Categoria: Música

TOQUINHO E GILBERTO GIL – “TARDE EM ITAPOÔ

Quando Toquinho e Vinícius de Moraes estiveram em Jales, para um show num dos nossos cinemas, em 1972, a música “Tarde em Itapoã” já fazia parte do repertório da dupla. Essa canção, uma das primeiras da parceria Toquinho/Vinícius, foi composta em 1971, mas, na verdade, começou a ser gestada dois anos antes.

Conta a lenda que numa noite de 1969, Maria Bethânia, acompanhada por uma amiga baiana, entrou em um bar do Rio de Janeiro e encontrou Vinícius de Moraes sentado à uma mesa, sozinho e entristecido, bebericando o seu uísque.

Bethânia tratou de apresentar a amiga e viu a fisionomia de Vinícius, encantado com a graciosidade da moça, se transformar rapidamente. Naquela mesma noite, Vinicius disse à amiga de Bethânia que iria se casar com ela e se mudar para a Bahia.

E como Vinícius era um homem de palavra, não demorou muito para se casar com a baiana Gessy e se mudar para Salvador, em uma casa próxima à praia de Itapoã. Inspirado pela beleza da praia, o poetinha compôs os versos de “Tarde em Itapoã”, com a intenção de entrega-los para Dorival Caymmi colocar a melodia.

Ao ver os versos, Toquinho, com quem Vinícius já tinha composto duas ou três músicas – a primeira foi “Como Dizia o Poeta” – pediu para fazer a melodia, mas o poeta ainda não confiava muito nele e reiterou que iria pedir para Caymmi musicar os versos.

Toquinho não se deu por vencido: pegou o papel com a letra de “Tarde em Itapoã”, sem consentimento do autor, e veio para São Paulo. Dois meses depois, ele mostrou a Vinícius a música já pronta. Depois de ouvir três ou quatro vezes, o poetinha aprovou a melodia composta por Toquinho.

“Foi aí que ganhei o poeta! É um poema todo lindo, tanto que eu não mexi uma vírgula dessa letra, não mudamos uma palavra. É difícil conservar uma letra inteira, perfeita como essa. É uma música completa. Do meu repertório com Vinícius, é uma das que mais gosto. Nunca deixei de cantá-la em nenhum show”, revelou Toquinho em entrevista.

No vídeo, que pode ser visto AQUI, Toquinho canta “Tarde em Itapoã” com Gilberto Gil.

Em Tempo: 26 anos mais nova que o poeta, Gessy Gesse (sim, esse era o nome dela!) foi a sétima esposa de Vinícius de Moraes, em um casamento que durou sete anos. Ela também esteve em Jales, em 1972. Depois da Gessy, Vinícius teve, oficialmente, outras duas esposas.

A última foi Gilda Matoso, que era 40 anos mais nova. Vinícius, premonitório, a apresentava aos amigos de um modo curioso: “Esta é Gilda, minha viúva”.  Não deu outra! Foi Gilda quem o encontrou morto, em uma banheira, na manhã de 09 de julho de 1980.

ZECA PAGODINHO E MARISA MONTE – “PRECISO ME ENCONTRAR”

Dia desses, durante o passeio diário com meus dois melhores amigos, o Teddy e a Sofia, encontrei o juiz da Vara Especial Cível e Criminal de Jales, Fernando Antonio de Lima, e, como sempre acontece quando nos encontramos, os assuntos predominantes foram o futebol e a música.

No futebol, não se pode dizer que ele escolheu bem o time para o qual torcer – o Santos F.C. – mas, quando se trata de música, o doutor Fernando demonstra conhecimento e extremo bom gosto. Quem já teve a oportunidade de ler algumas sentenças do ilustre santista, pôde observar que, além de grandes julgadores, ele costuma mencionar trechos de músicas ou de poesias em seus julgados.

Pois bem, na conversa que tivemos, ele me chamou a atenção para a linda interpretação de Zeca Pagodinho e Marisa Monte para um samba – “Preciso me Encontrar” – que muita gente pensa ser do Cartola, mas, na realidade, é de autoria de outro grande sambista, Antonio Candeia Filho, o portelense Candeia.

