política.

Depois de decretado o Ato 5, em dezembro de 1968, passou a ser caçado pela polícia, como vários artistas. Antes de partir para o exílio, fez uma outra bela canção em parceria com o pernambucano Geraldo Azevedo, “Canção da despedida”, censurada e só gravada alguns anos depois:

“Já vou embora

Mas sei que vou voltar

Amor, não chora

Se eu volto é pra ficar.”

Como previa a letra da canção, Vandré voltou pra ficar, mas desde então é um outro Vandré. Recluso, evita entrevistas ou falar de tempos passados. Parece uma outra pessoa, até no olhar distante.

Vandré retornou ao Brasil em 1973, no auge da repressão política, das prisões, torturas, dos “desaparecimentos” de opositores, quando o ditador era Emílio Garrastazu Médici.

Essa volta até hoje é um mistério. Dizem que envolveu negociações de sua família e dele próprio com a ditadura militar brasileira. O compositor nunca confirmou isso, nem disse ter sido torturado.

Mas como alguém poderia mudar assim, definitivamente, mesmo depois do fim da ditadura?

Vandré tornou-se admirador da Aeronáutica a tal ponto que quando vem ao Rio hospeda-se em um alojamento para militares da Força Aérea, em uma base militar junto ao Aeroporto Santos Dumont. E compôs, em homenagem à FAB, a música “Fabiana”.

É difícil entender tamanha mudança, mas nunca julguei Geraldo Vandré por isso, nunca mesmo. Ao contrário, sempre o admirei. Adoro as canções que ele fez até 1968, canções que fizeram parte da minha adolescência e juventude, que sinto prazer em ouvir até hoje.

Neste 12 de setembro desejo paz, saúde, muita felicidade a esse grande artista brasileiro pelos seus 85 anos.

Da música citada pelo jornalista – “Canção da Despedida” -, que a Elba Ramalho, tão paraibana quanto Vandré, canta lindamente, o trecho que mais gosto diz que:

“Um rei mal coroado,
Não queria
O amor em seu reinado
Pois sabia
Não ia ser amado.”

No vídeo, Vandré canta “Aroeira”, um de seus clássicos:

GAL COSTA E TIM MAIA – “UM DIA DE DOMINGO”

O compositor Michael Sullivan foi destaque na imprensa, nesta semana, por conta da posse do novo presidente do STF, o ministro Luiz Fux. Isso porque algum puxa-saco do ministro lembrou que, entre as inúmeras qualidades de Fux, estão a de guitarrista e compositor.

Disseram até que ele tem uma música composta em parceria com o Michael Sullivan. Eu nunca ouvi a tal música da dupla Sullivan-Fux, mas não duvido que ela exista. Afinal, o Michael Sullivan já compôs mais de 1.500 músicas, de sorte que é perfeitamente possível que ele tenha feito pelo menos uma em parceria com o ministro.

Nascido em 1950, no Recife, Ivanildo de Souza Lima escolheu seu nome artístico (Michael Sullivan) em uma lista telefônica. Isso não é inédito. A mãe do ator Herson Capri, por exemplo, escolheu o nome do filho em um almanaque do Banco do Brasil, que trazia o nome de todos os seus funcionários.

Ivanildo – ou Michael – iniciou sua carreira nos anos 60, como guitarrista e cantor de um conjunto – Os Selvagens – que tocava em bailes. Em 1970, ele já estava tocando no famoso conjunto Renato e Seus Blue Caps. Em 1979, entrou para o conjunto The Fevers.

A carreira de compositor deslanchou bem antes dele conhecer o ministro Fux. Foi nos anos 80, quando ele começou a compor com seu principal parceiro, o letrista Paulo Massadas. O primeiro sucesso da dupla foi “Me Dê Motivo”, lançada por Tim Maia em 1983. Logo depois, veio “Nem Morta”, com a Alcione.

Por sinal, essa música rendeu à dupla uma homenagem da comunidade gay, uma vez que o título da canção, “Nem Morta”, foi inspirado em um bordão muito utilizado, à época, por gays, lésbicas e assemelhados.

As músicas melosas de Sullivan e Massadas – “Deslizes” (Fagner), “Um Sonho a Dois” (Joanna e Roupa Nova), “Entre Nós” (Sandra de Sá), “Nem Um Toque” (Rosana), “Estranha Loucura” (Alcione), “Retratos e Canções” (Sandra de Sá), entre outras – fizeram tanto sucesso que, em 1987, eles estavam entre os maiores arrecadadores de direitos autorais, perdendo apenas para a dupla Roberto e Erasmo Carlos.

Uma das canções mais famosas da dupla é “Um Dia de Domingo”, lançada em 1985 no disco “Bem Bom”, de Gal Costa, em que ela canta a música ao lado de Tim Maia.

Gal e Tim gravaram suas participações separadamente. O primeiro a gravar foi Tim. Depois foi a vez de Gal, que, em princípio, não gostou muito da música, considerada um pouco brega por ela. Além disso, Gal teve problema com o tom (altura, como se diz popularmente) da música.

A música fez tanto sucesso que o Fantástico resolveu fazer um clipe, com Tim e Gal cantando juntos. No dia marcado para a gravação do clipe, Gal mandou avisar que não poderia gravar, pois seu vestido não ficara pronto.

A gravação foi remarcada para dois dias depois, mas aí Tim Maia resolveu dar o troco. No dia combinado, ele não apareceu e mandou avisar que o vestido dele não tinha ficado pronto, de sorte que o Fantástico não conseguiu reunir os dois.

O único registro global com Gal e Tim cantando juntos – ou fingindo cantar, já que se tratava de um play-back – é do programa “Cassino do Chacrinha”. O Velho Guerreiro utilizava-se de uma tática infalível para que Tim Maia – àquela altura famoso por faltar aos seus próprios shows – não faltasse aos seus programas. Na véspera do programa, Chacrinha sempre ligava para a mãe de Tim Maia e ela se incumbia de não deixar o filho “dar o bolo” no Velho Guerreiro.

Foi assim que Chacrinha conseguiu juntar Tim Maia e Gal Costa, na única vez em que eles aparecem juntos, cantando “Um Dia de Domingo”. Eis o vídeo:

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