Negro, Candeia não teve vida fácil e acabou morrendo com apenas 43 anos. Em 1961, com 26 anos, ele entrou para a polícia e, como tinha pavio curto, arrumou muita confusão. Numa dessas confusões, ele esbofeteou uma prostituta que, diz-se, rogou-lhe uma praga.

No dia seguinte, em outra confusão, ele levou cinco tiros e um deles atingiu-lhe a medula óssea, paralisando para sempre suas pernas. Paralítico, ele aposentou-se aos 30 anos de idade e viveu seus últimos treze anos numa cadeira de rodas, compondo sambas.

Foi nesse período que ele compôs “Preciso me Encontrar”. E o dado curioso é que a música foi composta a pedido de um amigo de Candeia, o escritor e jornalista Juarez Barroso, crítico musical do Jornal do Brasil.

Barroso andava – como diria um daqueles personagens do Zé Ramalho, em “Estrangeirismo” – numa fase meio down, perdido mesmo na vida e, numa tarde de 1975, disse a Candeia que estava precisando se encontrar e pediu que o compositor fizesse um samba com esse tema.

Para muita gente, Candeia compôs uma música muito mais para compreender sua própria vida e suas tristezas, do que para atender o pedido do amigo jornalista que estava procurando um rumo pra sua vida. Candeia deu a música de presente para Cartola, que a gravou em 1976, daí a confusão sobre a autoria.

O fato é que o jornalista que inspirou a música não teve tempo de reencontrar um rumo pra sua existência ou mesmo para curtir a gravação de Cartola. Um mês antes do lançamento do disco, Barroso sofreu um aneurisma e morreu, aos 41 anos, o que tornou “Preciso me Encontrar” ainda mais emblemática. Dois anos depois, em 1978, foi a vez de Candeia partir para o andar de cima. 

Como já se disse, “Preciso Me Encontrar” foi gravado pela primeira vez pelo Cartola, em 1976. Em 1989, Marisa Monte regravou o samba em seu primeiro CD. E em 2013, ao comemorar 30 anos de carreira, Zeca Pagodinho convidou Marisa Monte para cantar o samba com ele.

É essa a interpretação citada pelo doutor Fernando. Além do brilho de Marisa, a regravação de Zeca tem a luxuosa participação de Yamandu Costa e Hamilton de Hollanda. Vale a pena conferir o vídeo aqui.

É HOJE! CENTRO MUSICAL DOMINUS APRESENTA EVENTO DE FINAL DE ANO NO YOUTUBE

Está marcado para esta quinta-feira, 17, a partir das 19:30 horas, o evento musical online “Som em Cena”, do Centro Musical Dominus. Segundo a diretora e professora do Dominus, Fernanda Burilli, trata-se do maior evento musical e cultural promovido por um escola de música da nossa cidade.

Fernanda explicou que todos os anos a escola realiza, sempre no mês de dezembro, um espetáculo de música para mais de 600 pessoas. Neste ano, por conta da pandemia do coronavírus, a escola teve que se reinventar para conseguir realizar o evento.

A diretora da escola está convidando a população de Jales e região para acompanhar o evento através do canal da Dominus Centro Musical, no YouTube. Segundo Fernanda, a noite promete grandes emoções, “com músicas incríveis interpretadas pelos nossos talentosos alunos”. 

Reiterando, o evento musical começa às 19:30 horas, no YouTube. Para que vocês tenham uma ideia da excelência do trabalho da Dominus, estou postando um vídeo com a versão cover da música “Girassol”, que a escola apresentou no Sarau do Ponto. O vídeo mereceu muitos comentários elogiosos. Veja aqui

DANIELA MERCURY – “APESAR DE VOCÊ”

Do jornalista e crítico musical Mauro Ferreira, em seu blog, no G1:

Em 1970, quando Chico Buarque voltou ao Brasil, vindo de exílio voluntário na Itália, o cantor e compositor carioca lançou samba explosivo, “Apesar de Você”, em disco logo recolhido das lojas quando os censores perceberam que, na letra, Chico mandava recado cifrado para o então presidente do Brasil, Emílio Garrastazu Médici.

Contudo, quando o samba foi censurado, “Apesar de Você” já estava na boca do povo e lá permaneceu, , mesmo tendo sido oficialmente liberado apenas em 1978.

Cinquenta anos depois do registro original de Chico Buarque, Daniela Mercury aposta em regravação de “Apesar de Você” em single lançado ontem, sexta-feira, 11 de dezembro.

Com capa que expõe obra da artista plástica Adriana Varejão, o single “Apesar de Você” reapresenta o samba de Chico Buarque com groove contemporâneo em arranjo assinado por Daniela com Juliano Valle, pianista e produtor musical que trabalha com a artista baiana.

A cantora decidiu lançar o single “Apesar de Você” com um manifesto de caráter político contra o atual governo do Brasil. Daniela Mercury – cabe ressaltar – tem se destacado nos últimos anos como ativista em defesa das liberdades individuais e sexuais.

Para ver o vídeo com o manifesto em que Daniela e outros artistas cantam “Apesar de Você”, basta clicar aqui. Agora, se o prezado leitor ou a estimada leitora está a fim de ouvir apenas o áudio com a interpretação de Daniela, então é melhor clicar aqui

ASSASSINATO DE JOHN LENNON COMPLETA 40 ANOS

Ringo Starr fez um pedido nesta terça-feira, em seu Twitter: “Terça-feira, 8 de dezembro de 1980, todos nós tivemos que dizer adeus a John, paz e amor John. Estou pedindo a todas as estações de rádio de música do mundo para tocar em algum momento hoje ‘Strawberry Fields Forever’. Paz e amor”.

A cançao “Strawberry Fields Forever” de John Lennon foi inspirada nas suas lembranças a brincar no jardim de Strawberry Field, um orfanato do Exército da Salvação próximo de onde ele morava. Ouça a música aqui.

O texto é do do DW:

No dia 8 de dezembro de 1980, o ex-beatle foi alvejado a tiros diante do edifício Dakota, em Nova York. Levado às pressas para um hospital, o músico inglês morreu ainda na ambulância.

Mark David Chapman já esperava há algumas horas diante do edifício Dakota, em frente ao Central Park, em Nova York, onde John Lennon e Yoko Ono moravam. Pouco antes das 23h do dia 8 de dezembro de 1980, Lennon chegou.

O ex-beatle, então com 40 anos, desceu de sua limousine e passou ao lado de Chapman para entrar no edifício. Foi quando o jovem de óculos puxou um revólver e disparou cinco tiros na direção de Lennon. Quatro o acertaram. Era o fim de um ídolo que determinara a vida e o modo de pensar e agir de toda uma geração.

A admiração em todo o mundo pelo compositor e cantor, entretanto, nunca cessou. Pelo contrário. Depois da morte, Lennon foi mitificado, diversas biografias foram escritas e cada detalhe da vida do ex-beatle foi tornada pública.

Estrela do rock, apóstolo da paz, cínico, paranoico, multimilionário: Lennon provocou e viveu com intensidade os seus 40 anos. 

O primeiro compacto dos Beatles, Love me do, foi lançado em 1962. Três anos depois, o fab four já era o até então maior fenômeno do universo pop no século 20. Eles venderam – e vendem até hoje – milhões de discos e se apresentaram diante de milhares de fãs em histeria coletiva. Isso na Europa, nos Estados Unidos, no Japão ou na Austrália.

Lennon era, ao lado de Paul McCartney, o autor das principais músicas dos Beatles, canções que sintetizaram o espírito dos anos 1960. Eles formaram uma das mais bem-sucedidas duplas de compositores da história da música.

A histeria em massa sem precedentes causada pelos Beatles incomodava Lennon, e ele começou a se isolar cada vez mais. O ex-estudante de Artes em Liverpool sonhava com os primeiros anos do grupo, com as primeiras apresentações em Hamburgo, com os primórdios do rock’n’ roll.

Em 1970, a banda se dissolveu num clima não muito amigável. Lennon estava casado pela segunda vez, com a artista japonesa de vanguarda Yoko Ono. Ambos se engajavam politicamente. O compositor começou a enfocar a paz e a tematizar sua infância triste, a morte prematura da mãe e a ausência do pai.

Em 1975, nasceu o filho Sean, e Lennon, já em Nova York, afastou-se do show business. Ele passou a ser visto empurrando um carrinho de bebê no Central Park, enquanto a esposa administrava a fortuna de 500 milhões de dólares.

Então, no final de 1980, Lennon voltou à cena musical, com o lançamento do disco Double Fantasy, gravado com Yoko. Para 1981, estava marcada uma turnê mundial. 

Chapman, nascido em maio de 1955 no Texas, foi condenado à prisão perpétua pelo crime e cumpre pena na prisão de Attica, no estado americano de Nova York. Onze vezes ele solicitou a liberdade condicional e todas as vezes ela foi negada. A última foi em agosto de 2020. De acordo com reportagens da mídia, Chapman teria lamentado o ato. “Eu não tenho desculpa. Foi para minha própria fama.”

ADRIANA CALCANHOTO – “DEVOLVA-ME”

Líder da banda Renato e seus Blue Caps, Renato Barros – falecido em julho deste ano, aos 76 anos – foi um dos maiores hitmakers (compositor de sucessos) da Jovem Guarda. Foi também o responsável por lançar a dupla Leno e Lilian, que fez um sucesso retumbante logo após o lançamento do primeiro disco, um compacto simples.

Segundo os estatísticos da área, foi o compacto que mais vendeu nos anos 60, ficando em primeiro lugar nas paradas por vários meses. Um compacto simples, os mais antigos sabem, tinha apenas duas músicas, uma de cada lado, mas, no caso de Leno e Lilian, foram duas músicas marcantes.

De um lado, o compacto trazia “Pobre Menina”, uma versão de Renato para a música “Hang on Sloopy”, da banda americana The McCoys (ouça versão original aqui). Do outro lado, trazia “Devolva-me”, uma composição do próprio Renato em parceria com Lilian, que, à época, era sua namorada.

Por sinal, nessa seara dos namoros da Jovem Guarda, convém esclarecer que Leno e Lilian nunca foram namorados. Eles eram, na verdade, amigos de infância, já que moravam desde crianças em um mesmo bairro do Rio de Janeiro. Depois de namorar Renato Barros, Lilian acabou se casando com Márcio Antonucci, um dos irmãos da dupla Os Vips, que também fez sucesso na Jovem Guarda.

“Pobre Menina” foi a primeira a fazer sucesso, mas o sucesso de “Devolva-me” tem sido muito mais duradouro, principalmente depois que uma regravação, ao vivo, de Adriana Calcanhoto foi incluída na trilha sonora de uma novela (Laços de Família, 2000).

A própria Calcanhoto já fez algumas releituras dessa música. A última delas, motivo deste post, foi lançada há cerca de três semanas. Nesta última versão, Adriana abandona o estilo banquinho e violão e dá uma nova – e bonita – roupagem a “Devolva-me”.

Antes, porém, de irmos ao vídeo, convém contar uma história que mostra o caráter e o desprendimento de Lilian Knapp, uma das autoras de “Devolva-me”. Há alguns anos, uma filha dela teve um filho que nasceu com uma doença grave, cujo tratamento só podia ser feito na Itália.

Lilian não titubeou: pegou todo o dinheiro que tinha – parte dele oriundo dos direitos autorais de “Devolva-me”, que, graças à regravação de Adriana, rendeu-lhe uma boa grana – e entregou à filha para o tratamento do neto.

Vamos, agora, ao vídeo com a nova releitura de Adriana Calcanhoto para “Devolva-me”, que pode ser visto aqui.

BENITO DI PAULA – “RETALHOS DE CETIM”

Eu ainda nem tinha começado a pensar no vídeo musical que postaria neste sábado, quando recebi uma ligação do professor Paulo César Turazza, o flamenguista Ziquinho, que, como metade da cidade sabe, é fã de carteirinha do Benito di Paula.

Tão fã que batizou seu único filho com o nome de Benito. Infelizmente, Benito, o filho do Ziquinho faleceu há alguns anos em um acidente de moto. Benito, o original, ficou sabendo do falecimento do Benito jalesense e, em uma ocasião em que esteve em Santa Fé do Sul, chorou abraçado ao fã Ziquinho.

Em 2019, Benito di Paula também viveu o drama de perder um filho, mas, voltando ao telefonema do Ziquinho, o objetivo da ligação foi pedir que, neste sábado, eu o “presenteasse” com um post sobre o Benito.

Afinal de contas, hoje é o aniversário do Ziquinho e, por uma dessas coincidências inexplicáveis, é também o aniversário do Benito di Paula. E como um pedido do Ziquinho é uma ordem, peço licença ao professor José Antonio de Carvalho e ao meu oráculo Marco Antonio Polleto, para falar sobre o ídolo do nosso amigo flamenguista.

Nascido Uday Velozzo em Nova Friburgo(RJ), aos 28 de novembro de 1941, Benito está completando 79 anos neste sábado. O pai, um funcionário da Estação Leopoldina, tocava vários instrumentos (piano, bandolim, piano, etc), de modo que Uday e seus 12 irmãos cresceram em um ambiente musical. Pelo menos três deles – Ney, Jota e Ana Carolina Velozzo – também são músicos e compositores.

Uday começou a carreira tocando piano e cantando em bares e boates do Rio de Janeiro, mas foi em São Paulo que ele se tornou conhecido e ganhou o nome artístico de Benito di Paula. O primeiro disco gravado, em 1969, foi um compacto simples, com apenas duas músicas. O segundo, de 1970, também foi um compacto simples que tinha, num dos lados, “Retalhos de Cetim”.

O sucesso do segundo compacto convenceu a gravadora Copacabana a contratar Benito. Mas ao planejar o primeiro LP, a gravadora entendeu que Benito – ainda não muito conhecido – deveria gravar músicas de compositores conhecidos. Das 12 músicas do disco, lançado em 1971, apenas três eram dele.

Uma das músicas era a engajada “Apesar de Você”, do Chico Buarque, e, por conta dela, o disco de Benito foi censurado pelo regime militar. Além de ter o disco recolhido, Benito ainda teve que comparecer a um quartel para explicar a gravação de “Apesar de Você” e, por pouco, não foi preso.

Essa frustração não o acovardou. Três anos depois, casualmente, Benito cruzou, numa rua de São Paulo, com Geraldo Vandré – um Vandré delirante, transformado num trapo humano. A impressão dolorosa deu-lhe coragem para enfrentar novo risco. Compôs e gravou “Tributo a Um Rei Esquecido” em homenagem ao colega.

A censura, mais uma vez, proibiu tanto a divulgação, como a venda da música, por causa da letra escrita por Benito: “Ele foi um rei / E, brincou com a sorte /Hoje ele é nada / E, retrata a morte /Ele passou por mim, mudo e entristecido /Eu quis gritar seu nome / Não pude /Ele olhou pra parede. / Disse coisas lindas/ Disse um poema / Para um poste / Me veio lágrimas/ O que foi que fizeram com ele? / Não sei / Só sei que esse trapo, esse homem, foi um rei”.

Não obstante esses percalços iniciais por conta de “Apesar de Você” e “Tributo a Um Rei Esquecido” Benito foi em frente e, em 1979, gravou “A Banda do Povo”, uma composição sua em homenagem a Chico Buarque, de quem continuava fã. Mas, o início de carreira não foi, realmente, fácil para ele.

Benito introduziu o piano no samba e propôs um romantismo maior no ritmo que, futuramente, ficaria conhecido como samba-joia. A novidade foi rejeitada, na época, e só ganhou adeptos depois do sucesso de “Retalhos de Cetim”.

Consta que a composição “Argumento” (“Tá legal/Eu aceito o argumento/Mas não altere o samba tanto assim…”), do Paulinho da Viola, teria sido uma crítica ao samba-joia de Benito di Paula. Paulinho nunca confirmou isso publicamente, mas, de qualquer forma, a amizade de ambos – eles eram compadres – ficou temporariamente estremecida.

Benito nunca se considerou pianista. E seu maior sucesso, “Retalhos de Cetim”, foi, curiosamente, composto ao violão, quando ele ainda tocava nos bares, e, por algum inexplicável motivo, não foi incluída no primeiro disco do compositor, o compacto de 1969.

Incluída no segundo compacto, a música caiu de imediato no gosto popular e projetou o nome de Benito não apenas aqui no Brasil, mas também no exterior, onde “Retalhos de Cetim” ganhou gravações do guitarrista americano Charlie Byrd e da orquestra do maestro Paul Mauriat.

Muita coisa se poderia escrever sobre Benito, mas vou parando por aqui, não sem antes desejar um feliz aniversário a ele e ao seu fã número zero, o Ziquinho.

E, por alguma mudança no Youtube, eu não estou conseguindo postar diretamente o vídeo em que o Benito interpreta “Retalhos de Cetim” sem o piano, mas com a gaita do Rildo Hora. Convido os prezados leitores e as estimadas leitoras a acessarem-no aqui.

ALCIONE – “ESTRANHA LOUCURA”

Com quase 50 anos de carreira, Alcione, a Marrom, é uma das mais consagradas sambistas do Brasil e uma intérprete reconhecida por sua voz grave e inconfundível. A cantora preferida do meu amigo Tinhoso está completando 73 anos neste sábado, dia 21.

Antes do aniversário, Alcione voltou aos palcos com seus sucessos em seu primeiro show aberto ao público, o que não acontecia desde o início da pandemia do coronavírus. O evento aconteceu na quinta, dia 19, no Bar Alcione, a Casa da Marrom, recém-inaugurado no Casa Shopping, na Barra da Tijuca.

Em homenagem à artista, o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), dono de um dos maiores bancos de dados da América Latina, fez um levantamento das músicas gravadas por ela mais tocadas nos últimos cinco anos.

Alcione tem 1.272 gravações cadastradas no banco de dados do Ecad. De todas, a mais tocada no Brasil nos últimos cinco anos foi “Meu ébano”, canção lançada há 15 anos e que fez parte do vigésimo sétimo álbum de estúdio da cantora, chamado “Uma Nova Paixão”. 

Alcione Dias Nazareth nasceu em São Luís, Maranhão no dia 21 de novembro de 1947. O nome de batismo foi ideia do pai, inspirado na personagem Alcione, a protagonista do romance espírita “Renúncia”, psicografado por Chico Xavier.

Foi o pai, que era maestro da banda da Polícia Militar do Maranhão e professor de música, quem ensinou Alcione a tocar alguns instrumentos de sopro, como trompete e clarinete.

Aos 18 anos de idade formou-se como professora primária na Escola de Curso Normal. Lecionou por dois anos, mas foi demitida aos 20 anos, por ensinar a seus alunos como se tocava trompete, querendo passar o aprendizado que recebeu, mas isso não agradou a direção da escola, que na época era muito rígida.

Depois disso, Alcione se mudou para o Rio de Janeiro, para tentar a carreira artística. As primeiras aparições foram no programa A Grande Chance, de Flávio Cavalcanti.

Alcione foi criada no catolicismo, mas converteu-se ao espiritismo há alguns anos, depois de ter sido curada de problemas nas cordas vocais. Com um tumor na laringe, a medicina a avisou de que só poderia cantar por mais um ano. Ela então se submeteu a uma operação espírita e, para surpresa dos médicos, se curou e pôde continuar cantando normalmente.

No vídeo, Alcione canta um de seus grandes sucessos – “Estranha Loucura” – que, segundo o levantamento do Ecad, está entre as cinco músicas de Alcione mais tocadas nos últimos cinco anos. Veja aqui.

“A RITA” – GILBERTO GIL

Lançado em 1966, no formato vinil, “Chico Buarque de Hollanda” foi o álbum de estreia de Chico. Com 12 músicas, entre elas “A Banda”, “Tem Mais Samba” e “Madalena Foi Pro Mar”, o álbum já mostrava que estávamos diante de um grande compositor, à época com apenas 22 anos.

Quarenta e sete anos depois, a partir de 2013, a capa daquele disco, que exibe dois chicos – o primeiro, alegre e sorridente, e o segundo com expressão triste e chateada – se transformou em inspiração para memes na internet, inclusive no exterior.

O próprio Chico aderiu à brincadeira, ao inaugurar seu perfil no Instagram, em julho de 2017, como se vê acima. Num dos memes mais famosos, Chico – certamente o compositor que mais entende a alma feminina – foi transformado em mulher, como se pode ver ao lado.

A história da capa? Chico queria, para a capa do disco, uma foto que transmitisse a ideia de que ele era um compositor sério. De seu lado, a gravadora RGE preferia que ele aparecesse sorrindo.

“Nós estávamos num estúdio fotográfico e eu queria tirar uma foto mais séria, eu queria me impor como um compositor sério e tal. E eles achavam que eu ficava melhor quando sorria. Então, tiramos várias fotos, sorrindo e sério. Quando vi a capa pronta, percebi que eles fizeram a vontade deles e a minha com essa capa absurda que virou meme”, contou o compositor em entrevista recente.

Capa e memes à parte, o disco de estreia de Chico incluía uma de suas canções mais conhecidas: “A Rita”. Curiosamente, naquela mesma época, os Beatles lançaram “Lovely Rita”, mas a Rita do Chico era muito melhor.

Segundo o jornalista e escritor Ruy Castro, a Rita da dupla Lennon/McCartney era uma solteirona insossa, enquanto a Rita do Chico era uma mulher de caráter, forte e decidida. “A Rita dos Beatles era uma pata-choca encalhada. A do Chico era safa, despachada e capaz de uma atitude”, resume Ruy.

Fiquemos, então, com “A Rita”, do Chico, interpretada por Gilberto Gil:

ZÉLIA DUNCAN – “JANELAS ABERTAS”

Pretendo ver um filme ainda neste sábado, com uma de minhas atrizes favoritas – a Rachel McAdams –  de modo que não vou escrever muito sobre “Janelas Abertas”, obra-prima de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.

Eu quase não não toco essa música lá no Brasil & Cia, o programa que apresento todos os domingos na Regional FM, mas eu a ouço muito aqui em casa. E com fone de ouvido, que é como se deve ouvir as boas canções. Agora, por exemplo, enquanto escrevo, estou ouvindo o Milton e sua versão definitiva da maravilhosa “Beatriz”

A bem da verdade, nós temos duas “Janelas Abertas”. A do Tom e do Vinícius e a do Caetano Veloso, que é a número 2. Nas duas canções os compositores deixaram para os versos finais a explicação do porquê – me perdoem se estiver errado; eu esqueci a regra dos porquês – eles optaram por deixar as janelas abertas.

Na canção de Tom e Vinícius, o objetivo de abrir as janelas era permitir “que o sol possa vir iluminar nosso amor”. Já o Caetano diz que “prefiro abrir as janelas prá que entrem todos os insetos”. Deve ser porque ele não conhece os pernilongos aqui de Jales.

“Janelas Abertas” (a do Tom e do Vinícius) já foi gravada por cantoras da estirpe de Áurea Martins, Gal Costa, Nana Caymmi e a Elizeth Cardoso, esta última divinamente acompanhada pelo mágico violão sete cordas do saudoso Raphael Rabello. Todas lindíssimas. E de quebra tem também uma versão muito bonita do Quarteto em Cy, que ouço frequentemente.

Eu escolhi, porém, a versão da companheira Zélia Duncan (ela detesta o Bozo), lançada no CD “Eu Me Transformo em Outras”, de 2004. É uma bonita versão mas não se pode dizer que esteja no mesmo nível das outras citadas. Zélia inclui em sua releitura, como música incidental, o clássico “El Dia Que Me Quieras”, do Carlos Gardel.

Confiram o vídeo da Zélia. O rapaz da gaita se chama Gabriel Grossi:  

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